Qi Lu sabe muito bem o quanto é difícil enfrentar o Google. Por quase uma década, ele desempenhou papel chave na construção das tecnologias de busca e publicidade do Yahoo, um esforço no qual a empresa investiu bilhões de dólares – adquirindo empresas e contratando exércitos de engenheiros para desenvolver seus sistemas de busca. Ainda assim, o Yahoo foi perdendo cada vez mais terreno, e muitos analistas consideram que a empresa simplesmente não tem cacife para enfrentar o Google
Lu, 47, deixou o Yahoo 14 meses atrás e agora se vê uma vez mais no comando da batalha contra o Google. Dessa vez, ele conta com o apoio de um patrono que promete investir ainda mais que o Yahoo para completar a missão: a Microsoft. “Trata-se de uma missão inacabada que eu gostaria de concluir”, disse.
O desafio continua enorme, para Lu e sua equipe, e o sucesso parece improvável. Mas desde que Steve Ballmer, presidente-executivo da Microsoft, o contratou como presidente da divisão de serviços online do grupo, em dezembro passado, Lu, um discreto engenheiro que é um dos mais reservados e atípicos executivos entre os caciques do setor da tecnologia, conquistou a confiança de seus comandados na Microsoft e ajudou a renovar o otimismo de uma equipe repetidas vezes derrotada.
Enérgico e incansável, Lu vem pressionando sua equipe ao máximo, para oferecer uma importante vitória à Microsoft. Em reuniões realizadas diariamente às 21h30min, ao longo de diversas semanas, ele orientava seus subordinados quanto ao desenvolvimento de formas criativas para estruturar uma parceria complexa e abrangente entre Yahoo e Microsoft. O acordo, assinado em julho, oferecerá à Microsoft algo que ela desejava há anos: uma audiência muito mais para transformar seu serviço de buscas Bing em maior concorrente do Google.
Mas Lu e sua equipe terão muito que correr. Mesmo com o tráfego de buscas do Yahoo, a participação de mercado do Bing nas buscas será inferior à metade da fatia do Google. Reduzir essa imensa disparidade será difícil, em parte porque a maioria dos usuários estão satisfeitos com o Google, que melhora constantemente o seu serviço de buscas.
Em uma longa entrevista na sede da Microsoft, uma semana atrás, Lu disse que não estava subestimando o desafio. Mas com o tempo, afirmou, a Microsoft teria a chance de oferecer um serviço diferente, e convincente a ponto de concorrer de maneira efetiva.
Para a Microsoft, o sucesso nas buscas é vital para a saúde da empresa em longo prazo. Para a Lu, é uma missão que ele se sentia obrigado a assumir. “Acredito que eu esteja cumprindo um dever”, disse
Lu, que se veste mais como engenheiro do que como executivo de primeiro escalão.
E é com lógica de engenheiro que ele expõe seus motivos para voltar ao ringue. As buscas determinam o destino dos usuários online, e a publicidade vinculada a buscas é a maior força econômica da internet. O negócio é importante demais para que fique sob o controle de uma única empresa, diz.
Depois de uma infância pobre na China, afirma, ele se sente obrigado a não desperdiçar a rara oportunidade que lhe foi dada. Criado pelos avós em uma aldeia rural sem eletricidade ou água corrente, a inteligência de Lu lhe valeu bolsa para a Universidade Fudan, em Xangai. Depois de conquistar um mestrado em ciência da computação, ele assistiu a uma palestra de Edmund Clarke, professor de engenharia elétrica e da computação na Universidade Carnegie Mellon.
Impressionado pelas perguntas e pesquisa de Lu, Clarke o convidou a se candidatar a um doutorado. Lu, cujo salário mensal como assistente de ensino era de US$ 10, não tinha nem mesmo como pagar a taxa de inscrição, e por isso Clarke conseguiu uma dispensa da taxa, e o candidato foi admitido ao programa de doutorado.
Lu afirma que as dificuldades que enfrentou em criança na verdade foram uma vantagem. “É uma experiência difícil, mas você aprende muito”, diz. Depois do doutorado, conquistado em 1996, ele foi contratado por um dos prestigiosos laboratórios de computação da IBM, e em 1998 se transferiu para o Yahoo. Anos mais tarde, quando a surgiu a batalha nas buscas entre Google e Yahoo, ele se tornou diretor de buscas e publicidade vinculada a buscas no Yahoo.
Todos os relatos afirmam que ele se dedicou incansavelmente ao trabalho. Contratado como engenheiro, ele galgou a hierarquia não por ambição pessoal, mas em função de sua imensa capacidade intelectual e disposição de encarar desafios cada vez maiores. No final de seu período na empresa, ele estava no comando de uma equipe de três mil engenheiros. “Ele sempre evitou a autopromoção, mas era visto como astro em ascensão no Yahoo”, diz Tim Cadogan, presidente-executivo da Open X, uma empresa de tecnologia publicitária, e colaborador estreito de Lu no Yahoo.
Os colegas dele no Yahoo e Microsoft dizem que sua inteligência só é equiparada por sua disciplina de trabalho. Lu dorme três a quatro horas por noite. Em dias de semana, acorda às 4h, responde aos e-mails, corre seis quilômetros em uma esteira rolante, lê os jornais e assiste aos noticiários. Chega ao escritório entre as 5h e as 6h, porque isso permite que prepare seu dia sem interrupções. Ele costuma enviar e-mails ao seu pessoal até a meia-noite ou ainda mais tarde. (Lu é casado e tem duas filhas, e reserva boa parte do final de semana à família.)
A disciplina dele também se traduz em lealdade. No seu último dia no Yahoo, por exemplo, surgiu um problema com um banco de dados, e Lu trabalhou com a sua equipe para resolvê-lo até a meia-noite, quando seu acesso de e-mail e rede foram automaticamente cortados. Além disso, ele se recusou a conversar com Ballmer, que estava interessado em conhecê-lo, até bem depois da data marcada para sua saída do Yahoo, porque acreditava que qualquer outra atitude seria incorreta.
Lu estava estudando propostas no setor de capital para empreendimentos e chegou a pensar em
retornar à China. Mas mudou seus planos quando Ballmer viajou ao Vale do Silício para conversar com ele, acompanhado por dois engenheiros do departamento de buscas da Microsoft. O objetivo era uma discussão informal do setor de buscas. Ballmer se convenceu imediatamente de que Lu seria o homem certo.
“Ele saiu da sala e eu imediatamente disse aos meus colegas que achava que devíamos tentar contratá-lo para a Microsoft”, disse Ballmer em entrevista. Ele ligou para o celular de Lu imediatamente. “Ele voltou à sala, e começamos um diálogo sobre sua contratação, um processo que terminou por dar resultado”. Lu sabe que demorará muito para que sua nova missão dê resultado. “Temos muito, muito e muito trabalho a fazer”, diz.
Autor: The New York Times/Terra