A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, conhecida pelas iniciais em inglês FAO, pede uma reavaliação das políticas de expansão do etanol e alerta que os bilionários subsídios dados pelos países ricos ao biocombustível estão contribuindo para a alta nos preços dos alimentos em todo o mundo. O alerta faz parte de um documento que será usado como base para sua cúpula na próxima semana e que definirá uma estratégia para que a crise dos alimentos possa ser superada.
O evento contará com a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que insistirá que o etanol brasileiro não pode ser culpado pela crise. A entidade alerta para a tendência de que os países ricos darão um volume cada vez maior de subsídios para garantir a competitividade de seu setor de biocombustíveis. A FAO ainda alerta que existe o risco de que os preços dos alimentos aumentem ainda mais no futuro.
Mas no documento obtido hoje pela reportagem, a FAO deixa claro que a demanda por açúcar, milho, cereais e óleo de palma tem sido um dos “fatores principais por trás da alta nos preços nos mercados internacionais”. “A produção e políticas de comércio de biocombustíveis devem ser reexaminadas diante dos efeitos possíveis nos mercados internacionais e na segurança alimentar, especialmente nos países vulneráveis”, afirmou a FAO.
“Para que tenham sucesso, as decisões tomadas nessa área precisam acima de tudo levar em conta a segurança alimentar mundial”, alertou a entidade. A FAO, porém, admite que existem diferenças entre os biocombustíveis. Segundo a FAO, o etanol de cana no Brasil é bem mais competitivo que os demais. Já o etanol de milho nos Estados Unidos não teria o mesmo desempenho.
O que preocupa a entidade é que tudo leva a crer que o volume de subsídios só irá aumentar nos próximos anos às usinas. O desempenho seria tão baixo em algumas regiões dos países ricos que governos estariam dando até US$ 1,00 de subsídios para cada litro de etanol produzido. Esse é o caso da União Européia e da Suíça, que transferem essa renda aos usineiros graças a esquemas de isenção fiscal, ajuda à produção e outros mecanismo.
Curiosamente, são os europeus que ameaçam abrir um processo contra os subsídios americanos ao setor, alegando que as práticas distorcem os mercados. Washington já alertou que, se isso ocorrer, um caso também será aberto contra os europeus pela mesma razão.
Para a FAO, o uso do milho e de cereais para o etanol é o que mais deve gerar uma alta nos preços dos alimentos. Hoje, 12% da produção mundial de milho já vai para o etanol. Na Europa, 60% dos cereais vão para o biodiesel, o que representa 25% da produção mundial.
Autor: Agência Estado