Os brasileiros podem ganhar em breve uma nova opção para o tratamento de problemas cutâneos, de cicatrização e de pessoas que tiveram o corpo queimado.
O Centro de Nanotecnologia e Engenharia Tecidual da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, está desenvolvendo pele artificial tridimensional com alta tecnologia e estudando sua regulação com o uso de nanotecnologia, o uso de substâncias em moléculas 90 mil vezes menores do que o diâmetro de um fio de cabelo.
Foto: Chris Bertelli/iG São Paulo
“Existem produtos semelhantes utilizados para tratamento de queimados, por exemplo, mas são feitos de células mortas. Além de caros, têm um funcionamento diferente: são inseridos, criam uma barreira física, protegem a área da infecção, mas são rejeitados depois de um tempo”, afirma o coordenador do Centro Antonio Claudio Tedesco. A ideia do centro é que a pele produzida se incorpore ao corpo da pessoa, como se fosse um enxerto.
A técnica, trazida de Paris por Tedesco, desenvolve um modelo que contém três camadas: epiderme, derme e hipoderme, todas contidas na pele natural.
Feito da própria pele
A pele artificial é produzida partir de um pedaço do próprio paciente ou a partir de um banco de células, que são reproduzidas em laboratório e crescem em soluções específicas, dentro de placas de petri – placas redondas ou quadradas de vidro usadas para cultura de microorganismos. O tamanho máximo é de 10 x 10 cm, o que ainda inviabiliza a utilização em áreas extensas do corpo. O produto, por enquanto, só é produzido por demanda, já que são células vivas, com validade de 21 dias, que ainda não podem ser estocadas.
Os estudos começaram a fim de testar remédios nanoestruturados (em que está reduzido a partículas nanométricas).
“Percebi que se utilizasse luz e fármaco nessa pele, conseguiria acelerar o processo de cicatrização de um corte”, afirma.
A nova utilização desse processo é fazer com que a resposta do organismo à pele artificial implantada seja positiva, praticamente anulando o risco de rejeição. Essa regulagem, segundo o pesquisador, ainda é uma pesquisa exclusivamente brasileira, mas precisa passar pela fase clínica de testes.
Hoje, o Centro consegue produzir 100cm2 de pele em condições assépticas (sem contaminação de microorganismos) por mês para enviar a instituições onde o material possa ser testado em circunstâncias reais, ou seja, com humanos. “Já temos ambulatórios interessados. Eles estão organizando protocolos e entrando em contato com comitês de ética”, adianta Tedesco.
Porém, essa tecnologia ainda esbarra em algumas limitações como a pigmentação da pele, a presença de pelo e de glândulas no local. “Não acho que a curto prazo conseguiremos resolver essas questões, que são complexas”, afirma. O tato, no entanto, deve ser restaurado já que haverá tráfego de informação entre essa pele e o organismo.
Já considerando que os resultados da fase clínica sejam positivos, o pesquisador imagina o futuro. “Se posso fazer isso com a pele, posso pensar em fazer isso com órgãos transplantados: modular a resposta do organismo àquele transplante de modo a reduzir suas chances de rejeição”, acredita.
Autor: Último Segundo