Crise causa incertezas no setor siderúrgico mundial

A crise internacional de crédito, que já afeta a demanda por aço em alguns países, notadamente nos Estados Unidos e Europa, leva o setor siderúrgico mundial a enfrentar “uma situação sem precedentes”, conforme avaliou Lakshmi Mittal, dono e o principal executivo do maior grupo siderúrgico mundial, ArcelorMittal.

“O que vemos em bases globais é uma situação muito imprecisa”, afirmou ontem em uma conferência do setor em Washington, em que foi nomeado presidente da Associação Mundial de Aço (WSA), anteriormente conhecida como Instituto Internacional do Ferro e Aço (IISI). 

Segundo o executivo, não há “visibilidade” no setor por conta da crise. Conforme ele explicou, os usuários de aço estão adotando uma atitude de “esperar para ver”, utilizando os estoques existentes antes de realizar novos pedidos. 

Devido a essa realidade, Mittal ratificou ontem a informação de que a ArcelorMittal poderá reduzir a produção em 15% “globalmente” caso necessário. Ele se recusou a dizer onde as reduções seriam efetuadas. A imprensa internacional já relatou que em países onde a demanda dá sinais mais evidentes de arrefecimento, como o Casaquistão, a produção já foi cortada. 

Outro grupo siderúrgico que estaria cortando a produção é a indiana Tata Steel. Neste caso a operação afetada era a da controlada Corus, que opera na Europa e que foi adquirida pela Tata no início do ano passado depois de uma disputa com a brasileira Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). 

Um porta-voz da Corus informou que o consumo diminuiu e a companhia está dando passos para ajustar a produção à a cerca de 20 milhões de toneladas de aço bruto por ano . “Há claramente uma desaceleração da demanda por aço, que nós pudemos notar no Reino Unido, nos mercados de exportação e no Sudeste Europeu”, afirmou o porta-voz.

 “Nós estamos dando os passos necessários para ajustar nossa produção para estar ligada com a nova realidade da demanda e manter os estoques em nível baixo.” 

Na Europa Central e a Ásia também têm se verificado redução do setor siderúrgico. Na Ucrânia, usinas em 17 de 36 alto-fornos. Quatro siderúrgicas chinesas estão em negociação para reduzir a produção de aço bruto em até 20% para manter os preços. 

Adiamento 

Com a crise de crédito, a WSA decidiu atrasar a previsão de crescimento do setor siderúrgico para o próximo ano. 

A estimativa total para 2009, que foi elaborada há cerca de 20 dias, portanto antes do acirramento da crise, não será divulgada agora, mas somente em abril do ano que vem, informou a associação. Segundo um executivo brasileiro que representa o Brasil na conferência, a WSA reduziu nessa projeção de 6,3% para 5,3% o crescimento da demanda pelo aço em 2009. 

“Nós estamos em um período de forte incerteza econômica”, justificou Ku-Taek Lee, que até agora presidia a entidade e é diretor-presidente da Posco . “Entretanto, nós continuamos a prever crescimento da demanda em 2009 e para o médio prazo, acima da taxa de crescimento do PIB”, disse, durante o encontro anual do setor, em Washington. 

O Fundo Monetário Internacional (FMI) previu que o crescimento mundial vai reduzir de 5% em 2007 para cerca de 3% ao final de 2008, acelerando novamente para 4% em 2009. 

Mittal avaliou ontem que os “fundamentos” de longo prazo da demanda siderúrgica não mudaram e o cenário para o mercado irá melhorar quando a crise financeira “Creio que é uma situação temporária, e todos nós esperamos que assim seja”, disse. “Quando essa situação tiver terminado, as coisas irão melhorar.” 

“Era prevista uma redução do crescimento da demanda global, mas se espera que a taxa permaneça positiva no médio prazo”, disseram analistas do Citi em relatório. “O aperto monetário crescente e um período de investimentos mais baixos em ativos fixos podem sufocar as perspectivas de crescimento”, afirmaram.

Autor: Gazeta Mercantil