A palha da cana seca possui 45% de carbono; ao ser queimada, contribui para o aquecimento global
Reiteradamente, organismos internacionais têm criticado a queima da palha da cana-de-açúcar em nosso país. As denúncias acontecem quando a cana ultrapassa a energia hidráulica como fonte de energia da nação. Dados recentes comprovam que, para a expansão do vegetal, há terra disponível, e outras culturas não serão atingidas. Ademais, a cana não é invasora de terras cultivadas, e as áreas de plantio estão muito distantes da região amazônica.
O processo de produção da cana, do açúcar e do álcool no Brasil é comprovadamente intensivo na absorção de mão-de-obra, especialmente quando da colheita. Tradicionalmente, a fim de facilitar o corte da cana, é efetuada a queima da palha, inclusive diante das exigências dos trabalhadores agrícolas nas convenções coletivas.
Em 2002, o governo paulista fixou prazos para a erradicação da queima: 2021 (áreas mecanizáveis) e 2031 (áreas não mecanizáveis). O protocolo prevê a demarcação das áreas produtoras, a proteção das nascentes, a redução do consumo de água, além de boas práticas trabalhistas e sociais.
As indústrias sucroalcooleiras que aderirem à determinação governamental receberão um selo ambiental, o que servirá de credencial para a futura comercialização do álcool fabricado. São conhecidos os efeitos indesejáveis da queima da palha nas redes elétricas, nas rodovias, nas reservas florestais e na produção dos particulados. A palha da cana seca possui 45% de carbono. Ao ser queimada, vira CO2, que vai para a atmosfera, contribuindo para o aquecimento global.
No que concerne às repercussões na geração de empregos no setor canavieiro (cerca de 1 milhão de pessoas, sendo 80% na área agrícola), haverá sérios impactos sociais, com a substituição de um grande contingente de cortadores de cana pelas máquinas. A questão é complexa, quando o Brasil já apresenta uma das maiores taxas de desempregados do mundo, especialmente entre os jovens.
Hoje, com exceção da soja, a cana é a que mais bem remunera os trabalhadores da agricultura. Consoante as avaliações do CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), com a total mecanização das lavouras canavieiras no Estado de São Paulo, haverá a forçosa redução de 165 mil empregos em relação ao atual sistema de corte manual.
Na safra em curso (2008/9), mais de 40% da área de cana do Estado paulista já utiliza modernas máquinas colhedoras. Dessa forma, quando a colheita é estimada em 500 milhões de toneladas de cana, com crescimento de 16% sobre a safra anterior, em torno de 200 milhões serão recolhidos pelas máquinas.
É difícil prever como será recolocada a mão-de-obra canavieira, devido ao seu baixo nível de capacitação. Daí, a imprescindibilidade de políticas governamentais, voltadas ao setor da agroindústria, a fim de que não tenhamos graves problemas sociais, decorrentes da substituição humana pela mecanização.
As vendas de máquinas de cortar cana bateram recorde no ano de 2007, com 645 unidades comercializadas -aumento de mais de 100% em relação ao período de 2006.
Dessa forma, a frota brasileira de colhedoras de cana eleva-se para 2.263 unidades, sendo que a grande maioria opera no centro-sul. Os investimentos financeiros na compra das colheitadeiras é considerado, ainda, muito alto para a atividade canavieira e não há a pronta entrega das máquinas pelos fabricantes.
*Luiz Gonzaga Bertelli , 73, jornalista e advogado, é diretor dos departamentos de Infra-Estrutura e Meio Ambiente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), membro dos conselhos superiores de Energia e do Agronegócio, e presidente-executivo do Ciee (Centro de Integração Empresa-Escola) e da Academia Paulista de História.
Autor: *Luiz Gonzaga Bertelli