Consórcio ainda espera aval da Aneel para expandir Jirau

Debaixo de um calor escaldante e muita poeira, a diretoria do consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR), concessionário da obra e de operação da usina hidrelétrica de Jirau, instalada no rio Madeira, em Rondônia, se reuniu ontem no terreno da obra para comemorar o que chamaram de nova fase da hidrelétrica. Com o uso de um guindaste, foi instalada a primeira peça mecânica que dará suporte à montagem das turbinas de Jirau. Com direito a aplausos e cerimônia, foi acoplada a primeira “virola” da usina, um anel de aço de 14 toneladas e dez metros de diâmetro, que será usado para controlar a área de escape da turbina.

O início da chamada “fase eletromecânica” da construção de Jirau é mais um passo dado pela ESBR para encurtar o prazo de conclusão de uma obra que, ao lado da Usina Santo Antônio, sua vizinha a cerca de 100 quilômetros no mesmo rio, está revolucionando a vida e a estrutura de um Estado e uma capital que, claramente, não estavam preparados para lidar com o surto de demanda por mão de obra especializada e infraestrutura.

“Temos que admitir que não esperávamos por tudo isso. Não estávamos preparados, mas esse é um tipo de problema bom para se ter nas mãos”, diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado de Rondônia (Fiero), Dênis Roberto Baú. A declaração resume bem a situação atual nas ruas de Porto Velho. Falta mão de obra para tudo, faltam fornecedores, hotéis, escolas técnicas, enfim, toda a infraestrutura para suportar duas construções que, juntas, superam R$ 23 bilhões em investimentos diretos. Para empresários, os governos municipal e estadual têm sido lentos em aproveitar a oportunidade de crescimento.

Victor Paranhos, presidente do consórcio: “A burocracia do governo precisa se adequar ao ritmo exigido pelas obras” .

A pressão, que já é alta, só tende a aumentar. O início da operação está sendo adiantado em um ano, enquanto o prazo para ofertar toda a energia assegurada da usina, de 2,1 mil MW, será adiantado em 33 meses, segundo José Lúcio de Arruda Gomes, diretor-institucional da ESBR. O cronograma original previa início da geração total em setembro de 2015.

A comemoração da nova etapa da obra, no entanto, também foi cercada de expectativas em relação às metas de expansão de Jirau, um cronograma que não depende apenas de acesso à infraestrutura e mão de obra. Com orçamento total na casa dos R$ 10 bilhões, a usina tinha como projeto inicial instalar 44 turbinas de uma margem a outra do Madeira. Agora, a meta é instalar 50 peças. Com a mudança, a empresa teria mais seis turbinas, cada uma com 75 megawatts (MW), ampliando a capacidade de 3,3 mil MW para 3,75 mil MW. Em março, o consórcio entregou um pedido à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para liberar a ampliação da estrutura. A agência e o governo federal precisam aprovar a nova capacidade da usina e dar aval para a venda dessa energia. Até agora, porém, nada foi anunciado.

Para o presidente da ESBR, Victor Paranhos, não há razões para a demora na liberação, a não ser a “inércia regulatória”, diz. “A burocracia do governo precisa se adequar ao ritmo exigido pelas obras do PAC. Ninguém é contra a expansão da usina, só que a aprovação não sai.” O consórcio ESBR é formado pelas empresas GDF Suez Energy South America (50,1%), Chesf (20%), Eletrosul (20%), Funcef (5%) e Camargo Corrêa (4,9%).

A pressa dos empresários pela liberação do novo desenho da obra deve-se, em boa parte, aos acertos firmados pelo consórcio com a chinesa Dong Fang, empresa que fará 18 turbinas para a casa de força 2 de Jirau. O BNDES, segundo Paranhos, já sinalizou positivamente sobre a liberação de cerca de R$ 700 milhões para aquisição das turbinas adicionais. “Acredito que teremos uma resposta em breve. Nossa expectativa é que uma portaria seja publicada pela Aneel na semana que vem”, comenta ele.

Independentemente do plano de expansão, o consórcio quer ter sua primeira turbina instalada até março do ano que vem. A aceleração na obra, segundo o presidente do consórcio, não necessita do aval da Aneel. Recentemente, o consórcio Santo Antônio Energia, vizinho que constrói a usina homônima no rio Madeira, com orçamento de R$ 13,5 bilhões, pediu e obteve aval da Aneel para adiantar a obra.

Em Jirau, o plano da ESBR é que a energia gerada com as seis novas turbinas seja oferecida no próximo leilão do mercado cativo (regulado) organizado pela Aneel ou para o mercado livre. No leilão de concessão da usina, o consórcio venceu a licitação com a oferta de 70% da energia no mercado cativo pelo preço máximo de R$ 71,40 o megawatt/hora. Os 30% restantes serão vendidos no mercado livre. Até agora, porém, a ESBR não fechou contratos para oferta de energia no mercado livre. A razão, diz Paranhos, está atrelada à crise mundial, que reduziu a atividade interna e a demanda por energia.

Segundo Paranhos, a empresa deverá realizar seu primeiro leilão de energia livre em setembro, colocando à venda um pequeno lote para testar o mercado. A expectativa é de que a energia seja completamente contratada até o fim do ano que vem. “Estamos analisando as opções, o preço da energia no mercado regulado tende a subir”, comentou. “A possibilidade de racionamento de energia no Brasil é 0% até 2014, mas nós acreditamos que o mercado de energia vai crescer 8% neste ano, acima do projetado pelo Operador Nacional do Sistema (ONS).” A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) reviu sua previsão de crescimento do consumo de 7% para 7,7% em 2010.

Autor: Valor Econômico