Senhoras e senhores,
É uma grande honra tê-los presentes nesta solenidade.
É uma grande honra ser engenheiro.
É uma grande honra servir a esta casa de engenheiros.
É uma grande honra servir à minha pátria com os conhecimentos que a sociedade me propiciou.
Devo-lhes dizer, desde o início deste pronunciamento, que sou muito emotivo. Espero não chorar ao longo do discurso, mas se acontecer, peço sua compreensão.
Meu pai, Annibal de Barros Fagundes Junior, foi um grande engenheiro, politécnico da turma de 51. Sua dedicação à engenharia era contagiante.
Desde cedo eu o acompanhava nas suas diligências em obras pesadas e de grande significado. Algumas me marcaram profundamente:
Os 16 viadutos da pista descendente da via Anchieta, com seus cimbramentos de madeira em leque, vencendo alturas formidáveis na densa Mata Atlântica; as torres da Catedral de São Paulo; a ponte sobre o Rio Juqueri-Querê, adiante de São Sebastião, com suas fundações em tubulões a ar-comprimido; as grandes estruturas de concreto armado da Usina Hidrelétrica de Furnas… Tudo isso na década de 50.
Nasci em 25 de julho de 1945, dois meses após o término da Segunda Guerra Mundial. Pertenço ao “baby-boom” decorrente.
De meu pai recebi o contágio da engenharia. Não havia como dela escapar. Bem que ele cuidou de me dizer sobre outras profissões. No acampamento da obra de Furnas – eu já tinha meus 14 anos – ele arranjou-me um pequeno emprego no hospital da vila. Não gostei.
Desde então só queria a engenharia.
De meu pai também aprendi a amar o Instituto de Engenharia. Ia com ele, amiúde, almoçar lá no Palácio Mauá. Falavam de engenharia.
Quando meu pai recebeu o diploma de sócio remido, vejam só, mandou enquadrá-lo e o exibia par-a-par com o seu diploma da USP na parede do escritório.
Foi uma pena perder meu pai ainda pleno de energia, em 1996.
Por isso tudo, quero dedicar a ele o privilégio de hoje: assumir, solenemente, a presidência deste querido Instituto de Engenharia.
Pertenço ao “baby-boom”. Quando eu nasci, o Brasil tinha 50 milhões de habitantes e nossa cidade de
São Paulo pouco mais de um milhão de pessoas.
A população brasileira, no curto período de uma vida, que é a minha, quadriplicou e a população paulistana decuplicou.
sto representa um grande problema de natureza social, econômica, estratégica e política. Uma gigantesca-questão que necessita da engenharia para a sua solução.
Formei-me em 1967 na gloriosa Escola de Engenharia de São Carlos, da não menos gloriosa Universidade de São Paulo. Saí da escola naquele período que se convencionou chamar de “milagre brasileiro”. Muito se investiu na época.
Por oportuno, meus caminhos me levaram a trabalhar em projetos grandiosos do setor hidroelétrico, do Metrô de São Paulo, do saneamento básico. Nunca a escola de São Carlos me faltou.
Seus ensinamentos permitiram-me enfrentar os desafios e desempenhar adequadamente as minhas funções e obrigações.
Meu avô costumava dizer que a tudo vira: dos primeiros automóveis e dos aeroplanos ao Sputinik. Dos programas sanitários de saúde e das vacinas ao antibiótico. Do telégrafo, do telefone e do rádio à televisão. Nada mais restava a ser feito. Faltou-lhe, por pouco, ver o homem pisar na lua.
Eu vi isso e muito mais. Parece-me uma vertigem lembrar o que vi nestes meus anos de vida: a xerox multiplicando a informação escrita. As máquinas eletrônicas de calcular; a telefonia on-line; a transmissão da tv em cores; o fax telefônico; o computador eletrônico em main-frame. A engenharia do diagnóstico médico, indo do ultrassom à ressonância magnética; as microcirurgias; o telefone celular; o personal computer; a internet…
Pressinto, ainda, ter muito a acontecer. Fico a imaginar a vida futura de meus filhos e meus netos.
