Discurso na cerimônia do dia do engenheiro de 2008

A imagem da Deusa Romana Minerva, ou Atena na mitologia grega. Filha de Júpiter. Deusa da sabedoria, da guerra, das ciências e das artes, vem sendo usada para representar qualidades como poder mental, prudência e sabedoria, habilidade para soluções práticas, capacidade de reflexão e o amor à beleza e perfeição. Tornou-se o símbolo maior da engenharia.

A Deusa que ensinou aos homens da antiguidade suas principais habilidades, caça, pesca, artes, foi adotada pela primeira vez no Brasil em 1893, por Antonio Francisco de Paula Souza, na fundação da Escola Politécnica de São Paulo, como símbolo da escola, provavelmente inspirado pelo desenho na fachada da Politécnica de Zurique, onde se graduou.

Pois em 1916, o mesmo Paula Souza trouxe a figura de Minerva para o recém fundado Instituto de Engenharia, que viria a presidir por um curto período.

Hoje, pela segunda vez, uma cópia do busto de Minerva de autoria de Caetano Fracaroli, feito na fundição do IPT em 1945, será utilizada para simbolizar e reconhecer a excelência e o destaque da contribuição de um grande engenheiro para este país e seus cidadãos.

Muitos aqui hoje, podem estar curiosos como o Instituto de Engenharia selecionou o merecedor do título de eminente engenheiro do ano de 2008.
Quais critérios imperaram na indicação dos candidatos?
Quem participou da escolha do homenageado?
Por que este determinado candidato foi escolhido?
Afinal o que se pretende com uma premiação destas?

Ora, senhoras e senhores, uma instituição quase centenária como o Instituto de Engenharia, que:
• Nunca poupou esforços na defesa da engenharia brasileira;
• Investe constantemente seus recursos na busca do conhecimento e na discussão de soluções para os problemas da sociedade;
• Incentiva a formação acadêmica e prática dos jovens e a atualização daqueles já formados ha mais tempo;
• Defende o exercício profissional, a engenharia e o engenheiro;
• Luta diariamente por um Brasil melhor;

Não pode se dar ao luxo de premiar uma celebridade instantânea, reconhecer o ocaso de uma carreira brilhante de alguma ilustre personalidade, trocar favores políticos com algum partido ou associação, ou simplesmente para melhorar o fluxo de caixa.

Num país carente de exemplos como o Brasil é preciso muito mais e uma instituição que pensa no futuro do país como o Instituto de Engenharia, não pode se apequenar concedendo um título olhando para trás, apenas como forma de reconhecimento das contribuições feitas pelo homenageado em sua vida profissional ou pessoal.

Senhoras e senhores, o passado pertence aos livros de história, e a ele devemos recorrer para nos tornarmos melhores, mais desenvolvidos, mais sábios. Deixando as memórias de tempos mais fáceis e confortáveis para as fotos de família.

O título de eminente engenheiro do ano é uma das, senão a mais importante forma de forjarmos uma nova geração de engenheiros, a quem passaremos a tocha, dando continuidade ao trabalho iniciado por Martim Afonso de Souza ao fundar a primeira vila brasileira no litoral de São Paulo.

O título de eminente engenheiro do ano contraria a cultura da mediocridade que assola esta nação, ao acrescentar mais um exemplo numa galeria de ilustres brasileiros, cujas vidas devem servir de inspiração, de modelo, de guia, de objetivo nas escolhas profissionais das próximas gerações.

E, por ser este um reconhecimento eterno, cujo prazo não vence em 12 meses. Convidamos a todos os Eminentes Engenheiros que aqui receberam este título e que estiverem presentes a se levantarem para participar desta homenagem.

