A UPADI – Unión Panamericana de Asociaciones de Ingenieros encerrou ontem, em Brasília, no Centro de Convenções Ulisses Guimarães, a sua 31ª Convenção bienal, sob o tema básico “Engenharia e Infra-estrutura para o Desenvolvimento Social dos Países das Américas”, deixando claro que alguns questionamentos formulados no início do evento exigem respostas emergenciais, ao mesmo tempo em que as melhores soluções para o pleno desenvolvimento das profissões da área tecnológica nas Américas devem ser tratadas, a médio e longo prazos, com o devido planejamento. Segundo o engenheiro Cláudio Amaury Dall”Acqua, encerrando seu mandato à frente da entidade, os principais questionamentos são os seguintes:
– Por que o desenvolvimento tecnológico não foi acompanhado pelo desenvolvimento social?
– O que os engenheiros podem fazer diante das carências básicas que assolam seus países?
– Como atuar hoje para reduzir a miséria e democratizar as conquistas e a qualidade de vida que a Engenharia viabiliza?
– Como fomentar o desenvolvimento nos países pobres das Américas, somando forças, trocando experiências, conhecimentos e tecnologia, para reverter o atraso nos diversos níveis?
– Como criar, viabilizar e manter a infra-estrutura indispensável ao desenvolvimento sustentado?
”A comunidade da Engenharia – diz Dall”Acqua –, deve essas respostas à sociedade civil. A história do progresso não se escreveria sem a efetiva participação da Engenharia, mas essa história, em alguns momentos, tomou rumos inadequados, tornando-se muitas vezes dramática, injusta e perversa. Países emergentes, dotados de grande potencial de crescimento, devem traçar uma firme estratégia de desenvolvimento, que considere tornar suas empresas mais competitivas e suas populações melhor servidas pelo trinômio Estado, Iniciativa Privada e Sociedade Civil organizada”.
”Encontros como este em Brasília – conclui o engenheiro – podem contribuir para mudar o enredo da história, devolvendo à Engenharia o seu papel crítico, atuante e transformador, na promoção do desenvolvimento e da qualidade de vida das sociedades”.
Responsabilidade social
Na opinião do engenheiro Carlos Roberto S. Moura, presidente da Federação Brasileira de Associações de Engenheiros – FEBRAE, co-patrocinadora do evento ao lado de várias empresas e instituições públicas, como o Crea-SP e a Faeasp, “nós, engenheiros, somos vistos pela sociedade como promotores do progresso.
E temos orgulho do nosso papel de agentes impulsores do desenvolvimento econômico. Entretanto, o engenheiro do século XXI também deve se preocupar com as repercussões sociais do seu trabalho, já que, na nossa atuação, a abertura de uma estrada, a implantação de uma fábrica, a construção de uma hidrelétrica ou até mesmo de uma pequena casa afetam a natureza”.
“Conciliar desenvolvimento econômico e social com os cuidados ambientais, indispensáveis à sustentabilidade do planeta, beneficiará nossas futuras gerações, e este é o desafio que a FEBRAE propõe em discussões deste gênero” – conclui.
A integração continental na área dos transportes
Em breve apresentação sobre as ações do Ministério dos Transportes no projeto de integração terrestre do Brasil com os países fronteiriços, o engenheiro Francisco Luiz Baptista da Costa, diretor de Planejamento do órgão, disse que o governo federal, depois de décadas sem investir satisfatoriamente na área, resgata o conceito de planejamento com a implementação do Plano Nacional de Logística e Transportes – PNLT (acesse www.transportes.gov.br para conhecer a íntegra do documento). Segundo o engenheiro, o Plano visa, entre outras metas, a aumentar o investimento nas áreas consolidadas, para solucionar gargalos históricos; induzir o desenvolvimento em áreas de expansão das fronteiras agrícolas; e reduzir as desigualdades regionais em áreas economicamente deprimidas.
O diretor de Planejamento do Ministério dos Transportes informou que o destaque da integração regional sul-americana será a construção de pontes internacionais, algumas delas já em execução. “Serão obras de grande vulto, nos países do Mercosul, para incremento da capacidade de transporte rodoviário naqueles importantes corredores, e no norte do País, como no caso da ponte ligando o estado de Roraima e a Guiana” – declarou. Outra obra mencionada pelo engenheiro, contemplada pelo PAC, é a dragagem da hidrovia Paraná-Paraguai, visando à consolidação da mais importante rota de desenvolvimento econômico da região – o transporte fluvial.
