Para engenheira ambiental Alessandra Magrini o meio ambiente passou a ser um negócio

Quando Alessandra Magrini começou a dar aulas no Programa de Planejamento Energético e Ambiental da Coppe/UFRJ, em 1986, engenharia ambiental era carreira alienígena por aqui. No Rio, ajudou a calcular os danos do despejo de 1,3 milhão de litros de óleo na Baía de Guanabara, pela Petrobras, em 2000. A seguir, ela, que fez doutorado na Itália, responde às melhores perguntas enviadas pelos leitores do GLOBO. 

Como é o dia a dia do engenheiro ambiental? A remuneração é tão boa como dizem? (Lygia Plastino) 

ALESSANDRA MAGRINI: A carreira é recente. Historicamente, engenheiros são mais estanques: civil, mecânico, químico… A engenharia ambiental é transversal, abrange áreas como química e botânica. As pessoas são contratadas por empresas que precisam gerir questões ambientais, que buscam certificações, que precisam obter licenças ambientais. A questão salarial está surgindo só agora. Penso que a média é um pouco mais alta que a de outras engenharias. 

Há mercado para o engenheiro ambiental numa área que não seja de pesquisa? (Ana Carolina Deveza) 

ALESSANDRA: O setor público tem feito concursos: Ibama, Inea (Instituto Estadual do Ambiente), EPE (Empresa de Pesquisa Energética), secretarias de Meio Ambiente, Petrobras. Há dois anos perdemos metade da turma da pós na Coppe por isso (risos). E qualquer empresa pode empregar. O mercado demanda boa postura ambiental. Uma empresa que quer o ISO 14.000 precisa de engenheiro ambiental. 

Engenheiro ambiental trabalha com controle de desmatamento e agressões a animais? (Robson Vilella) 

ALESSANDRA: O grosso da engenharia ambiental são os processos industriais de resíduos, recursos hídricos, ar… As atividades que você descreve seriam mais para um biólogo ou mesmo um engenheiro florestal. 

Quais os prós e contras da profissão? (Paulo Felipe Quintão)
 

ALESSANDRA: O maior contra é a crise. O meio ambiente passou a ser um negócio, está na boca do povo e gera oportunidades. Mas Bush não quis assinar o Protocolo de Kyoto, dizia que freava o desenvolvimento. Há essa ideia. Se a crise não melhorar, o meio ambiente pode ser posto de lado. Agora, particularmente, acho que não. Empresa que se mostra suja fica mal. 

O mestrado é fator decisivo? (Lívia da Silva Farias) 

ALESSANDRA: Certamente ajuda, dirige mais. A engenharia ambiental, como foi pensada no Brasil, tem nuances. O curso da PUC-Rio é um pouco diferente do da UFRJ. Uns vão mais para a engenharia em si, outros mais para a gestão. Mestrado e doutorado podem aprofundar determinados aspectos: resíduos, efluentes, poluição atmosfera. 

Crê que a engenharia ambiental pode vir a ter alguma reserva de mercado? No último concurso da Petrobras, biólogos disputaram vagas em igualdade com engenheiros ambientais. (Gisele Benedicto dos Santos) 

ALESSANDRA: Como é carreira nova, provavelmente outros podem disputar as vagas. Depende do que a empresa busca. Geólogo, geógrafo, biólogo, muita gente atua na área. Ninguém é dono do meio ambiente. Antes, vários engenheiros trabalhavam com isso. Depois vieram os economistas. Agora o boom é de advogados, que querem trabalhar com direito ambiental, e ainda não há muitos cursos na área. 

Qual especialização mais promete na engenharia ambiental? (Aldemar de Paula) 

ALESSANDRA: Como é concebida por aqui, a engenharia ambiental não tem muita especialização. O profissional, numa empresa, tem que saber trabalhar com ar, água, resíduos sólidos, saúde e meio ambiente. Agora, seguramente, mudança climática é uma área muito relevante. Só é importante não cair em modismo. A certificação ISO 14.000 também foi moda, ainda é. E gera emprego. Na área empresarial, gera mais emprego do que mudança climática. Crédito de carbono também está aí. 

Vale a pena cursar Gestão Ambiental em vez de Engenharia? (Ana Paula Carneiro) 

ALESSANDRA: A gestão é recente, trabalha com instrumentos que os setores público e privado utilizam, como licenciamento ambiental. Cabe a esse profissional também gerir um estudo de impacto, que é atividade interdisciplinar. A área de meio ambiente tem tantos componentes técnicos que acho mais fácil um engenheiro assumir a parte de gestão do que um gestor assumir a engenharia. 

O geoprocessamento ganha espaço. Mas há poucos cursos. A melhor opção é cursar Geografia, Gestão Ambiental ou Engenharia Ambiental? (Ronaldo Vieira Olympio) 

ALESSANDRA: Acho que quem trabalha melhor com o desenvolvimento de programas é o geógrafo. Sou mais usuária do que desenvolvedora. Já a parte de estabelecer modelos para o geoprocessamento acho que é mais da Engenharia. 

Como anda o mercado de mineração para o engenheiro ambiental? (Paulo Vicente Reis) 

ALESSANDRA: A atividade é impactante, mexe com paisagem, saúde, imagem das empresas. Tive um aluno responsável pela área de meio ambiente em empresa petroquímica, que foi “capturado” pela Vale. O setor está em alta. O contra é a crise.

Autor: O Globo