Neste mês de outubro, o Instituto de Engenharia realizou o seminário Transporte de Média Capacidade para São Paulo: Propostas e Soluções. Durante um dia, profissionais de diversas empresas e instituições discutiram e colocaram os prós e contras da adesão de monotrilhos ou dos Veículos Leves Sobre Trilhos – VLT – para melhorar a questão do transporte público na cidade de São Paulo. A seguir, veja as opiniões coletadas com alguns dos participantes do seminário.
Juarez Barcellos Filho – Siemens Ltda Brazil
Como os fabricantes mundiais estão vendo a iniciativa do governo de construir quatro ou mais linhas de monotrilhos em São Paulo?
Alguns fabricantes estão contentes com a solução, mas a maioria não está vendo com bons olhos essa solução. Na verdade, essa alternativa do monotrilho não é a melhor para São Paulo.
Nós, da Siemens, não estamos convencidos tecnicamente que essa seja a solução mais adequada, na verdade estamos convencidos do contrário. Temos que enxergar São Paulo sempre à frente, especialmente em projetos como o Expresso Tiradentes. A Cidade Tiradentes é uma região de alta densidade demográfica, com enorme potencial de crescimento.
A comunidade metroferroviaria, de uma maneira geral, tem questionado muito a adoção dessa solução – falo adoção pois já foi realizada audiência pública, e a solução já foi mostrada como sendo o monotrilho, pelo menos para esse projeto do Expresso Tiradentes e da ligação São Judas–Congonhas.
Hoje não existe no mundo monotrilho operando com capacidade superior a 10 mil passageiros por hora/sentido. Entendemos que essa solução seja equivocada, por exemplo, com relação ao potencial da capacidade que esse transporte pode oferecer para a população. Acreditamos que existam outras alternativas muito mais adequadas e superiores ao monotrilho. Os fabricantes de monotrilho estão falando em 20 mil passageiros hora/sentido. O governo do estado de São Paulo, o Metrô, tem falado que esse projeto tem sido direcionado para mais 40 mil passageiros hora/sentido . Não existe referencial no mundo onde um sistema de transporte como esse consiga transportar mais de 10 mil passageiros por hora/sentido.
Não é nada com relação à tecnologia em si, ao monotrilho em si, mas o que se questiona é a adequação dessa solução para cidade de São Paulo, para cidade de hoje e de amanhã, e a capacidade desse sistema que tende a nascer com sua capacidade esgotada e superada.
A Siemens vê com muita preocupação essa decisão. Inclusive na audiência pública provocamos por meio de algumas perguntas, mas as respostas que tivemos não foi convincente sob o ponto de vista técnico que é o que está sendo discutido. Então nos convencemos que deve ter outras razões, não só o aspecto estético.
Pensar em implantar o transporte de massa levando em consideração o aspecto estético…, acho que isso deve ser considerado, mas não pode prevalecer na tomada de decisão de uma coisa importante como essa e com investimento elevado para que não traga uma solução efetiva no transporte.
Qual a solução que a Siemens sugere?
Duas alternativas: o VLT, de última geração, com soluções testadas, comprovadas e implementadas no mundo todo com sucesso. O VLT é uma solução que pode ser implantada em nível e também em via elevada. Assim, não teria problema em implantar em linha elevada, pois hoje as estruturas são simples, leves e o impacto visual na cidade não vai diferir em nada na solução do monotrilho, por exemplo. Sem contar que tem capacidade quatro ou cinco vezes superior ao monotrilho (45 passageiros hora/destino), e a implantação é similar.
A outra é o Cityval, que é um veículo automático leve mas sobre pneus. Diferentemente do VLT , ele precisa trafegar em via segregada em função do sistema de alimentação de energia dele, o VLT tem o sistema de alimentação por meio de rede aérea. No nosso caso temos um sistema que opera sem rede aérea também, isso permite que compartilhe as vias urbanas com esse veículo. Já o Cityval necessita de uma segregação da faixa, então, em função do sistema de alimentação de energia, que é o terceiro trilho, que fica no nível do solo, é necessário separar essa faixa de operação, que não poderia ser compartilhada com outros veículos. Entretanto, sua solução é perfeitamente adequada ao Expresso Tiradentes e à ligação São Judas-Congonhas que será em linha elevada. O Cityval se encaixaria muito bem, além disso tem capacidade na ordem de 45 mil passageiros hora/destino – ordem porque depende da taxa de ocupação de seis passageiros por metro quadrado.
Essas tecnologias viriam de fora?
A tecnologia de todas elas não são produzidas no Brasil. Estamos acabando de construir a primeira fábrica da Siemens para material rodante, próximo à Jundiai, na região de Cabreúva, que deve ser inaugurada no próximo mês.
A nossa ideia é fabricar lá fora a cadeia de tração, por exemplo, e trazer as partes do veículos para serem montados no Brasil e agregar todos os componentes que as empresas nacionais tem condições de oferecer. Isso, além de uma intenção, é uma necessidade de reduzir os preços e ser mais competitivo. O projeto seria feito por nós e tudo que pode ser adquirido na indústria nacional seria adquirido. Fabricaríamos a caixa de tração na Europa, provavelmente a caixa, a estrutura do veículo também, e todos demais componentes no mercado interno, montagem e mão-de-obra seriam nacionais.
Autor: Instittuto de Engenharia