Tão logo os governos começaram a se preocupar com as emissões de gases de efeito estufa (GEE) e as mudanças climáticas globais, o etanol de cana-de-açúcar se mostrou um bom candidato para substituir parcialmente a gasolina e outros derivados do petróleo. Entretanto, antes de se pensar em exportar esse combustível em larga escala, diversas dúvidas foram levantadas no cenário internacional a respeito da real sustentabilidade do etanol brasileiro.
Na tentativa de responder a tais questionamentos, o Centro de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE) apresentou nos dias 11 e 12 seu programa de pesquisa em sustentabilidade no 2nd Workshop on the Impact of New Technologies on the Sustainability of the Sugarcane/Bioethanol Production Cycle.
No evento, realizado em Campinas-SP, foi concluído que é preciso produzir dados experimentais que abasteçam os modelos matemáticos existentes e gerem números que representem a realidade de forma adequada.
Segundo o diretor do Programa de Sustentabilidade do CTBE, Arnaldo Walter, uma das principais dificuldades para o atingimento dessa meta reside na avaliação do quanto a mudança no uso da terra influencia no balanço final de emissões de GEE da cadeia produtiva do bioetanol.
“Quando uma cultura agrícola como a cana-de-açúcar substitui uma área de pastagem ou de floresta nativa há uma mudança no estoque de carbono existente naquela região. Em alguns casos, o carbono que residia na árvore, por exemplo, transforma-se em dióxido de carbono, elevando as emissões de GEE”, explicou.
Para que o uso do etanol em escala global seja incentivado, Walter afirma que é preciso realizar estudos que demonstrem quais são as reais alterações no estoque de carbono no solo ocorridas quando a cana-de-açúcar ocupa diferentes tipos de solos em regiões diversas.
Atualmente, esses dados podem ser produzidos com o auxílio de imagens geradas por satélite, semelhantes às que mostram o desmatamento na floresta amazônica.
Uma das palestras realizadas no workshop do CTBE mostrou como funciona o sistema Canasat do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que capta imagens sobre a expansão da cana na região Centro-Sul do Brasil desde 2005 (no Estado de São Paulo desde 2003).
Thelma Krug, pesquisadora do Inpe, destacou que técnicas de sensoriamento remoto conseguem identificar com boa confiabilidade a localização das mudanças no uso da terra, além de entender que tipo de solo e bioma foi convertido em canavial.
“O Canasat também contribui para a formulação de políticas públicas nessa área, pois permite a identificação das regiões em que a cana é colhida crua ou queimada”, disse.
Dados confiáveis
Uma vez que se conheça qual a real alteração no nível de emissões causada pela expansão da cultura agrícola da cana-açúcar, é preciso equalizar as metodologias usadas em diferentes países para que seja possível comparar o volume de emissões de biocombustíveis diversos.
Essa foi a conclusão a que cientistas brasileiros, norte-americanos e argentinos chegaram em workshop realizado em agosto pelo Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), disse Marcos Buckeridge, membro da coordenação do programa e diretor científico do CTBE.
“Não podemos criar modelos de emissões de gases de efeito estufa usando apenas os dados que já temos disponíveis. É preciso utilizar ciência sofisticada para gerar dados confiáveis aos modelos para aí sentarmos novamente com os norte-americanos e equalizar nossos sistemas de medições”, afirmou.
Além do projeto sobre emissões de gases de efeito estufa, o Programa em Sustentabilidade do CTBE desenvolverá atividades na área de uso de recursos hídricos, balanço energético de biocombustíveis e impactos socioeconômicos causados pela produção de etanol.
Autor: Agência FAPESP