Evolução dos volantes de automóveis

Novos materiais e tecnologias para incorporar itens de conforto e de segurança

Começou com a buzina. Depois vieram inocentes comandos de volume e de faixas do sistema de som. Aos poucos, outros dispositivos passaram a ocupar um item do automóvel que servia só para girar as rodas.

Ar-condicionado, computador de bordo, controle de cruzeiro e trocas de marchas são alguns dos equipamentos que hoje podem ser manuseados nos volantes. Com dois, três, quatro ou cinco raios, as direções passaram ainda a abrigar o airbag.

Com isso, tiveram de apelar para outros materiais. Tanto para “compensar” o peso de tais dispositivos como para melhorar a “pegada” do motorista, sem perder a oportunidade de ser um instrumento de estilo. “O volante passou a integrar a plataforma eletrônica do veículo e hoje tem papel de funcionalidade e de design. Ele é fundamental na interação homem-máquina”, enaltece Claudio Gasparetti, supervisor de marketing de produto da Mercedes-Benz.

Interação que visa conforto, ergonomia e, de quebra, segurança. “Tira-se muito menos a atenção do motorista, que também tira menos a mão do volante”, ressalta Harley Bueno, diretor de segurança veicular da AEA. Um bom exemplo é o volante da linha C4, da Citroën, que usa um singular cubo fixo da direção – só o aro se move, enquanto a parte central permanece estática e abriga diversos comandos. Mas, com a crescente necessidade de incorporar novos dispositivos, foi preciso adotar materiais mais nobres no volante para compensar o peso. Só o airbag soma ao conjunto de 900 g a 1 kg. Com isso, estruturas de aço dão lugar ao magnésio e ao alumínio para compensarem a massa adicional.

Espumas de baixa densidade também passaram a fazer parte da estrutura interna. “O magnésio, por ser injetado, permite que se fixe na estrutura do volante uma série de componentes que facilitam a colocação desses novos dispositivos”, explica Tiago Santos, gerente de engenharia de volantes e airbags da General Motors.

De quebra, a adoção destes materiais pode reduzir o peso do volante em até 25% na comparação com um volante normal em aço sem airbag. Mas a preocupação em não exceder o peso não passa simplesmente pela economia de combustível. Uma direção pesada fica mais vulnerável ao estado precário de ruas e estradas brasileiras. Em outras palavras, passa a vibrar mais com os buracos. E cada componente a mais que se agrega ao conjunto adiciona peso ao volante.

“Quanto mais pesado, maior a frequência do conjunto de direção e maior a tendência para oscilação em piso irregular”, justifica Alexandre Almeida, gerente de engenharia de chassis da Volkswagen.

A simples adoção do airbag requer um tratamento diferenciado na calibragem da direção para equilibrar a distribuição de peso. Ou seja, são feitos conjuntos diferenciados para quando o carro é equipado com as bolsas infláveis ou não. E sem necessidade de mudar o volante. Mas há casos nos quais ele é diferente em um mesmo modelo, como no novo Ford Ka, que usa o volante da antiga versão quando equipado com airbag. “É preciso sintonizar a rigidez da coluna com o volante para evitar trepidações. Como a coluna de direção está numa posição diferente no Ka sem airbag, desenvolvemos um volante específico”, garante Klaus Mello, gerente de engenharia de produto da Ford.

Se por dentro agora trazem muitas novas tecnologias, os volantes também mudaram por fora. Poliuterano e espumas sintéticas assumiram o lugar do acrílico, madeira ou plásticos rígidos. Até por uma questão de segurança, já que o volante por si só já tem de absorver energia em caso de batidas. Mas a parte da ergonomia e do manuseio também são observados na hora de revestir o volante. Ganham a preferência as texturas agradáveis aos olhos e ao tato, que facilitem a pegada e não sejam escorregadias nem irritem ou esquentem demais as mãos do motorista. “O volante tem de transmitir sensação de rigidez ao toque e ao mesmo tempo ter um efeito de espuma, de mola”, diz Klaus, da Ford. “A concepção de um volante é discutida com o design, para ter uma pega que transmita segurança e que seja ergonômica”, reforça Tiago Santos, da GM.

Instantâneas

* Os volantes têm de obedecer normas previstas na resolução 463 do Contran, que data de 1973. Entre as especificações, é proibido o uso de materiais reflexivos no revestimento externo das direções.

* Nos Estados Unidos, a GM estuda usar leds no emblema do volante dos modelos da Cadillac.

* O couro usado nos volantes geralmente tem tratamento diferenciado para serem mais resistentes ao ácido úrico expelido pelo suor das mãos do condutor. Em muitos casos, o couro é proveniente do dorso do boi.

Questão de estilo

Apesar de todos os critérios de segurança, ergonomia e de absorção de energia que os volantes têm de obedecer, os projetistas das montadoras não deixariam a oportunidade de colocar em prática suas ideias nesse quesito importante do carro. Com isso, o desenho precisa estar hamonioso com a logomarca ao centro do volante. E até os raios no volante servem como diferenciais para situar o carro. “Os raios seguem o design e o posicionamento do veículo. Na GM, as pick-ups costumam ter quatro raios.
Depende do conceito que se busca para o veículo”, afirma Tiago Santos , gerente de engenharia da GM.

Além disso, busca-se dar ao volante valores não só de tecnologia, com os comandos embutidos no volante, como também de requinte, através de padronagens diferentes. É onde entram os revestimentos em couro, com costuras aparentes, encontrados com mais facilidade nos segmentos de médios para cima. Ou apliques de madeira, alumínio ou aço escovado, só usados mesmo em modelos de luxo. “O volante é o componente do carro mais à vista do motorista.

Ele traz o símbolo da marca e precisa transmitir valor para o cliente”, receita Alexandre Almeida, gerente de engenharia da Volkswagen.

Autor: WebMotors