Em meio à empolgação com o biocombustível de algas e os carros elétricos, algumas empresas novatas esperam usar tecnologias “verdes” para reinventar produtos mais prosaicos, como cimento e tijolos.
A americana CalStar Products Inc. planeja abrir no mês que vem uma fábrica para produzir tijolos de cinza de carvão, um subproduto da geração de eletricidade. Ela alega que seus tijolos usam 85% menos energia do que o tradicional processo de produção de tijolos de barro, com uma redução equivalente nas emissões de dióxido de carbono.
Sediada em Newark, na Califórnia, a empresa é uma de várias que estão correndo para conquistar uma fatia do mercado de construção “verde”, que tem previsão de crescer para algo entre US$ 96 bilhões e US$ 140 bilhões em 2013, ante US$ 45 bilhões no ano passado, incluindo materiais, tecnologia e mão-de-obra, segundo a firma de pesquisa McGraw-Hill Construction.
Hoje essas empresas enfrentam um mercado difícil. Os investimentos em construção civil desmoronaram, resultado da queda no valor dos imóveis residenciais e comerciais. Mas “as obras que estão acontecendo têm mais probabilidade de ser verdes”, diz Michele Russo, diretora de pesquisa da McGraw-Hill Construction.
Alguns investidores estão seguindo a mesma lógica. Investidores de capital de risco já colocaram US$ 465 milhões no segmento americano de construção verde nos primeiros nove meses de 2009, ante US$ 284 milhões no mesmo período um ano antes, segundo a Cleantech Group, uma firma que acompanha esse mercado.
“Embora o resto da indústria tenha recuado (…), a construção verde cresceu”, diz Paul Holland, sócio da firma de capital de risco Foundation Capital, de Menlo Park, na Califórnia, que investiu na CalStar.
Entre outras empresas iniciantes que desenvolvem materiais de construção ecológicos estão a Calera Corp. e a Integrity Block Inc., ambas da Califórnia, que produzem cimento e blocos de concreto, respectivamente. A canadense Icynene Inc., de Mississauga, Ontário, fabrica uma espuma de isolamento térmico feita em parte com óleo de mamona, que substitui o isolamento tradicional à base de fibra de vidro.
“A inovação não é necessariamente descobrir coisas novas, mas descobrir como usar as coisas velhas de uma maneira nova”, diz Amitabha Kumar, diretor de pesquisa e desenvolvimento da CalStar.
O processo de produção de tijolos de argila – extrair a argila, formar blocos e cozi-los usando carvão ou gás natural – permaneceu basicamente inalterado por décadas, embora os fabricantes tenham feito aprimoramentos para reduzir o impacto ambiental.
A CalStar produz seus tijolos com a cinza do carvão e uma mistura própria de químicos. Durante oito horas em contato com vapor abaixo de 93 graus Celsius, o cálcio na cinza endurece, criando tijolos que se comportam e se parecem com os de argila, diz Kumar.
Executivos da Associação da Indústria de Tijolos dos EUA alegam que os produtos de cinza da CalStar não são tijolos de acordo com a definição clássica, e questionam se eles duram tanto quando os de argila. “Ninguém sabe qual será o desempenho real da unidade de cinza”, diz Dick Jennison, presidente da associação.
A EPA, agência americana de proteção ambiental, afirma que a cinza de carvão não é perigosa e já defendeu que seja reutilizada como material de construção, embora a porta-voz da agência Latisha Petteway tenha dito que a agência estuda realizar neste ano modificações na classificação do material.
Autor: O Estado de S. Paulo