O dia 11 dezembro foi escolhido como o dia do engenheiro e, por todo o país, associações, federações, clubes, institutos, sociedades, sindicatos e tantas outras instituições encontram sua maneira de prestar uma justa homenagem aos profissionais tão necessitados quanto esquecidos num Brasil atormentado por anos de crises internas e externas. Por governos ruins ou medíocres, responsáveis pela perda de uma geração de profissionais formados, atraídos pelas mais diversas e financeiramente mais compensadoras carreiras.

Poucos sabem, porém, que o dia 11 de dezembro tem um significado muito maior, pois há exatos 75 anos o DECRETO FEDERAL Nº 23.569, DE 11 DEZ 1933 regulamentava a profissão do engenheiro, do arquiteto e do agrônomo, criando também o sistema CONFEA/CREA.

Pois nesse dia 11 de dezembro, dia do engenheiro, aniversário do CONFEA/CREA, na homenagem a um engenheiro com destacada atuação na gestão pública, fazemos um alerta e uma convocação.

O Brasil está perigosamente excluindo os engenheiros da gestão pública. Flertando com o atraso e o perigo. Pois entrega setores estratégicos nas mãos de administradores, economistas, médicos, advogados e até delegados de polícia, pondo em risco vidas humanas, apenas para acomodar seus acordos políticos.

Prefeituras, secretarias, ministérios, autarquias, estatais em todas as esferas do serviço público, têm de reorganizar imediatamente seus departamentos técnicos, com administradores, prefeitos, secretários, ministros de áreas como habitação, saneamento, transporte, energia, mineração, gestão municipal, cujos cargos deveriam ser restritos a engenheiros.

Que fique claro que não pregamos uma absurda reserva de mercado profissional, pois não defendemos cartórios e feudos trabalhistas.

Mas quando vemos uma obra do metrô desabar;

Quando assistimos a malha rodoviária, dos maiores e mais importantes estados do país, se desintegrando, por falta de manutenção;

Quando assistimos um dos estados mais desenvolvidos do país, submergindo mais uma vez na lama do descaso;

Quando aceitamos a fé em Deus e o regime pluviométrico nacional como política energética de longo prazo;

Chegamos a conclusão que providências sérias e urgentes devem ser tomadas.

É hora do CONFEA/CREA estabelecer a necessidade, para não dizer obrigar, da contratação de engenheiros para departamentos técnicos e de fiscalização.

É hora dos cargos executivos do mais alto escalão de setores de infra-estrutura sejam preenchidos por engenheiros experientes, nomeados por critérios técnicos e não políticos.

É hora do CONFEA/CREA exigir do setor público os mesmo critérios do setor privado: planejamento, metas e resultados quantitativos e qualitativos.

É hora de parar de fingir que os governos podem ignorar o técnico em favor do político.
É hora de parar com as contratações de serviços especializados de engenharia por pregões. Trabalho intelectual não é mercadoria.

É hora de enterrar a cultura do preço inexeqüível, das obras paralisadas, dos objetivos eleitorais e eleitoreiros que nos condenam à políticas de longo prazo, que duram até a próxima eleição.

O Título de Eminente Engenheiro de 2008 é também um chamado urgente. Um alerta para a perda contínua de profissionais que construíram o Brasil moderno, elevando-o de pais subdesenvolvido, a líder emergente, cada vez mais próximo do primeiro mundo.

O Título de Eminente Engenheiro de 2008 apresenta o perfil de excelência que a sociedade espera e deve começar a exigir dos gestores públicos nomeados por seus representantes eleitos.

Enfim, o Título de Eminente Engenheiro de 2008 é o marco da luta do Instituto de Engenharia pela valorização da engenharia e do engenheiro.

Portanto, por uma carreira brilhante a serviço da engenharia, do estado e da cidade de São Paulo, por destacar-se em na gestão publica nas secretarias da habitação e transportes, pela produção técnica, acadêmica e literária, pelo exemplo a ser seguido, tenho a honra de entregar ao Engenheiro Adriano Murgel Branco, o título de Eminente Engenheiro do Ano. 

Obrigado

Autor: Edemar de Souza Amorim