Coordenadora da primeira graduação em Nanotecnologia do Brasil, na UFRJ, a professora Renata Simão não hesita em dizer que “daqui a alguns anos, todo mundo vai conviver com a nanotecnologia de alguma forma”. O curso, parceria entre Escola Politécnica, Instituto de Física, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho e Instituto de Macromoléculas Professora Eloísa Mano, oferecerá 30 vagas no campus do Fundão e 20 no de Xerém, em 2010. Apesar do ineditismo, a relação candidato/vaga já é de 7,42 neste vestibular. Com graduação e mestrado em Física e doutorado em Engenharia Metalúrgica e de Materiais, todos pela UFRJ, Renata respondeu a algumas perguntas enviadas pelos leitores do site do GLOBO sobre a carreira de nanotecnólogo.
O que a nanotecnologia estuda? (Yasmin Borges)
RENATA SIMÃO: A nanotecnologia envolve o estudo de materiais numa escala muito pequena. São partículas compostas por, no máximo, algumas centenas de átomos, em que as propriedades dos materiais são diferentes do que em objetos em escalas maiores. Um mesmo material, como um polímero, uma fibra ou um metal, quando produzido num tamanho muito pequeno, pode ter suas propriedades aprimoradas, tornando-se mais resistente a impactos, mais leve e funcional. São objetos como biomateriais, para enxertos e implantes, que são mais biocompatíveis; materiais estruturais, mais flexíveis que o uso do aço nos carros, por exemplo; e para microeletrônica, como chips mais rápidos e eficientes.
Qual a vantagem do novo curso em relação aos já existentes na área de computação, tecnologia e engenharia? (Jean Paulo Campos)
RENATA: A formação básica interdisciplinar permite que o aluno atue com facilidade em diferentes áreas do conhecimento como biomateriais, cosméticos e microeletrônica. O curso é previsto com uma base forte em física, matemática, química e biologia, além de uma grande carga de trabalho dentro de laboratórios, unindo a parte da ciência básica com a tecnologia. Profissionais como físicos, químicos, biólogos e engenheiros já atuam em nanotecnologia. Mas acreditamos que vamos formar um profissional diferenciado pela visão mais ampla das áreas básicas do conhecimento. Uma pessoa com esse perfil não é formada pelos cursos tradicionais.
Quais as perspectivas para a área no mercado de trabalho? (Douglas França)
RENATA: A demanda por profissionais e produtos que empregam a nanotecnologia tem crescido exponencialmente. Eles atuam em qualquer indústria de tecnologia de ponta, seja na área de microeletrônica, biomateriais, cosméticos, transformação de ligas metálicas etc. Toda a indústria têxtil tem se interessado por nano, pois muitos processos são extremamente poluentes, e a nanotecnologia pode modificar isso. A parte de aditivos para tintas em nanoescala também pode aumentar a proteção contra desgaste.
Existem empresas no Brasil investindo em pesquisas no setor? (Pedro Ivo Vasconcellos)
RENATA: Todas as empresas de cosméticos têm trabalhado fortemente. A Petrobras tem uma rede de desenvolvimento de novas tecnologias e nano que coordena projetos inovadores nessa área. O grupo Gerdau também está bastante envolvido com isso. Há muitos programas governamentais de formação de pessoal qualificado, com bolsas e desenvolvimento de produtos em nano, em empresas já existentes, via Finep, CNPq e BNDES. Para o curso, já estamos fechando convênios de estágios para os alunos.
Existem medidas de controle da aplicação de nanotecnologia quanto aos riscos de novos produtos no Brasil? (Raimundo Oliveira)
RENATA: Ainda não, mas o curso é ministrado em parceria com o Inmetro, que tem sido requisitado para fazer uma parte de legislação, regulamentação e testes de materiais advindos da nanotecnologia.
A nanotecnologia é um caminho para cirurgias menos agressivas com melhor recuperação para os pacientes? (Wilson Costa)
RENATA: No campo biomédico, a nanotecnologia está relacionada à parte de DNA e ao poder de manipular a informação genética das pessoas no limite do conhecimento pela longevidade. Tratamentos câncer e outras doenças a partir de remédios com nanocápsulas, que permitem uma afinidade maior para determinados tipos de tecido e a liberação da droga com uma ação muito mais localizada. Isso pode transformar tratamentos dolorosos e difíceis em procedimentos mais simples.
Autor: O Globo