A notícia que circulou nos jornais e revistas diários, semanários e nas revistas científicas foi sobre a manufatura, confecção ou construção de “vida artificial”. Levei um susto daqueles porque esta forma de chamar a atenção deu resultado. Não é bem verdade que vida artificial foi construída. Ainda bem, não? O que você acha?
O resultado deste trabalho tão amplamente divulgado pelos meios comuns e científicos de divulgação nesta semana é de fato revolucionário, de qualquer maneira.
É o homem trabalhando, manufaturando, construindo, confeccionando “coisas” úteis para o homem. Isto dá dinheiro, em um mundo capitalista, muito dinheiro, mais doenças,mais remédios sejam medicamentos, cirurgias, tecnologias, kits de análise.
Se você pensou que isto tem mais a ver com engenharia está mais do que certo. Engenharia do gene, engenharia da vida, clonagem, OGM, ou seja, organismos geneticamente modificados, transgênicos! Bioengenharia, engenharia genética é tudo que está vindo por ai! Ou melhor, se você anda prestando atenção a engenharia genética, a bioengenharia já percebeu que elas já chegaram até você. Já chegou à sua casa. Toda a soja que você come é transgênica. Você não come soja? Se na sua alimentação entra alimentos industrializados com proteínas existe uma chance quase que absoluta de você estar com transgênicos no seu organismo.
Importante é saber do que se trata para você ter opinião sobre o assunto.
Antes de comentar sobre a “construção da vida” acho que seria interessante lembrar o que é engenharia.
A definição de Engenharia no Wikipédia é algo como: “engenharia é a matéria, arte e profissão de um conhecimento técnico, científico e matemático adquirido e aplicado para desenhar e implementar materiais, estruturas, máquinas, dispositivos, sistemas e processos que com segurança alcançam um objetivo ou invenção desejado. Aplica-se praticamente A TUDO QUECONSTRUÍMOS”.
Conforme descrito na Wikipédia “a Engenharia biológica, engenharia biotecnológica ou bioengenharia, incluindo engenharia de sistemas biológicos é a aplicação de princípios de engenharia para propor desafios nos campos da biologia e medicina. A superposição com a Engenharia Biomédica pode não ser clara, porque muitas universidades usam os termos bioengenharia e engenharia biomédica de maneira intercambiável. Quer dizer que para muitos têm o mesmo significado. Mas em qualquer situação em que uma distinção é feita engenharia biomédica como biotecnologia tende a enfatizar o uso de substâncias biológicas – aplicando princípios de engenharia a biologia molecular, bioquímica, microbiologia, farmacologia, química de proteínas, citologia, imunologia, neurobiologia e neurociência. Nem a bioengenharia nem a engenharia biomédica estão totalmente contidas um no outro, de forma que há produtos não biológicos para necessidades médicas e produtos biológicos para necessidades não médicas.
GENOMA SINTETIZADO DÁ VIDA NOVA A UMA BACTÉRIA
Este título ou algo como “produção de vida sintética em laboratório” tem aparecido nas últimas notícias para divulgar os resultados do trabalho de Craig Venter e seu grupo realizado nos Estados Unidos. Qual o real significado desta frase? Como se produz vida sintética, assim do nada e de repente VIDA! A célula sintética criada pelos cientistas do grupo de Craig Venter é na verdade uma bactéria com uma prótese de genoma ou genoma protético segundo Mark Bedau, professor de filosofia, de Oregon.
O genoma é um conjunto de genes que compõe o material genético de uma célula. É toda a informação genética de uma espécie. Em uma bactéria representa cerca de 1% do peso seco. Apesar de parecer pouco, o genoma é fundamental porque contém toda a informação que define a estrutura e função da célula. Portanto um genoma não é pouca coisa!
Ao se tornar capaz de fazer, de sintetizar, de confeccionar um genoma, o homem deu outro salto sobre a engenharia genética que já virou uma engenharia genética mais tradicional. A prótese genômica contém toda a informação do genoma natural exceto por alguns marcadores que foram introduzidos. Imagine um marcador que produz um corante azul. Quando as células começarem a se multiplicarem bastante dá para saber a “olho nu” que as células que sofreram a transformação estão se multiplicando.
E como eu comentava, o azul representa as células, um bocado delas que nasceram com as informações genéticas do genoma sintetizado.
Estão aí as “células sintéticas. Prefiro dizer células que vieram de uma célula onde foi transplantado um genoma totalmente sintetizado. Parece mais claro e faz jus ao feito.
Em agosto de 2008 a revista simbiose mostrou o esquema baixo de um pesquisador refletindo sobre a célula sintética. Pelo esquema fica mais fácil compreender..
Dizia o pesquisador: se pesquisadores forem capazes de criar um genoma sintético, o processo de transplante poderia ser capaz de criar células sintéticas.
1. um DNA sintético é inserido em uma bactéria. 2. quando a célula divide,umas das células filha é uma célula sintética. 3. Em teoria, as células sintéticas poderiam ser desenhadas para ter propriedades úteis como a habilidade para convrter eficientemente CO2 em metano.
Parece que o próximo passo é amplificar este feito. Construir e testar zilhões de combinações usando biosensores para os metabólitos e seus intermediários de via. A um custo bem menor, com base nos feitos de Craig Venter e colaboradores será possível buscar produtos importantes como novas moléculas de fármacos, combustíveis, componentes químicos inovadores.
Um dos terrenos escorregadios que chega ou melhor que se escancara é o da obtenção de direito patentário pela invenção; afinal é uma invenção e útil. TEM DIREITO À PATENTE. Venter está se tornando um homem poderoso. Enquanto estas questões se alinham para metralhar as pretensões do pesquisador, parece distante o uso imediato das células sintéticas para fins nobres. De muito tempo para logo agora, é só um passo, para alguns ou para a CIÊNCIA.Enquanto isto a engenharia genética mais simples,mais tradicional avança firmemente realizando sonhos e criando pesadelos.
TERAPIAS BIOLÓGICAS QUE MEXEM COM NOSSO MAL ESTAR
Sempre digo que a descoberta do tratamento da diabetes é um verdadeiro milagre. Os que sobreviveram sabem disto. As pessoas sujeitas à baixa estatura,ou seja, os anões, tem hoje o recurso do hormônio de crescimento humano ou GH. Não fosse pela engenharia genética,hoje chamada já de tradicional, estaríamos aí, dissecando órgãos para obter esses hormônios. Hoje as bactérias transgênicas produzem a vontade tanto a insulina quanto o GH recombinantes.
Que progresso.
Entre estas descobertas e a nova era das terapias genéticas e celulares muita água já rolou, mas já ocorreu uma revolução.
Células troncos que recuperam indivíduos infartados.Verdadeiro conserto de genes com injeção de células.Pode? Já foi feito e é um sucesso. Vamos com calma. Logo vem uma resposta.
Dá para adiantar um pouco.
Veja no esquema abaixo tudo que será possível fazer ou será tentativo e tentador fazer. Verdadeiro UNIVERSO ARTIFICIAL, sintético, protético. Vida artificial é vida? Vida sintética morre? Coisas para refletir, para dizermos o que queremos e não o que querem por nós, pra nós ou prá eles, por eles sejam quem forem…
Autor: Dra. Julieta Ueta para o Ribeirão OnLine