Por isso tudo, considero que o “milagre brasileiro” foi uma “onda desenvolvimentista” que ocorreu na década de 70 e começo da de 80.
Esse “milagre” foi apenas uma necessidade pelo desenvolvimento. O processo vai se repetir novamente. Espero que em breve, como indicam prenúncios recentes.
Após a “onda desenvolvimentista” de 70, que atribuo a reações e consequências do “choque do petróleo” de 74, veio o recesso que antecedeu ao movimento mundial denominado “globalização”.
Penso que a globalização, flagrantemente instalada a partir de 1985, não se resume à comunicação “on-line”: trata-se de um fenômeno econômico, em que os capitais antes densamente concentrados nas mãos dos governos, migrara, mais dispersos, para as mãos dos particulares.
Ruíram os governos estatizantes. Principalmente pela falta de recursos financeiros.
Foram quase 15 anos de súbitas, e profundas, mudanças nas vidas das pessoas, simultaneamente, no mundo todo.
Atônita, a humanidade assistiu à formação de “bolhas” de consumo milionário e de “bolhas” de decadência miserável.
Hoje, estamos em meio a uma grave crise econômica mundial, a qual recentemente se instalou entre nós.
Acredito que esta crise apenas faz parte deste novo ordenamento econômico global. O que está havendo é uma acomodação de correspondência entre os ativos e os meios circulantes. A crise passará.
Esta também é a história da nova engenharia. É a história do nosso Instituto de Engenharia.
Nós engenheiros “baby-boom”, obreiros do “milagre brasileiro”, atraiçoados pela crise de 1985, não fizemos sucessores.
Faltam engenheiros plenos, experientes.
Faltam engenheiros com vivência intermediária.
Faltam engenheiros juniores.
Tudo pela pouca atração que a engenharia exerce nos tempos de crise.
É uma pena que seja assim. Em época de desenvolvimento, o engenheiro é o primeiro a ser chamado.
Em época de crise, é o primeiro a ser descartado. Temos que intervir.
Somos nós, engenheiros, que fazemos o progresso. Não podemos nos entregar ao recesso da crise.
Temos que intervir com toda a criatividade, própria de nossa formação, para encontrar novos caminhos de plenitude de emprego e satisfação das necessidades sociais e econômicas. Precisamos agir.
Para a sociedade paulista e brasileira, tenho a dizer que o Instituto de Engenharia é o instrumento de nossa ação.
Nesta casa nasceram, dentre outras entidades, o Crea e o Sindicato da Engenharia. Nesta casa nasceram, dentre outros grandes projetos, o Pró Álcool e a Cosipa. Façamos do nosso Instituto a fonte de novos rumos para o País.
Esta é a casa do cidadão formado em engenharia: propaguemos daqui nossa voz e nossas idéias para a retomada do desenvolvimento, e sustentabilidade dos projetos sócio-econômicos.
Daqui a apenas sete anos, o instituto de engenharia completará um século de fundação. Trata-se de respeitável tradição de vanguarda a ser remoçada, arejada e reavivada.
Com relação aos meus colegas do Instituto de Engenharia, quero lembrar que a minha candidatura surgiu de um movimento do qual participou meia centena de bons sócios que promoveram reuniões para discutir os problemas e estudar soluções viáveis para os atuais problemas da casa. Dessas reuniões resultou um excelente repertório de idéias a serem implementadas.
Devo a esse grupo de pessoas a obrigação de atender aos seus anseios. Assim, junto com os meus motivadíssimos vice-presidentes, diretores e conselheiros, proponho-me a trabalhar incansavelmente nos próximos dois anos para, mais uma vez, após ouvir meus colegas de profissão e a sociedade, preparar um plano de metas consistente e consentâneo com novos tempos. Este será nosso legado.
Proponho-me, ainda, a liderar o restabelecimento do ímpeto progressista do Instituto, de tal forma que em 2016 possamos olhar para trás e dizer: fizemos parte deste sucesso!
Muito obrigado
Autor: Aluizio de Barros Fagundes