Parceria Público Privada: a chave para o futuro
O engenheiro canadense Richard Fletcher, consultor internacional na área de Parcerias Público-Privadas (PPP), também se pronunciando no painel “Integração Física Continental: visão e conceitos”, concordou com o colega brasileiro no tocante à necessidade de resgate da idéia e da prática do planejamento pelos países carentes de infra-estrutura, como é o caso do Brasil. “No Canadá – disse o profissional – também temos déficits de infra-estrutura, mas concebemos as Parcerias Público-Privadas como solução definitiva para os nossos problemas de engenharia”.
O canadense explicou que as PPPs existem há cerca de duzentos anos e hoje são consideradas, nos países desenvolvidos, como “uma chave para o futuro”. “No entanto – disse -, a idéia não é privatizar os passivos públicos e nem se constitui num elixir mágico”. Fletcher aconselha: “É preciso que esse tipo de iniciativa conte com especialistas dos dois lados, pois um acordo de concessão deve ser muito bem elaborado” – lembrando que se trata de projetos complexos, que pode durar de 25 a 30 anos, com a adesão de múltiplos sub-contratantes.
Dirigindo a mesa do painel, o engenheiro civil José Roberto Bernasconi, presidente do Sinaenco, admitiu que “o Brasil ainda não conseguiu implementar o conceito das PPPs, mas, se quisermos realizar uma Copa do Mundo em 2014, a engenharia brasileira terá de se preparar para a utilização desse instrumento”.
A integração continental pela diminuição das desigualdades regionais
O engenheiro civil Joal Teitelbaun, diretor-presidente do Conselho do Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade (PGQP), disse durante o encontro que “a diminuição das desigualdades regionais, como elemento facilitador da integração continental na América do Sul, evoluiu muito desde a constituição do CRIAS –Comitê das Rotas de Integração da América do Sul, em 1996”, por iniciativa da seção gaúcha da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Chile. Inicialmente, o Comitê estudava alternativas para a interligação bioceânica Atlântico-Pacífico, mas a iniciativa tomou tal dimensão que a entidade, em 1998, teve sua abrangência estendida ao Mercosul e aos seus dois associados. Em 1999, passou a se chamar Rotas de Integração do Cone Sul. Desde 2000 abrange os doze países da América do Sul.
Comparando a geografia da América do Sul com a da América do Norte, Teitelbaun entende que “os Andes podem significar um obstáculo muito mais difícil de ser transposto, mas o obstáculo maior é a falta de união no meio da engenharia brasileira. Siglas e organismos não nos faltam, mas nossa cultura de integração ainda não está clara”.
O engenheiro gaúcho aponta como modelo para quebra de paradigmas em construção no Brasil a soma das forças da Institucionalização Técnica e da Iniciativa Privada, citando o exemplo da parceria IIRSA-Unasul (Iniciativa para Integração da Infra-estrutura Regional Sul-Americana + União das Nações Sul-Americanas), com o devido respaldo da sociedade civil.
Uma visão da Engenharia Civil para 2025
O engenheiro norte-americano Wayne Klutz, presidente da Sociedade Americana de Engenheiros Civis (ASCE), antecipou aos participantes do painel uma perspectiva da profissão elaborada por 60 engenheiros ligados a sua entidade, trabalho que resultou na publicação de um livro em junho de 2007 (para solicitar o livro, gratuito, escreva para http://[email protected] ou faça o download, acessando www.asce.org). Segundo o levantamento, a engenharia mundial orbitará em torno das células de combustíveis, da nanotecnologia e do trabalho descentralizado, enquanto a corrupção descerá a níveis aceitáveis. Diante de um cenário de ininterrupta evolução tecnológica, os engenheiros deverão assumir o papel de verdadeiros mestres, inclusive como gestores de riscos de acidentes naturais – o máximo que se pode esperar de um ser humano no controle da natureza.
Autor: CREA-SP