Sou engenheiro. Tenho orgulho de ser engenheiro. Sinto mesmo segurança de afirmar que, na realidade, sempre fui engenheiro.Trago a engenharia na alma, no sangue. Em minha casa seis irmãos se formaram engenheiros. Foi no exercício da profissão que senti o chamado da vida pública.
Esse apelo, acredito, nasceu da circunstância bem conceituada na definição de que o engenheiro é o profissional que, com base na ciência, transforma eficientemente recursos naturais em coisas úteis para a humanidade.
Ao tocar obras, como jovem engenheiro, percebi que, além de profissional bem formado, sou também um cidadão habilitado a contribuir de maneira mais abrangente para o bem da sociedade.
Percebi na prática como é verdadeira a missão do Instituto de Engenharia, a nossa entidade máxima, de promover a engenharia em benefício do desenvolvimento e da qualidade de vida da sociedade.
Em seus 90 anos de existência produtiva e exemplar, o nosso Instituto de Engenharia nos transmitiu a lição do sentimento comunitário. Tomamos consciência de que nenhum de nós é uma ilha. Todos nós pertencemos a uma comunidade e temos responsabilidade para com nossos semelhantes.
Essa lição, que o Instituto de Engenharia nos transmitiu na forma de missão, foi decisiva para que eu tomasse o rumo do Parlamento e, posteriormente, o do Executivo.
É uma honra, mas uma honra muito grande, ser escolhido Eminente Engenheiro de 2007 pelo Instituto que representa a minha profissão de maneira tão brilhante, de forma tão comprometida com o desenvolvimento e a qualidade de vida.
Desenvolvimento e qualidade de vida são sinônimos, no meu modo de ver e no modo de atuar. Só entendo as ações e medidas do desenvolvimento se tiverem como foco a melhoria da qualidade de vida das pessoas. Este é o nosso objetivo principal.
Foi isso o que aprendi tanto na faculdade com o convívio com os meus colegas engenheiros no Instituto de Engenharia, nas entidades afins, como na minha vida. É isso o que sempre coloquei em prática e procuro colocar, seja na vida pública, como parlamentar, e hoje como prefeito de São Paulo.
A engenharia me deu o compasso e a régua com que traço meu caminhar na vida pública. Neste ano, que para mim termina auspiciosamente, com esta honrosa distinção, tive várias oportunidades de praticar o que aprendi.
Pratiquei, na implantação da Lei Cidade Limpa, o que aprendi com engenheiros e com homens públicos. A lição, aqui, é a de que as ações devem ter um motivo claro, um planejamento criterioso, um apoio decidido das entidades envolvidas e beneficiadas.
O motivo, por exemplo, da Lei Cidade Limpa, como para quase todas as pessoas que vivem em São Paulo, era muito claro para mim, que nasci na década de 1960 e cresci sob o impacto da constatação de que a nossa cidade aparece entre as mais poluídas do mundo.
O motivo da Lei Cidade Limpa é a poluição visual, integrante do tenebroso conjunto das poluições que contaminam as metrópoles – poluição do ar, poluição das águas, poluição do solo, poluição sonora.
A partir de indicações, de constatações muito bem fundamentadas do nosso querido prefeito José Serra, hoje governador de todos nós paulistas e um dos homens públicos mais preparados da cena política brasileira, a quem eu tive a honra de suceder, a partir das primeiras ações contra a poluição visual tomadas por ele, constatei que estava ao meu alcance desencadear um ataque frontal à poluição visual. Sempre em sintonia, em colaboração com a nossa excelente equipe da Prefeitura de São Paulo, quase toda ela constituída pelo nosso líder, nosso grande comandante José Serra.
Com a ajuda essencial da população de São Paulo, implantamos a lei que proíbe outdoors e todo tipo de propaganda exagerada na cidade de São Paulo.
Agora, em dezembro, estamos completando os primeiros doze meses de Cidade Limpa. Os moradores de São Paulo ficam impressionados, quando vão a outras cidades e deparam com a poluição visual.
Nesse item, São Paulo vai deixando de ser exemplo de cidade poluída para se converter em modelo de metrópole que encontrou uma solução para a poluição. Avançamos, ao mesmo tempo, no combate a outros tipos de poluição.
Assinamos o contrato para a Inspeção Veicular Ambiental, que começou em outubro pelo sensoreamento remoto e a partir de maio do ano que vem passa a ser obrigatória para veículos em fase de licenciamento.
Um conjunto de ações tem procurado atacar as emissões de caminhões e ônibus, municipais ou intermunicipais.
Em junho de 2005, criamos o Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeconomia.
Desde julho de 2006, a Prefeitura trabalha na redução progressiva do enxofre no diesel vendido em São Paulo. A meta é chegar em julho de 2010 ao teor máximo de 15 partículas por milhão.
Assinamos convênio com a Sabesp, para recuperar o entorno dos mananciais paulistanos e o tratamento das águas de 40 córregos que cortam a cidade.
Aprovamos uma Lei que proíbe carros com aparelhos sonoros nas ruas do município e a utilização de amplificadores no comércio e nas feiras livres.
