Um novo carro avança na linha de montagem, pronto para receber o painel de instrumentos. Em vez dos operários conduzirem uma operação de encaixe, a velocidade e a posição do painel são controladas com a mesma tecnologia que permite que o módulo de carga europeu ATV conecte-se automaticamente à Estação Espacial Internacional.
Isto não é ficção e nem projeto. É o que já está acontecendo na nova fábrica de automóveis da Volkswagen, recém-inaugurada em Palmela, Portugal.
De um veículo espacial para um veículo terrestre
As linhas de montagem da indústria automobilística percorreram um longo caminho desde o seu aparecimento em 1914, pelas mãos de Henry Ford, na sua fábrica de Michigan, nos Estados Unidos. Agora já possível recorrer à tecnologia espacial para controlar a linha de produção.
Em mais um exemplo da conversão de tecnologias desenvolvidas para o espaço em tecnologias para uso industrial, a Agência Espacial Europeia (ESA) criou as condições para permitir o uso da tecnologia de acoplagem de veículos espaciais para colocar com precisão o painel de instrumentos em um carro.
A tecnologia poderá ser utilizada também para a colocação de outros sistemas no carro.
Desenvolvido pela empresa emergente MDUSpace, no Centro de Incubação de Negócios da ESA, na Holanda, o sistema baseia-se nos conceitos de reconhecimento e rastreamento de objetos, os mesmos usados na acoplagem do Veículo de Transferência Automatizado (ATV) à Estação Espacial Internacional.
O equipamento foi instalado na unidade de Palmela, no final de 2009, e agora está começando a ser avaliado na prática.
Sincronização na linha de montagem
“As linhas de montagem da indústria automobilística usam uma esteira rolante que transporta os carros para serem montados, a uma velocidade controlada, mas não constante. O carro vai sendo montado por trabalhadores ou máquinas robotizadas, nas várias estações de montagem ao longo da esteira”, explica Miguel Brito, do departamento de desenvolvimento de negócios da MDUSpace.
Quando se trata de encaixar um módulo do carro – por exemplo, o painel de instrumentos – a montagem é feita por um manipulador, um posicionador de peças robótico, mas controlado manualmente.
À medida que os carros vão se deslocando na esteira, o manipulador desloca-se também, exatamente à mesma velocidade. Se for mais depressa ou mais devagar do que o carro pode riscá-lo ou provocar outro tipo de dano.
O método tradicional de resolver este problema envolve a colocação do manipulador no carro, durante a montagem, com o inconveniente de forçar a estrutura do veículo. Outra alternativa é sincronizar as velocidades das duas estruturas, o que em geral exige sistemas de controle caros e complicados.
Posições relativas
O novo sistema baseado na tecnologia de atracação espacial oferece uma solução inovadora para sincronizar o movimento do manipulador e do carro. Uma câmera digital e um software de reconhecimento de objetos garantem que o manipulador e o carro sigam exatamente à mesma velocidade, mantendo suas posições relativas.
Tudo funciona exatamente como quando o ATV se aproxima da ISS. Para sua aproximação final e acoplagem, o ATV usa uma câmara para detectar pulsos de luz refletidos por pontos específicos da Estação. Analisando os padrões refletidos, o software de controle determina com precisão a distância e o ângulo até o porto de acoplagem.
No processo de montagem de automóveis, o operador escolhe os pontos de referência no carro como um alvo do sistema de reconhecimento de objetos. A partir daí é calculada a distância do manipulador até o carro, retendo automaticamente as posições relativas.
Autor: Site Inovação Tecnológica