Cimenteira lança casa popular para ser vendida em lojas de varejo de construção

Entrega é feita em 60 dias ao preço de R$ 1 mil/m² sem o terreno

Imagine o candidato à casa própria entrar no depósito de materiais de construção do seu bairro e, em vez de fazer um pedido que inclui areia, blocos e tubos de PVC, sair de lá com a promessa de uma casa prontinha em 60 dias. A Holcim do Brasil aposta no negócio e começa agora a convencer o seu principal parceiro – o varejo. “Nós queremos integrar a enorme cadeia do cimento através do lojista”, explica Leonardo Francisco Giglio, supervisor de Desenvolvimento de Canais e Marketing da Holcim, que apresentou ontem (03/3), no campus da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o projeto “Minha Casa Holcim”.

Nos últimos oito anos a Faculdade de Arquitetura da UFRJ recebeu da Holcim sinal verde para aperfeiçoar o modelo “Casa 1.0”, apresentado em 2002 em parceria com a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland). Na época multiplicavam-se os protótipos para o promissor mercado de habitação de baixa renda. Ao contrário da tendência de construção de casas de paredes monolíticas de concreto, a Holcim aposta na continuidade do modelo em alvenaria estrutural.

O modelo apresentado ontem à imprensa no campus da UFRJ, em alvenaria estrutural, tem 46 m² com dois dormitórios, expansível para 64 m². Há ainda as opções Plus, de 47 m² expansível para 66 m² e o modelo Acessibilidade, com 68 m². 

Além de produzir um modelo racionalizado de construção à base de produtos de cimento, a equipe liderada pelos professores Osvaldo Luiz de Souza e Alice de Barros deveriam incluir itens de acabamento, melhorar o lauyout, promover um melhor conforto térmico e, principalmente, incorporar à construção itens de sustentabilidade -uma bandeira da Holcim no mundo todo ancorada no Prêmio Holcim Awards.

Construída sobre radier minimo, a casa tem 17 paredes e cobertura de duas águas com empenas desencontradas, para funcionar como shed de exaustão da ventilação cruzada. Acima das portas, as paredes ganharam alçapões para garantir melhor ventilação. As paredes de quartos e salas receberam contramarcos no alto para colocação posterior de aparelho de ar-condicionado e, assim, resolver a maior preocupação de quem constrói com alvenaria estrutural – a quebra de paredes. 

Os modelos são expansíveis a partir da sala, unindo-se ao novo ambiente sem necessidade de quebra – a porta torna-se parte do corredor de passagem. Diferente das casas de baixa renda oferecidas, a área de serviço é integrada e não do lado de fora.

Modelo de negócio na cadeia de cimento

Ao chegar ao estande da Holcim na rede varejista, o comprador poderá ver uma apresentação em 3D e escolher, além da cor do revestimento externo, combinações de diversas cores de pisos e outros pequenos itens customizáveis. A loja deve estar preparada para fornecer, em poucos fretes em contêineres, todo o pacote de materiais necessários à obra. À Holcim cabe o fornecimento do projeto e suporte técnico ao pequeno construtor/empreiteiro. As casas, como já ocorreu no projeto-piloto no Rio de Janeiro, são construídas por pequenas construtoras e empreiteiros locais ao custo médio de R$ 1 mil/m².

Para testar a receptividade do mercado, a casa será lançada primeiro num plano piloto em Cariacica (ES), em parceria com a revenda Colodetti, e em Friburgo (RJ), em parceria com a loja São Clemente. No Rio de Janeiro, a construção das primeiras casas será feita pela CM Carvalho Engenharia, autora do protótipo. Construtoras como a CM Carvalho devem juntar-se a lojistas para promover o projeto. Ao contrário dos grandes empreendimentos nesse segmento, os construtores trabalharão com poucas dezenas de unidades, colocando, assim, uma alternativa à autoconstrução e os mutirões, com a vantagem da assistência técnica e de projetos. Como qualquer outra construção, a compra do terreno, a legalização e aprovação do projeto cabem ao proprietário, restando à Holcim apenas o suporte. 

Pensando ainda nos custos de serviços, o usuário poderá prever tanto sistema de aquecimento a gás para água de banho, como chuveiro elétrico ou aquecedor solar (não incluído no preço). Para reduzir o aquecimento de paredes em virtude de alguma particularidade da implantação, os proprietários receberão uma muda arbustiva da espécie Canuto de Pita, capaz de sombrear grandes áreas sem que fique muito alta.

Segundo a Holcim, a cadeia de suprimentos na formação das parcerias será pautada pela sustentabilidade e pela capacitação dos fornecedores. As empresas serão fortemente pressionadas para adequação aos índices de sustentabilidade, responsabilidade social e desepenho técnico, na forma de uma parceira e transferência de conhecimentos.

A Holcim acredita ainda que muitos revendedores regionais, proprietários de loteamentos e terrenos, devem também participar como “incorporadores”. “Hoje, no Rio de Janeiro e muitas outras cidades, esse modelo já existe”, explica Giglio. “Muitos donos de lojas atuam como incorporadores e loteadores.”

O negócio começará pela região Sudeste – primeiro Rio de Janeiro e Espírito Santo, depois Minas e São Paulo – até chegar à outras regiões de atuação do Grupo, que em 2008 faturou no Brasil R$ 1,4 bilhão.

Foco na sustenbilidade
Apesar das pequenas dimensões, a casa foi pensada para ser mais sustentável do que os modelos semelhantes. Ao lado da pia, uma tubulação leva o oléo de cozinha descartado para um recipiente retornável na área de serviço; a lixeira instalada na área de serviço é compartimentada para separação e reciclagem de papeis, plásticos, metais e orgânicos. Para proporcionar economia de luz, pequenas faixas de blocos transparentes foram criadas sob as esquadrias e no alto de algumas paredes. A casa está preparada também para captação de água de chuva, dependendo apenas da instalação de uma caixa plástica junto à área de serviço. Caso receba um filtro próprio, a água poderá ter outros usos além de descarga, rega e limpeza externa. 
 

Autor: PineWeb