O Crea-SP (Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo) vai ouvir os engenheiros envolvidos na execução e fiscalização da obra do Rodoanel que sofreu um acidente na sexta-feira deixando três pessoas feridas na rodovia Régis Bittencourt.
O Crea-SP ainda não definiu a lista de técnicos que prestarão depoimento, mas devem ser convocados os engenheiros das empreiteiras responsáveis pela obra -OAS, Mendes Jr. e Carioca Engenharia- e da Dersa, empresa do governo do Estado que gerencia e fiscaliza a construção do Rodoanel.
“Vamos fazer um levantamento de todos aqueles que participaram da obra, abrir um processo e apurar quem são os profissionais responsáveis”, disse Antônio Carlos Tosetto, coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea-SP. O órgão é responsável pela fiscalização da atividade profissional e apura se houve erro técnico de algum engenheiro no acidente.
A convocação será feita a partir dos resultados dos laudos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e do IC (Instituto de Criminalística) ou de parecer próprio do Crea. “Ainda não foi definido, mas acredito que vamos constituir uma comissão e fazer nosso próprio laudo”, afirma Tosetto.
Em dois casos semelhantes, a queda de parte do viaduto do Expresso Tiradentes (março de 2008) e o acidente nas obras da linha 4 do metrô, quando a abertura de uma cratera deixou sete mortos (janeiro de 2007), o Crea-SP não fez laudos próprios. “Fazemos quando não nos convencemos dos resultados apontados nos pareceres de outros órgãos.”
Para ele, as vigas já apresentavam problemas antes da instalação. “Acho que pelo menos uma viga já devia estar comprometida, mesmo que fosse imperceptível. Pode ter sido na montagem ou talvez até tenha levado um tombo.”
Fiscalização
Segundo o diretor de engenharia da Dersa, Paulo Vieira de Souza, 400 engenheiros da empresa estatal trabalham no Rodoanel. Ele admitiu, em entrevista anteontem, que pode ter havido falha na fiscalização.
“Vamos supor que houve um problema com a cura [tempo de secagem] da viga, ou mesmo tendo o tempo de secagem, a resistência pode, em algum ponto que passou na fiscalização despercebido, ter uma resistência menor”, disse.
O secretário de Transportes, Mauro Arce, afirmou que a fiscalização não será modificada. “Ela vai continuar como está, porque é adequada.”
O diretor de engenharia foi além: “O departamento de fiscalização que faz a gestão do Rodoanel sul, da marginal Tietê, da Jacu-Pessego, tem competência para isso”.
Ontem o IPT começou o levantamento de dados para a realização do laudo que apontará as causas do acidente. O órgão, ligado à USP, foi contratado pela Dersa para fazer a investigação. O IC já começou o levantamento de dados no sábado. Os dois órgãos não quiseram se manifestar ontem.
A Dersa suspendeu as obras por 15 dias, a partir do sábado, para que sejam feitas as investigações. Nesse prazo, o órgão espera que o laudo do IPT já tenha sido concluído. Porém, mesmo que as causas ainda não tenham sido definidas até lá, as obras devem ser retomadas.
Autor: Folha de S.Paulo