Uma pesquisa sobre a percepção pública da ciência e tecnologia, realizada com mais de duas mil pessoas em todo o País pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), em parceria com a Academia Brasileira de Ciências (ABC), revelou um baixíssimo conhecimento dos benefícios do Programa Espacial Brasileiro em diversos aspectos diretamente ligados ao cotidiano dos entrevistados.
À pergunta Que áreas de pesquisa você julga mais importantes para o País desenvolver nos próximos anos?, por exemplo, só 6% responderam Exploração espacial, que ficou em penúltimo lugar, atrás apenas da Nanotecnologia (3%).
A Agência Espacial Brasileira está empenhada em mudar esse quadro, sobretudo esclarecendo a população sobre a estreita ligação do Programa Espacial Brasileiro com estudos relacionados a temas como agricultura, Amazônia, meteorologia e mudanças climáticas, justificando a importância dos investimentos nessa área para o desenvolvimento e a economia do País.
Ir ao espaço para proteger o meio ambiente
“Ampliar a competência brasileira na engenharia de satélites, aumentando a competitividade da indústria espacial nacional, faz parte de uma política de produção de ciência e tecnologia que visa contribuir com a qualidade de vida e qualificar o País como potência ambiental”, afirma Gilberto Câmara, diretor do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCT)
Câmara está abordando o assunto em uma conferência na 61ª Reunião Anual da SBPC, o maior evento científico do país, que se realiza em Manaus até esta sexta-feira, dia 17.
“Nosso programa espacial deve refletir essa vocação ambiental. O Inpe tem se posicionado para ser o principal centro de pesquisa e desenvolvimento nacional nas áreas de espaço e ambiente. Para isso, a engenharia espacial constrói satélites para responder a diferentes desafios científicos que necessitam de dados de observação da Terra”, explica Câmara. Segundo ele, os satélites devem produzir dados sobre a Terra e também subsidiar o desenvolvimento de pesquisas para transformar esses dados em conhecimento, produtos e serviços para o Brasil e para o mundo.
Satélites de sensoriamento remoto
Os satélites de sensoriamento remoto são uma poderosa ferramenta para monitorar o território de países de extensão continental, como o Brasil. O Programa Cbers – Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres -, que completou 20 anos em 2008, é um grande sucesso junto à comunidade de especialistas de sensoriamento. Três modelos da família Cbers já foram lançados, o último deles em 2007. Até 2014 estão previstos os lançamentos de mais dois satélites.
Desde junho de 2004, quando as imagens Cbers ficaram disponíveis na internet, mais de meio milhão de imagens já foram distribuídas gratuitamente para cerca de 20 mil usuários de mais de duas mil instituições públicas e privadas, comprovando os benefícios econômicos e sociais da oferta gratuita de dados. Em média são registrados diariamente 750 downloads no Catálogo Cbers.
As imagens são usadas em campos como o controle do desmatamento e queimadas na Amazônia Legal, a expansão da agropecuária, o monitoramento de recursos hídricos, o crescimento urbano, a ocupação do solo, a educação e diversas outras aplicações. Também é fundamental para grandes projetos nacionais estratégicos, como o Projeto Prodes, que avalia o desflorestamento na Amazônia, o Sistema Deter, que mensura o desflorestamento em tempo real, e o monitoramento das áreas canavieiras do País (Canasat).
O Cbers fez do Brasil um dos maiores distribuidores de imagens de satélite do mundo. Com o programa o País passou a dominar a tecnologia para o fornecimento de dados de sensoriamento remoto. Até então, o Brasil dependia exclusivamente de imagens fornecidas por equipamentos estrangeiros. Os países da América do Sul, que estão na abrangência das antenas de recepção do Inpe em Cuiabá (MT), são os mais beneficiados por esta política. O download gratuito das imagens pode ser feito no site do Inpe (http://www.inpe.br).
Benefícios sociais da exploração espacial
Além do conhecimento tecnológico, o Programa Espacial Brasileiro também traz benefícios sociais. As aplicações das imagens obtidas a partir dos satélites Cbers são as mais variadas, desde mapas de queimadas e desflorestamento da região amazônica, até estudos na área de desenvolvimento urbano nas grandes capitais do País.
Entre os usuários destacam-se órgãos como Petrobras, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e Agência Nacional de Águas (ANA), além de organizações não-governamentais e empresas de geoprocessamento.
O IBGE, por exemplo, usa os dados para atualizar seus mapas em projetos de sistematização do solo, assim como o Incra emprega as imagens nos processos ligados à reforma agrária. As aplicações no setor agrícola e de monitoramento ambiental costumam causar maior impacto econômico e social devido às dimensões continentais do Brasil. Sem uma ferramenta acessível, vigiar um território tão extenso seria quase impossível.
Autor: Ministério da Ciência e Tecnologia