Em meio à forte crise econômica mundial que tem levado à desaceleração dos negócios e conseqüentemente do avanço tecnológico na indústria de máquinas e equipamentos, comemoramos neste mês de março uma data especial para a engenharia da mobilidade brasileira. Há 15 anos uma nova atividade estudantil revolucionou o processo de preparação dos futuros engenheiros, focando a criação de um novo perfil de profissional, mais qualificado, inovador, com visão estratégica e capacidade de se relacionar em equipe.
E, com isso, ser capaz de ajudar o País a ganhar posição de destaque no cenário mundial. A especialização dessa mão-de-obra vem do Projeto Baja SAE, uma empreitada que começou em 1995 e que chega à sua 15º edição com aproximadamente 700 estudantes de engenharia buscando experiência prática para atuar na indústria.
Pioneiro no Brasil, o programa atualiza o futuro engenheiro sobre o que a indústria está precisando em relação à competência profissional. Essa atualização está disponível a todos os universitários de engenharia, do Norte ao Sul do País, através do desafio de conceber, projetar, construir e operar um veículo off-road. Para alcançar este objetivo, os alunos acabam envolvidos em um ambiente real de desenvolvimento de produto, com todas as suas atividades correlatas, como aplicação de conceitos técnicos, viabilidade financeira, logística, e cumprimento de prazos. O resultado deste trabalho é mostrado ao público através de uma competição de engenharia, onde os projetos serão avaliados individualmente e comparativamente. Tudo sob os olhos de exigentes juízes especialistas da área da mobilidade.
Ao aceitarem o desafio, os participantes aprendem engenharia na prática, mas sem a pressão do ‘acertar de primeira’, situação requerida por motivos óbvios quando estiverem atuando na indústria. É o momento certo de inovar sem medo de errar, aprender novos conceitos e tecnologias. Foi neste ambiente que eu e tantos outros colegas desenvolvemos grande parte de nossa capacitação técnica e administrativa, que foram os pilares de nossa carreira profissional. Agora, juntamente com um time de mais de 100 voluntários, ajudo na preparação das novas gerações de engenheiros para o competitivo mercado de trabalho que espera ansiosamente a chegada destes novos talentos.
A velocidade com que a tecnologia avança obriga uma constante atualização por parte dos profissionais. Uma das principais vantagens do Projeto Baja SAE pode ser visto neste âmbito. Vejamos o exemplo das ferramentas computacionais, imprescindíveis hoje no desenvolvimento de veículos. As empresas são obrigadas a investir quantidades enormes de dinheiro no treinamento de seus profissionais cada vez que novos softwares são disponibilizados.
O “bajeiro”, designação popular daqueles que participam do Projeto Baja SAE, tem a oportunidade de trabalhar com essas ferramentas ainda no período de graduação, reduzindo muito a necessidade de treinamento. Junte-se a isso a nítida facilidade que as novas gerações têm de se adaptar ao uso de ferramentas computacionais, já podemos perceber pelo menos um motivo deste recém-formado ser tão valioso para a indústria.
Podemos ver essa incrível evolução na capacitação dos alunos através de uma rápida comparação dos Baja SAE de 15 anos atrás com os atuais. No início, com pouco ou quase nenhum recurso computacional, os veículos eram projetados “no papel”, o que dificultava muito as análises e possibilidade de otimização, resultando em veículos com mais de 200 kg e velocidade que não superava os 40 km/h. Hoje, com os diversos recursos de simulação e ferramentas tipo CAD/CAM, os veículos mesclam o uso de materiais leves, como alumínio, fibra de carbono e titânio; usam pneus para terrenos específicos, e possuem sistemas de transmissão e suspensão testados virtualmente. Não é raro encontrarmos veículos com menos de 130kg atingindo quase 60 km/h, com integridade estrutural superior aos modelos antigos. Além disso, o tão falado sistema de telemetria da Formula 1 já não é mais novidade, são muitas as equipes que acompanham em tempo real, nos boxes, as reações do veículo durante a prova.
É fato que o primeiro programa de competição para graduandos de engenharia da SAE BRASIL ainda não saiu da fase da adolescência. Mas pelos seus boxes e pistas de barro, desde a antiga pista Guido Caloi em São Paulo, passando pelo Autódromo de Interlagos e depois na tranqüila Piracicaba, já passaram mais de 10 mil bajeiros.
Espalhados pelo mundo, eles mostram talento principalmente em empresas do ramo automotivo, mas também em consultorias, setores de máquinas e ferramentas e até na área aeronáutica. Alguns já conquistam cargos de chefia. Outros partiram para a área de competições, incluindo Stock Car, provas de rally, incluindo o Rally Dacar e até mesmo à Formula 1, mostrando que o sonho de muitos pode sim tornar-se realidade. Ano a ano observamos cada vez mais portas se abrindo para esse laboratório de competências.
*Rafael Fassina Marques é engenheiro da Embraer e diretor geral da 15ª Competição Baja SAE BRASIL-PETROBRAS
Autor: Assessoria de imprensa