Especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) estão montando um projeto inédito de monitoramento de risco de deslizamentos na região metropolitana de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Recife e Salvador além de Campos do Jordão, Petrópolis e áreas da Serra do Mar.
A ideia é juntar a experiência dos dois centros de pesquisa – o Inpe nas previsões e modelos meteorológicos e o IPT na análise das situações de risco de deslizamento de encostas – e montar um sistema de alerta que previna tragédias como a de Angra dos Reis, onde morreram pelo menos 52 pessoas. “Estamos fazendo um protótipo que tem que ser testado e validado para depois ganhar escala”, diz o climatologista Carlos Nobre, pesquisador do Inpe.
Na semana que vem, técnicos dos dois institutos têm reunião com o vice-governador de São Paulo, Alberto Goldman, e com o secretário de Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, para apresentarem a proposta. “Ainda temos muitas perguntas sem resposta, estamos em uma fase embrionária”, registra o diretor-presidente do IPT, João Fernando Gomes de Oliveira.
Há dez anos o Inpe vem estudando a dinâmica dos deslizamentos de terra que ocorrem depois de intensas chuvas. Pesquisadores trabalham num projeto de R$ 1,5 milhão, financiado pela Fapesp, que instalou oito pluviométricos automáticos na Serra do Mar. Com eles é possível saber em tempo real o volume da chuva.
O IPT, na outra vertente, é o braço técnico do plano de prevenção de riscos que identificou áreas ameaçadas em 74 municípios de São Paulo e existe há 20 anos. Se chove muito em determinada área de risco, técnicos do IPT ou treinados pelo instituto vão ao local conferir os sinais que identificam a possibilidade de deslizamento. Conforme a situação, disparam o alarme para retirar a população.
Há três pontos importantes em discussão no projeto do Inpe-IPT. O primeiro trata de conseguir coletar mais dados para alimentar o sistema com o máximo de informações sobre áreas de risco (características do solo, vegetação, declividade, por exemplo) e a partir daí desenvolver modelos. O segundo é integrar as informações do Inpe sobre clima com a base do IPT. Isto significa desenvolver um software que cruze a informação de uma tempestade em determinada região com o comportamento daquele terreno submetido a certo volume de água. “Temos que sobrepor estes dois mapas para saber qual o risco de deslizamento naquela região”, explica Oliveira. O terceiro ponto é logístico. “Temos que definir como aquelas informações vão fluir, como vamos comunicá-las à população”, continua.
O orçamento inicial de US$ 2 milhões para o projeto não inclui o custo com levantamentos geotécnicos – que estimam, por exemplo, qual o volume de chuva que coloca em risco um lugar. “Para o Brasil ter um sistema de Primeiro Mundo é preciso ter levantamentos geotécnicos sistemáticos que são caros porque não podem ser feitos mecanicamente e nem de forma remota”, diz Nobre. “A única maneira é ir ao local e checar.” Segundo ele, para o Brasil ter um sistema de alerta de avalanche ou rolamento de rochas como o da Suíça ou Itália, seria preciso ter um sistema pluviométrico em tempo real em dezenas de encostas e monitoramento 24 horas.
O projeto agora em discussão é o início. A intenção é envolver institutos e centros de pesquisa como o Geo Rio e outros. “Temos que saber quais os desafios de modelagem, o tamanho do projeto, quanto vale, qual a área em que será aplicado”, cita Oliveira. “A ideia é melhorar a capacidade do poder público de tomar ações preventivas” diz o geólogo do IPT Agostinho Ogura. “As cidades não vão mudar sua cara rapidamente, as áreas de risco vão continuar lá.”
O site do Inpe informa que este verão terá chuvas acima da média histórica no Sul e Sudeste. A notícia, divulgada antes do início oficial da estação, em 21 de dezembro, faz parte da previsão climática para o primeiro trimestre feita pelos meteorologistas do Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Inpe, junto com centros estaduais e técnicos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Autor: Agência Fapesp