O crescimento da economia deu novo fôlego aos cursos
de engenharia. A maioria dos que se formam hoje já sai
da faculdade trabalhando ou com promessa de emprego
A engenharia é assim: vai bem quando o país vai bem. As associações de classe da profissão estimam que seus filiados estejam envolvidos na produção de mais da metade da riqueza nacional. Como a economia brasileira cresce consistentemente desde o lançamento do Plano Real, a carreira segue uma trajetória semelhante. Tanto que a engenharia voltou à segunda posição entre as profissões mais procuradas do Brasil. Apenas nos últimos cinco anos, dobrou o número de engenheiros que se formam anualmente. As 1 200 faculdades que oferecem formação na área receberam, no ano passado, 300 000 novos alunos e graduaram 30 000 profissionais. A grande maioria deles já chegou ao mercado empregada ou com promessa de contratação. E a grande maioria delas também. No que antes era considerado um reduto masculino, as mulheres vêm ganhando espaço. Hoje, elas compõem 14% dos engenheiros em atividade no país. Nos anos 70, eram menos de 4%. Em alguns ramos, a demanda por engenheiros é tamanha que supera a atual capacidade das universidades de graduá-los. Sobram vagas, por exemplo, para formados nos setores naval e de minas. “Se o Brasil voltar a crescer 5% ao ano, a oferta de trabalho para engenheiros triplicará”, afirma Marcos Túlio de Melo, presidente do Conselho Federal de Engenharia.
Nos anos 80, o equipamento obrigatório de um engenheiro era composto de calculadora científica, prancheta e régua-tê, que já foi o símbolo da profissão e hoje poucos estudantes sabem como usar. Os computadores aposentaram tais aparatos, com vantagens evidentes. “Os softwares atuais reduziram a um quinto o tempo que eu levava para concluir um projeto”, diz Catão Ribeiro, de 57 anos, que assina a Ponte Estaiada Octavio Frias de Oliveira, o novo cartão-postal de São Paulo. O progresso tecnológico aumentou a necessidade de o engenheiro manter-se atualizado. Em alguns campos, os conhecimentos se tornam obsoletos em um prazo não superior a seis anos. Isso quer dizer que, ao longo da vida útil, um profissional precisará rever o que aprendeu na faculdade de seis a sete vezes. Há outros requisitos. Como na maioria das profissões, passou-se a exigir que os engenheiros sejam fluentes em línguas estrangeiras, aspecto fundamental para os que trabalham em multinacionais. Hoje, um modelo de carro é desenvolvido simultaneamente por unidades de uma montadora em diversos países. Só participa dessas equipes quem domina, ao menos, o inglês. O mercado também dá preferência a quem se comunica com desenvoltura e tem habilidade para manter amplas teias de relacionamento – sinais que denotam um profissional com capacidade de liderança.
Quem ingressa em engenharia tem, ainda, a possibilidade de enveredar por outros caminhos. Na década de 80 e na primeira metade da de 90, por exemplo, muitos engenheiros foram absorvidos pelo mercado financeiro. Deram-se bem porque sua formação privilegia a objetividade, a lógica, a visão estratégica e a perseguição de resultados. Essas características fazem com que não só bancos mas também empresas de setores não financeiros recrutem executivos na engenharia. Por todos os motivos elencados, os engenheiros estão entre os profissionais mais bem pagos e cobiçados do país (em geral, trocam de emprego três vezes durante a carreira, quase sempre em curva ascendente). Quem chega a cargos de chefia pode contar com remunerações que variam de 15 000 a 30 000 reais. Engenharia foi o segundo curso universitário aberto no Brasil, três anos depois do de medicina. O pioneiro data de 1811 e formava profissionais para o Exército. Hoje, há cursos para formar engenheiros em 92 especializações – e emprego para quase todos eles.
Aposta certa no setor privado
Em 1984, a economia brasileira estava estagnada. O setor público parou de encomendar obras e a construtora brasiliense Villela e Carvalho foi obrigada a fechar as portas. Quatro anos depois, Eduardo Villela, filho de um dos seus fundadores, a ressuscitou com foco no setor privado. A Villela e Carvalho decolou construindo imóveis para a população de maior renda per capita do país, a de Brasília. Com seis projetos em andamento, estima um faturamento de 100 milhões de reais neste ano, e Eduardo Villela, hoje com 47 anos, orgulha-se de não participar de nenhuma licitação há quinze anos.
Nos estaleiros da Coreia
Em maio, o engenheiro naval Frederico Schultz, de 27 anos, deixou São Paulo rumo à Coreia do Sul. Morará na cidade de Geoje por dois anos, enquanto acompanha a construção de três navios encomendados pelo grupo brasileiro Schahin ao estaleiro Samsung. Schultz só se formou há dez meses. Como todos os seus colegas, saiu da faculdade empregado. Trabalhava no Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, onde tinha estagiado e para o qual havia sido aprovado em concurso. Lá, o Schahin o seduziu com um salário de 10 000 reais por mês.
Uma vida nômade
O baiano Daniel Villar, de 36 anos, começou sua carreira construindo estradas na Floresta Amazônica, na fronteira entre a Colômbia e o Equador. “A cada 28 dias isolado na selva, eu descansava sete na cidade”, diz. Passou dois anos assim. Depois, morou outros oito anos no Peru. Um mestrado em finanças foi passaporte para seu cargo atual. Hoje, ele comanda as operações da Odebrecht na Líbia. “Não teria chegado aqui nem ganharia meu salário atual se tivesse optado pelo conforto dos grandes centros.” O cargo alto não é a única vantagem de seu novo emprego. A Odebrecht paga um adicional de 50% a quem trabalha em locais remotos.
Autor: Veja