A sustentabilidade da construção naval brasileira ainda depende de fatores como investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a formação de recursos humanos, atrelados às políticas para o setor. A observação foi feita pelo professor Floriano Pires, do Programa de Engenharia Oceânica da Coordenação de Pós-Graduação de Engenharia (Coppe) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Ele lembrou que a indústria naval no país se encontra em um momento de efervescência após a retomada das atividades, iniciada no ano 2000. Pires vai falar sobre o tema na 7ª Feira e Conferência da Indústria Naval e Offshore (Navalshore), que começa nesta quarta-feira (11) no Rio.
Segundo o especialista, ao contrário do mercado brasileiro, que está em processo de recuperação, o mercado naval internacional, que vinha aquecido nos últimos anos, com preços elevados, prazos longos de entrega, vive atualmente uma situação inversa. “Hoje, você tem preços em queda, muitos contratos sendo cancelados e os estaleiros tendendo a ficar vazios”. Pires analisou, contudo, que o cenário externo preocupante não afeta a indústria nacional, que está se baseando na demanda interna.
Diante da tendência de que os prazos continuem encurtando e os preços sejam reduzidos, ele sinalizou que a indústria naval nacional precisa, dentro de alguns anos, alcançar padrões de desempenho comparáveis aos internacionais. Caso contrário, “a comparação do desempenho nosso fica mais complicada”.
O professor defendeu um esforço de recuperação do desenvolvimento tecnológico e de formação de recursos humanos de forma integrada com as políticas de financiamento e de encomendas. “Hoje, a gente tem um aumento considerável de investimentos em pesquisa e desenvolvimento, mas está muito descolado do processo de desenvolvimento da indústria propriamente dita”. É preciso, segundo ele, que esses investimentos sejam articulados com as estratégias da indústria, abrangendo também o estímulo ao desenvolvimento de fornecedores, entre outros itens.
Outra questão diz respeito à localização dos estaleiros, lembrou Pires, preocupado com a dispersão dos novos investimentos em termos geográficos. “A excessiva dispersão geográfica dos estaleiros, com um em cada lugar, será fator de desvantagem competitiva para o Brasil no futuro”.
Na avaliação do professor, os polos já existentes deveriam ser fortalecidos, com maior volume de investimentos também em novos estaleiros, mas preservando as mesmas regiões.
Floriano Pires aprovou a reativação do antigo estaleiro Ishibrás, no Caju, zona portuária do Rio, que receberá o nome de Inhaúma, a partir de acordo firmado com a Petrobras, e a construção do estaleiro da Marinha em Itaguaí, para construção de submarinos nucleares. “É muito importante a recuperação do Ishibrás”, destacou. O estaleiro foi um dos mais bem estruturados do setor na década de 70, quando a indústria naval viveu seu apogeu.
Apesar da retomada, Pires admitiu que a indústria naval no Brasil ainda tem custos altos para a construção de navios, em comparação a concorrentes internacionais. Isso se deve, na sua opinião, ao desempenho da indústria e a questões como produtividade. “Não é uma questão que se resolva com ajustes legais”, apontou, referindo-se à carga tributária. Acrescentou que “é preciso melhorar o desempenho, formar gente, ganhar escala, continuidade. São questões industriais e esse processo demora alguns anos para ser superado”.
Autor: Agência Brasil