Felipe Buzanovsky, de 28 anos, é um exemplo que uma instituição que tem médico até no nome contrata não apenas pessoas da área. Engenheiro de telecomunicações e com mestrado em engenharia aeronáutica, o brasileiro nem se espanta mais quando alguém pergunta o que ele faz na Médicos Sem Fronteiras (MSF), uma instituição independente do governo que tem como objetivo central na reconstrução de estruturas de saúde, no combate a prevenção de doenças e ajudar nas campanhas de vacinação e na assistência a refugiados.
“As pessoas esquecem da infraestrutura necessária para poder mandar um projeto da área de saúde”, explica ele, que hoje trabalha em campo em Tame, na Colômbia.
Buzanovsky diz que para trabalhar na MSF é preciso saber idiomas, mas mesmo assim é capaz de passar por situações delicadas mesmo sabendo a língua.
“Apesar das semelhanças com o português e de já haver morado na Espanha, a língua espanhola possui peculiaridades em cada país, assim como se pode ver diferenças entre o português que se fala nos diversos estados brasileiros”, afirma ele.
Como qualquer mudança que ocorre, Felipe também passou por dificuldades. Mas a principal delas foi alterar o seu estilo de vida.
“Quem me conhece sabe que eu não sou lá uma pessoa muito caseira, mas aqui, devido a nossas regras de segurança, temos “toque de recolher”, informar movimentos, andar acompanhado. Bastante diferente da vida anterior”, afirma ele. Confira abaixo a íntegra da entrevista:
O que pode dizer para as pessoas que querem entrar na Médicos Sem Fronteiras?
Acredito que MSF seja um caminho para quem tem vontade de trabalhar com ajuda humanitária. É uma organização enorme, e que possui bastante credibilidade. Sendo assim, existe um processo seletivo rigoroso para selecionar os profissionais. Vale ressaltar também a importância de saber diversos idiomas, pois podem facilitar a comunicação entre os expatriados, o pessoal local e os pacientes a quem vamos atender. E também de ser extremamente flexível, para poder conviver com dificuldades que possam aparecer e abdicar de coisas que estamos acostumados a ter em nosso cotidiano.
Quais são os benefícios de se trabalhar na MSF?
Acredito que os maiores benefícios são: poder trabalhar em um ambiente multicultural e multidisciplinar, trabalhar em prol de uma causa humanitária, possibilidade de melhorar o conhecimento de outros idiomas, conhecer culturas diferentes, poder desenvolver novas habilidades e competências, lidar com situações adversas, aprender a solucionar problemas de maneira mais criativa, com os recursos que tem à disposição.
Por que quis fazer parte da Médicos Sem Fronteiras?
Essa é uma pergunta que eu costumo escutar bastante, devido a minha formação “fora do comum”. Sou engenheiro de telecomunicações, fiz mestrado em engenharia aeronáutica e trabalho para uma ONG de médicos. Muitos sempre me perguntam o que eu estou fazendo aqui, mas costumam se esquecer da infraestrutura necessária para poder mandar um projeto da área de saúde. Antes de me candidatar ao MSF trabalhava em um mercado muito específico, voltado para milionários. E comecei a pensar se não poderia usar o conhecimento que adquiri durante os meus estudos e minha vida para poder ajudar outras pessoas que não tiveram essa oportunidade que eu tive. Já havia escutado o nome Médicos Sem Fronteiras, e resolvi buscar mais informações e entrar em contato, para saber até se eu poderia ser útil.
Como foi sua adaptação?
Particularmente, penso que não tive grandes problemas de adaptação, apesar de ser minha primeira missão. Para vir trabalhar em Médicos Sem Fronteiras ou outra organização de ajuda humanitária é necessário dispor de muita flexibilidade, para poder conviver com pessoas de diferentes culturas, diferentes países e nível de educação. Por estar em um país da América do Sul, acredito que o choque cultural não foi tão grande como imagino que poderia ser em um país da África ou da Ásia.
Quais foram as suas principais dificuldades?
No início tinha alguma dificuldade com o idioma. Apesar das semelhanças com o português e de já haver morado na Espanha, a língua espanhola possui peculiaridades em cada país, assim como se pode ver diferenças entre o português que se fala nos diversos estados brasileiros. Além disso, a similaridade com o português acaba atrapalhando, pois às vezes fico sem saber se estou usando alguma palavra em português ou em espanhol mesmo.
Uma outra dificuldade foi mudar bastante o estilo de vida que eu tinha no Brasil. Quem me conhece sabe que eu não sou lá uma pessoa muito caseira, mas aqui, devido a nossas regras de segurança, temos “toque de recolher”, informar movimentos, andar acompanhado. Bastante diferente da vida anterior.
Como foi o recrutamento? Tudo foi explicado antes do você ir trabalhar na região onde está?
O processo de recrutamento foi realizado no Rio de Janeiro, e teve entrevistas, dinâmicas de grupo, provas de idiomas. Depois de dois dias de atividades, esperei uma semana para receber o resultado positivo, e em seguida esperar que me fosse encontrada uma missão, o que não tardou. Duas semanas depois do resultado estive em um treinamento na Dinamarca de uma semana, chamado Preparação para Primeira Missão. Junto com profissionais recém selecionados de todo o mundo e de diversas áreas, passei a conhecer mais sobre a organização e o seu papel. Em seguida, estive em um treinamento na Bélgica específico para meu cargo de logístico de terreno, que durou uma semana mais.
Depois dos treinamentos tive um “briefing” na sede de MSF, onde me informaram mais detalhes do projeto em que vim trabalhar, das minhas tarefas, dos recursos humanos e outras informações pertinentes.
Autor: G1