Hoje em dia, a maior competição do futebol europeu não é a Premier League, a Serie A ou La Liga. É a luta para conseguir jogadores baratos.
Enquanto o preço dos craques já estabelecidos vai às alturas, culminando no recorde de passe sendo quebrado duas vezes em três dias no meio do ano passado, aumenta a pressão sobre os principais clubes para encontrar e contratar jovens talentos antes que seu preço suba demais.
Os clubes expandiram seus esforços para encontrar jogadores promissores, aumentando as operações de caça a talentos nas tradicionais divisões de base da Europa mas também visitando recantos distantes do mundo do futebol na esperança de localizar atletas de potencial.
“O poder financeiro [das principais ligas europeias] aumenta muito a pressão para que os clubes contratem os melhores jogadores, não importa de onde”, diz Damien Comolli, diretor esportivo do francês Saint-Étienne.
Para os principais times europeus, encontrar o próximo Lionel Messi ou Cristiano Ronaldo ficou ainda mais fácil. Uma nova safra de sistemas sofisticados de caçar talentos na internet revolucionou a maneira como os times buscam as possíveis novas estrelas.
O Wolverhampton Wanderers se tornou mês passado o primeiro time da Premier League a contratar um novo sistema mundial que permitirá aos observadores da equipe vasculhar o mundo com um clique em busca de potenciais craques. O sistema Scout7Xeatre.tv, uma colaboração entre a consultoria britânica de recrutamento Scout7 e a firma alemã de soluções de mídia Xeatre.tv, foi lançado no ano passado e fornece um fluxo ininterrupto de vídeos e informações sobre jogadores do mundo inteiro.
O sistema já é usado pelo Borussia Dortmund, da Alemanha, pelo Olympique de Marselha, da França, e pelo espanhol Valencia, e Lee Jamison, diretor-gerente da Scout7, diz que mais dois times da liga inglesa estão implementando o sistema. Em seis meses, ele espera que metade dos principais times ingleses use seu sistema.
“Isso mudou completamente o cenário”, diz Jamison. “Em vez de ter capacidade para ver talvez 40 jogos por mês, isso permite ao time acompanhar 10 vezes mais partidas.”
O banco de dados da Scout7 tem mais de 110.000 jogadores de mais 160 ligas e 127 seleções, com 30 correspondentes atualizando constantemente o sistema. O banco tem dados estatísticos importantes como data de encerramento dos contratos, contato do representante e histórico de lesões de cada jogador, permitindo que os clubes usem a informação para localizar o tipo de jogador que estão procurando.
Com a tecnologia de vídeo da Xeatre, os times podem agora monitorar seus alvos por meio de transmissões televisivas do mundo inteiro, antes de fazer uma oferta pelo jogador.
“Com esse sistema, eles podem procurar o tipo de jogador de que precisam, selecionar de cinco a dez finalistas para monitorar e colocar todos os seus caçadores de talentos analisando o jogador sem sair de casa”, diz Jamison, cuja empresa tem escritórios na Alemanha, França e Argentina, assim como pesquisadores em tempo integral na Holanda, Polônia e Chile. “Isso permite que os times, que antes reagiam meio no instinto na hora de contratações, se tornem muito mais proativos na busca por jogadores.”
Embora o Scout7Xeatre seja o único banco de dados de craques que dá acesso a vídeos, vários sistemas também vêm ajudando a modernizar a maneira como os times descobrem seus craques.
O Panathinaikos, da Grécia, e o CSKA de Moscou são alguns dos assinantes da IM Scouting, uma consultoria de Israel que conta com um banco de dados de 40.000 jogadores do mundo inteiro. Já o Everton, da Premier League, assinou recentemente um contrato exclusivo com a produtora britânica de videogames Sports Interactive que permitirá ao clube usar seu banco de dados com mais de 370.000 jogadores e técnicos de 20.000 times em 50 países como uma ferramenta para buscar novas contratações.
Não é difícil entender por que um time prefere buscar jogadores num computador a pagar alguém para passar semanas e meses esmiuçando as ligas do Leste Europeu, América do Sul e África. Enquanto um chefe caçador de talentos na Premier League possa ganhar mais de 100.000 libras por ano (US$ 163.000), uma assinatura anual do Scout7Xeatre custa cerca de 50.000 libras.
Numa era em que as viagens estão cada vez mais caras, essas ferramentas também baixam os gastos da operação inteira de recrutamento, limitando o número de viagens infrutíferas ao exterior. “Às vezes você identifica um jogador, só que não está numa posição de contratá-lo. Essa tecnologia permite que você revise sua avaliação três meses depois sem ter que viajar para vê-lo jogar novamente”, diz Ray Clarke, que chefia a área de caça-talentos do inglês Portsmouth.
Autor: The Wall Street Journal