_Ah, meu filho, ou é simples, ou é impossível_
Dep. Roberto Jefferson, em entrevista a Jô Soares
Nos últimos dois anos foram publicados no jornal do Instituto de Engenharia, vários editoriais dedicados à lastimável situação das tão necessárias, quanto alardeadas, obras de infra-estrutura do governo federal e a impossibilidade do Plano de Aceleração do Crescimento se tornar algo além de uma fantasia eleitoreira.
Este mês, tomando a obrigação de matar a cobra e apresentar a arma do crime, contrariando a tradição de mostrar grandes obras ou marcos da construção civil, indústrias de padrão internacional e outras matérias de orgulhar o mais cético dos brasileiros, o jornal do Instituto de Engenharia usará seu jornal para mostrar o Brasil que não acontece. O Brasil do PAC.
Fruto da imaginação fértil das empresas de marketing eleitoral e da necessidade de palanques diários para sustentar o clima de oba-oba, a esperança de uma vida melhor e alimentando o sonho do fim da era das crises, o PAC nasceu torto, cresceu torto e vai morrer torto no dia 1º de janeiro de 2011, nas mãos do próximo Presidente da República.
Nossos gestores parecem não saber que um plano de obras de infra-estrutura é muito mais do que uma lista de obras paradas por falta de verba ou por incompetência de gestões anteriores. É resultado da identificação do atual cenário econômico e das projeções futuras, seguido de um levantamento minucioso e detalhado da situação da infra-estrutura já existente, para então, de posse de uma visão de governo, identificar as obras necessárias para o cumprimento desta visão, definindo sua prioridade.
O Governo Federal, perdido a ponto de ser surpreendido de forma recorrente na divulgação de indicadores de desempenho econômico-financeiro ou na gravidade de determinados acontecimentos internacionais, não tem a menor condição de levar a cabo um programa ambicioso de incentivo ao crescimento decente. Investe em energias mais caras e poluentes, prioriza decisões políticas em detrimento das técnicas ou econômicas, sucumbe, por falta de preparo, às armadilhas legais e ideológicas dos mais variados tipos.
Ao cidadão comum, cujo contato com a engenharia de ponta tem-se restringindo aos programas do Discovery Channel, a demora e má execução de uma obra podem até parecer normais, afinal construir uma grande barragem, uma usina nuclear ou um canal com vários quilômetros de comprimento no meio do semi-árido, não parecem ser tarefas para qualquer um.
Mal sabe o desavisado cidadão brasileiro que, com planejamento de longo prazo cuidadosamente elaborado, profissionais tecnicamente competentes, processos licitatórios coerentes e bem conduzidos, fiscalização atenta, constante e séria, recursos financeiros suficientes e disponíveis, gestores públicos honestos e atuantes, é possível atender, com folga e facilidade, as necessidades do país, pois problemas técnicos existem e são superados desde as pirâmides.
Porém, se nossos dirigentes insistirem em tratar o patrimônio público como moeda de troca política, distribuindo obras de acordo com o resultado das urnas, premiando os amigos e punindo os inimigos, ou como fonte de recursos de campanha e discurso eleitoral, não será difícil colocar o Brasil no primeiro mundo.
Será impossível.
Autor: Edemar de Souza Amorim