A distinção entre telefone fixo e móvel será cada vez mais tênue. Conteúdos como notícias, emails e vídeos poderão chegar na mão do cliente através de qualquer aparelho, sem restrição geográfica, sem limitação de cabos e a um preço cada vez menor, de acordo com o volume de serviços contratado.
O panorama descrito é o que se pode esperar dos próximos 10 anos da telefonia no Brasil, segundo executivos e especialistas ouvidos pela Reuters. Dez anos após a privatização das telecomunicações no país, a convergência de plataformas e a consolidação das empresas cria expectativa de que um número crescente de serviços chegará ao consumidor por preços cada vez mais baixos e através do aparelho que ele quiser, onde estiver.
As concessionárias que assumiram as três grandes regiões em que o Brasil foi dividido por ocasião da privatização da telefonia fixa em 1998 –Telefônica, Oi e Brasil Telecom — dominam ainda mais de 95 por cento do mercado em suas respectivas regiões, como mostram pesquisas, diferente da expectativa da privatização sobre criação de competição no setor.
Na opinião do primeiro presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Renato Guerreiro, entretanto, “a convergência das plataformas fará com que o tempo equacione essa questão”, já que ele acredita que telefonia não terá mais a distinção entre fixa e móvel no futuro.
A integração de tecnologias também é citada pelo presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco. “O futuro, que já começou, é a integração dos serviços em uma só plataforma”, disse em entrevista à Reuters.
Falco lembra que hoje muitas pessoas já dispõem de telefone e email no mesmo dispositivo. A distribuição de serviços e conteúdos através de qualquer tipo de aparelho, em qualquer lugar, “vai mudar os hábitos das pessoas e até melhorar o trânsito”, afirmou o executivo referindo-se à redução de necessidades de deslocamentos gerada pela transferência de dados.
Na Oi, por exemplo, hoje algo como 20 por cento da base de clientes utiliza mais de um serviço. A oferta compartilhada começou há dois anos. Falco arrisca dizer que em 10 anos, “provavelmente 70 por cento da base já utilize” os serviços de forma integrada.
Portabilidade e concorrência
O recurso da portabilidade numérica, que permite a um assinante mudar de operadora (celular ou fixa) sem alterar seu número antigo de telefone, pode ajudar a estimular a competição.
O calendário previsto pela Anatel prevê que os primeiros testes com a portabilidade comecem a ser feitos em agosto deste ano. A implantação será gradual e atingirá todo o Brasil a partir de março de 2009.
O fato do Brasil ter hoje um número de celulares três vezes maior que o de linhas fixas é um efeito da competição, que na fixa inexiste, segundo afirma o presidente da Claro, João Cox.
Porém, críticas não falta à organização de longo do prazo da indústria no país. Guerreiro, afirma que “o setor está à deriva, ninguém sabe para onde vai daqui a 10 anos”, afirmou.
Ele lembra que as regras estabelecidas em 1998 previam uma reavaliação do modelo cinco anos depois, ou em 2003, o que não aconteceu. “Quais são as políticas públicas que o governo quer para o país?”, questiona. A situação, na avaliação dele, “gera certa insegurança para os investidores” e cria um cenário “absolutamente duvidoso”.
O ex-ministro interino das Comunicações e sócio da Orion Consultores Associados, Juarez Quadros, afirma que o país tem de avançar na atualização regulatória. “O ambiente regulatório está sempre a reboque do ambiente tecnológico. A Anatel precisa se antecipar às demandas tecnológicas”, afirmou.
O atropelo das regras pela tecnologia gera situações como a tentativa de compra da Brasil Telecom pela Oi, que não pode ser concretizada sem alterações de normas criadas 10 anos atrás. O negócio pode chegar a até 12,3 bilhões de reais e entre as justificativas estão convergência de tecnologias e ganhos de escala. A Anatel está avaliando as mudanças e pode atualizar o quadro regulatório ainda este ano.
Autor: Reuters