Nova marginal só desafoga trânsito até 2020

Os congestionamentos na marginal Tietê, que o governo de São Paulo promete reduzir com a entrega da nova pista em março do ano que vem, voltarão a ser problema em 2020, segundo projeção encomenda pela própria Dersa, estatal responsável pela obra.

Nem a conclusão do Rodoanel nem a realização de obras complementares, como a criação de vias de apoio nos bairros próximos, ao norte e ao sul do rio, conseguirão evitar o trânsito lento em alguns trechos. O motorista que trafega no sentido Lapa, por exemplo, continuará parando, mesmo com a nova pista da marginal, entre as pontes das Bandeiras e da Casa Verde, principalmente durante os picos da manhã.

Se nenhuma obra complementar for feita, no prazo de dez anos os índices de congestionamento serão os mesmos registrados atualmente.

São Paulo conta com uma frota superior a 6 milhões de veículos. Ela não para de crescer: todos os dias, o município ganha mais mil veículos. A nova pista da marginal terá 23 km de extensão em cada lado. A obra começou em junho e, segundo o governo, irá aumentar a velocidade média dos veículos em 35%, com a entrega da nova pista em 2010. Custará R$ 1,9 bilhão, valor suficiente para construir 9 km de metrô.

As projeções de como estará o trânsito em 2020 constam dos estudos de impacto ambiental da Nova Marginal, aos quais a Folha teve acesso. O trabalho foi feito pela TTC Engenharia a pedido da Dersa. 

Segundo o estudo, o índice de ocupação por veículos das pistas da marginal, a partir da entrega das obras em março, será menor que 80%. Tecnicamente, significa um bom nível de conforto ao usuário. Acima disso, o fluxo fica “instável” (congestionado), segundo o jargão dos especialistas.

Hoje, boa parte da marginal tem um índice de ocupação por veículos superior a 80% em horários de pico de trânsito. Paulo Souza, diretor de engenharia da Dersa, diz não concordar com as projeções. “A marginal sozinha não resolve nada mesmo. É preciso que as demais obras sejam feitas. Mas, nesse caso, não haverá mais congestionamentos na marginal, ao contrário do que dizem as previsões”, afirma.
Segundo ele, nos próximos anos, medidas “legislativas” também terão que ser tomadas pela prefeitura para que o congestionamento na marginal não volte. “Espero que depois que o trecho sul do Rodoanel fique pronto, a prefeitura amplie as restrições de tráfego de caminhões nas marginais, pelo menos nos horários de pico.”

Apesar de discordar das projeções do trânsito daqui a dez anos, Souza diz que, mesmo que os congestionamentos voltem em 2020, a obra já terá valido a pena. “Dez anos de validade para uma obra é muito. Madri, por exemplo, está no seu quarto Rodoanel.”

Autor: Folha de S. Paulo