Descobertas no Brasil e EUA mudam perspectivas da Repsol

Durante anos, a Repsol YPF SA foi chamada de a petrolífera sem petróleo. Mas uma aposta recente no aumento dos esforços de exploração rendeu frutos valiosos e a empresa espanhola encontrou reservas no Brasil, África Ocidental e, agora, nos Estados Unidos.

A Repsol deve anunciar hoje a descoberta de uma nova jazida no Golfo do México que, segundo a empresa, vai impulsionar a produção de seu campo Shenzi.

A empresa afirma que a nova descoberta contém um volume “bastante considerável” de petróleo em dois poços no campo Shenzi, que é operado pela BHP Billiton Ltd. O campo tem hoje produção de 120.000 barris diários. A Repsol tem uma participação de 28% no campo, que adquiriu por 1,7 bilhão de euros (US$ 2,5 bilhões) em 2006.

As descobertas deixam a Repsol com o desafio inesperado de trabalhar com um súbito aumento em suas reservas de petróleo e gás natural. “Tivemos algum sucesso em exploração”, disse o presidente da empresa, Antonio Brufau, ao Wall Street Journal. “Agora precisamos passar para uma fase que também é arriscada: desenvolver esses projetos.”

A tarefa de desenvolver as descobertas — construir plataformas, oleodutos e o restante da infraestrutura necessária para levar o petróleo ao mercado — exigirá que a empresa aumente o investimento de capital num momento em que as margens de lucro de seu principal negócio — o refino — desabaram.

A Repsol tem relativamente pouca experiência com o desenvolvimento, e comprar a expertise também pode ser difícil numa época em que as petrolíferas competem por profissionais altamente qualificados que possam erguer projetos em áreas difíceis. As plataformas para águas profundos também são difíceis de erguer, e o futuro incerto dos preços do petróleo complica mais a equação.

Brufau está acostumado a enfrentar desconfianças. Muita gente do setor duvidou quando, em 2004, ele lançou uma iniciativa para descobrir novas jazidas de petróleo e gás para compensar a decadente produção da Repsol na Argentina. Ele mais que dobrou a equipe de exploração e produção da empresa, para cerca de 1.800 pessoas. A companhia também desenvolveu uma elogiada tecnologia exclusiva chamada de Kaleidoscope para mastigar enormes quantidades de dados sísmicos em busca de sinais de petróleo e gás. Em parte por causa disso, a Repsol esteve envolvida em três das cinco maiores descobertas petrolíferas do mundo no último ano.

Entre elas está a jazida Guará, na prolífica Bacia de Santos, considerada o campo petrolífero mais cobiçado do momento. Em setembro, testes indicaram que o Guará, do qual a Repsol tem 25%, tem o equivalente a 2 bilhões de barris de petróleo e gás natural recuperáveis. Segundo analistas da ING Groep NV, só as descobertas brasileiras já podem duplicar as reservas da Repsol, que, incluindo os recursos de sua filial argentina YPF, contam com 2,2 bilhões de barris de óleo equivalente, ou BOE, no fim de 2008.

A empresa espanhola anunciou mês passado a maior descoberta de gás natural de sua história, nas águas rasas do Golfo da Venezuela. A Repsol, que terá quase um terço de qualquer descoberta no campo, afirma que a jazida, chamada Perla, contém 1,4 bilhão de BOE.

No mesmo mês, um consórcio integrado pela Repsol anunciou a primeira descoberta nas águas profundas da costa de Serra Leoa, uma descoberta importante que pode propiciar o surgimento de uma nova área produtora na África Ocidental.

A Repsol afirma que sua descoberta mais recente na parte americana do Golfo do México é atraente por causa da proximidade com o maior mercado de petróleo do mundo, legislação tributária favorável e a existência de infraestrutura de bombeamento no local. A Repsol ainda não divulgou nenhuma estimativa formal de quanto petróleo encontrou, mas espera poder aumentar a produção do campo Shenzi nos próximos cinco anos.

A série de descobertas marca uma reviravolta radical na empresa. Até 2007, a Repsol vinha substituindo apenas uns 35% das reservas que extraía, uma bandeira vermelha para os investidores que acompanham essa proporção como um indicador-chave da sustentabilidade de uma petrolífera.

Sem contar a divisão argentina, a proporção aumentou para 65% em 2008. Graças às descobertas recentes, Brufau acredita que a empresa vai ultrapassar “facilmente” a meta de substituir 125% de sua produção com novas reservas até 2012. Na Argentina, contudo, a produção continua a cair.

Brufau tem tentado transferir os ativos da Repsol para países politicamente mais estáveis. Em 2004, apenas 40% dos ativos da empresa estavam em países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico — considerada sinônimo de países politicamente estáveis. Em 2012, a meta de Brufau é ter pelo menos 55% dos ativos da Repsol em países da OCDE.

O Brasil não está na OCDE, mas é um dos que demandará mais investimento: US$ 15 bilhões nos próximos cinco anos, diz Brufau. Isso pode ser demais para a empresa. “No Brasil, teremos de refletir em algum momento”, diz Brufau. Um investimento como esse num único país, diz, “é, sem dúvida, intensivo demais”.

Autor: The Wall Street Journal