Segundo o governo, empreendimento no litoral paulista é opção para gerar energia e suprir falta de aterros
O governo de São Paulo prepara a instalação de uma usina de incineração de lixo na Baixada Santista para geração de energia elétrica. Trata-se de uma alternativa para aterros sanitários que são caros e não respondem às necessidades das regiões metropolitanas.
Segundo a Secretaria de Estado de Saneamento e Energia, foi fechado um convênio com o governo da Bavária, na Alemanha, que inclui troca de informações sobre tecnologia de segurança para a emissão de gases gerados na queima do lixo.
A nova usina deve ser de grande porte, com capacidade para queimar de 400 a 600 toneladas de lixo por dia e produzir vapor para geração de energia elétrica. A prioridade é usar o lixo gerado na Baixada Santista e litoral norte. Atualmente há duas usinas de geração de energia por meio do lixo em São Paulo, com aproveitamento de gás metano. O incinerador de lixo doméstico é novidade no País.
O consórcio Andrade & Canellas/Proema, formado pelas empresas Andrade & Canellas Consultoria e Engenharia Ltda. e Proema Engenharia e Serviços, está avaliando a viabilidade da implantação desse tipo de usina em São Paulo. O prazo para a conclusão dos estudos é de 180 dias. O modelo que poderá ser adotado aqui tem como base empreendimentos já em operação na Alemanha, França, Portugal e Espanha.
“A modelagem em elaboração considerará os aspectos técnicos, econômicos, legais, institucionais, de estruturação do negócio, de financiamento, comerciais e ambientais, e nos dará base para avaliar a melhor forma de implantação de empreendimentos dessa natureza”, afirma o coordenador de Energia da Secretaria de Saneamento e Energia, Jean Negri.
Em tramitação desde 1991 no Congresso, a proposta de criação de uma Política Nacional de Resíduos Sólidos voltou a ganhar fôlego com a entrada de um substitutivo do governo federal, que cria normas para a destinação do lixo.
De olho nesse mercado, a iniciativa privada quer a implantação de incineradores em larga escala. “O uso desse tipo de usina, para gerar energia, não está distante em São Paulo. Apesar do investimento ser alto, é preciso ver a parte tributária e de legislação”, diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), João Carlos David.
Segundo o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos (Abetre), Diógenes Del Bel, o custo de uma usina chega a cinco vezes o de criação de um aterro sanitário. “Aí vale a questão da modelagem do empreendimento”, diz Del Bel. Um aterro sanitário de grande porte, para cidades com 2,5 milhões de habitantes, por exemplo, custa entre R$ 14 a R$ 18 por habitante por ano. Já uma usina incineradora custa entre R$ 70 e R$ 90 por habitante/ano.
Para a professora Eglé Novaes Teixeira, da Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo da Unicamp, especialista em resíduos sólidos, não se deve falar em incineradores sem a contrapartida da geração de energia. “São necessários todos os tratamentos e as adequadas disposições das cinzas e escória resultantes da queima dos resíduos”, explica.
Na França, por exemplo, existem mais de cem incineradores de lixo doméstico. Essas usinas estão em operação há mais de 20 anos e, desde a década de 90, projetos de novos incineradores só saem do papel se houver produção de energia.
Autor: O Estado de S.Paulo