Queda das vigas de viaduto em obras do Rodoanel, em São Paulo, reacende discussão sobre a qualidade da engenharia

Engenheiros apontam má gestão e redução nos prazos e custos como causas de acidentes recorrentes nas construções brasileiras

O acidente na obra do viaduto no trecho sul do Rodoanel Mario Covas, em São Paulo, reacendeu a discussão sobre a qualidade da engenharia civil brasileira. Nos últimos anos, desastres em outras três obras de infraestrutura também marcaram, de forma negativa, o setor: a queda da ponte na BR 116 sobre a represa de Capivari, no Paraná, o desabamento nas obras da Estação Pinheiros do Metrô, em São Paulo; e o rompimento da Barragem de Algodões, no Piauí.

“O Poder Público contratante de empreendimentos de engenharia sempre foi o grande indutor de qualidade para o setor privado fornecedor de projetos e serviços nas décadas de 60, 70 e 80”, lembra o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente e ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas).

Nos anos 80, no entanto, a queda significativa no número de obras que marcou o período recessivo no setor provocou uma readequação nos departamentos de obras dos órgãos públicos. “A perda da competência instalada na administração pública, seja pela liquidação e desfibramento de seus órgãos de Administração Direta, seja pela privatização de suas empresas, resultou na quebra da virtuosa corrente indutora de qualidade que marcou o incrível desempenho da engenharia brasileira naquela época”, acredita Santos.

Recentemente, a pressão para a redução dos prazos de execução e de custos das obras também são apontados por profissionais do setor como motivos de falhas construtivas. “Quando aspectos financeiros e de cronograma passam a ter mais importância do que os aspectos técnicos ligados ao empreendimento, os riscos de acidentes aumentam substancialmente”, acredita Marcos Monteiro, presidente da Abece (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural).

Para Monteiro, a crise da engenharia brasileira é de gestão. “Planejamento adequado, projetos executivos bem elaborados e um gerenciamento que exija o cumprimento dos critérios estabelecidos são vitais para o sucesso de um empreendimento público ou privado”, defende.

Já na opinião do presidente do Ibape (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia), Osório Accioly Gatto, o aumento das contratação de obras tem uma relação com a proporção de acidentes. “A questão do acidente é estatístico, quanto mais obras, maiores são as suas possibilidades”, disse Gatto. No entanto, o presidente do Ibape não acredita que os acidentes devem ser banalizados. “A minimização dos acidentes também não é o melhor caminho. Em boa parte dos casos, se as obras tivessem passado por inspeções regulares e até mesmo manutenções, as ocorrências não teriam acontecido”, finaliza.

Autor: PINIWeb