No Aterro Sanitário Bandeirantes, captamos o metano produzido pela decomposição das 7 mil toneladas de lixo nele depositadas diariamente. Também captamos o metano do Aterro São João.
Esse procedimento tinha um objetivo pioneiro de transformar o lixo em recursos para os melhoramentos da cidade. Essa, sem dúvida, foi uma das principais conquistas que nossa São Paulo pôde comemorar nos últimos tempos.
Conseguimos, no Aterro Bandeirantes, a maior certificação de aterro sanitário do mundo.
São Paulo foi a única cidade até hoje a controlar esses resíduos urbanos e transformá-los em energia elétrica para se credenciar à obtenção dos créditos de carbono conferidos pela ONU conforme o Protocolo de Kyoto, de 1997.
No Aterro Bandeirantes, o lento processo de decomposição do lixo produz uma mistura gasosa em que se sobressai o metano.
Por meio de um sistema seguro de captação, evitamos o escape de 80% do gás, que é em seguida queimado e propicia a geração de energia elétrica em uma usina térmica de 22 MW de capacidade instalada.
Além do ganho na qualidade do ar e na geração de energia, registramos em setembro o ganho financeiro, quando o holandês Fortis Bank arrematou por aproximadamente R$ 34 milhões o lote de 808 mil créditos de carbono que a Prefeitura colocou em leilão na BM&F.
O que até aqui era o formidável problema do lixo urbano, aos poucos se transforma em recursos para compensar os dissabores e transtornos sofridos por quem mora nas proximidades dos aterros.
Outra transformação notável que iniciamos é a da região que aos poucos a mídia se acostuma a chamar de Nova Luz, e que por algumas décadas foi denominada “Cracolândia”.
Trata-se de região que teve seu auge até meados do século passado, que se degradou quando a cidade cresceu em outras direções.
É uma região com invejável estrutura de transportes, de eletricidade, de água, de gás e de serviços.
Fomos então nos inspirar em soluções que deram certo em outras grandes cidades, com participação da iniciativa privada.
Com a proposta de concessão urbanística, a Prefeitura de São Paulo está viabilizando a demolição e reconstrução de uma área aproximada de 300 mil metros quadrados.
Esse processo já começou. Já fizemos as primeiras demolições. Já atraímos um grande número de empresas para a região. É uma reabilitação que já toma forma.
Onde por décadas existiu um grave problema social e policial, começa a nascer uma promessa de vida nova na cidade de São Paulo.
O problema policial, nas metrópoles do mundo, esbarra no velho conceito, quase um tabu, de que a segurança pública não é assunto da competência de autoridades municipais.
Na cidade de São Paulo, procuramos dar a contribuição municipal para a segurança, agindo em sintonia com as autoridades estaduais e federais. Não deixamos de agir. Queria aqui deixar registrado, inclusive o nosso reconhecimento às autoridades de segurança dos governos do estado e federal, pela exemplar parceira que tem conosco na administração na Cidade de São Paulo .
Por exemplo, adotamos a solução das centrais de monitoramento, começando em julho de 2006 com 13 câmeras instaladas no Vale do Anhangabaú e na Luz.
Nos meses seguintes, instalamos mais 35 câmeras, sempre em ruas de circulação intensa de pedestres, no Centro. E tem sido assim com muito cuidado a expansão e a instalação de novas câmeras.
A criminalidade diminuiu significativamente, nessas áreas. Foi expressiva, também, a redução do comércio ilegal de mercadorias pirateadas, contrabandeadas, provenientes de roubos de cargas de caminhões.
Outra incursão municipal na área da segurança resultou no fechamento de todos os bingos da cidade de São Paulo.
Essa foi uma tarefa especialmente complexa e demorada, que teve de vencer antes a barreira de liminares e de argumentos levados à mídia.
Conseguimos provar que os bingos funcionavam ilegalmente. Fomos fechando um de cada vez, até que todos estavam e continuam fechados.
Intervenções desse tipo, que durante o ano de 2007 registraram a média de quase 100 por mês, têm o objetivo de corrigir mazelas que se sedimentaram por muitas décadas.
Têm que ser feitas e continuarão a ser feitas, em nome da lei e da vida civilizada. Mais importante que elas, no entanto, são as intervenções destinadas a preparar a cidade para o futuro.
Nesse sentido, cabe destacar a absoluta prioridade que damos à Educação.
Dar prioridade à Educação!
Repetimos essa frase todos os dias. Mas não ficamos na repetição da frase. Entramos em ação.
Cumprimos a promessa de campanha de acabar com as escolas de lata e as salas de lata. Com firmeza, nos empenhamos em acabar com o chamado “turno da fome”, que coincide com o horário do almoço. Para aqueles que não sabem, o turno da fome é aquele turno que começa às 11 da manhã, no mesmo horário que sai a turma das 7 da manhã. Portanto, a turma que entra já se encontra com a turma que sai, já tem bagunça. E sai no mesmo horário que entra a turma das 15. E as crianças ainda têm que almoçar. Portanto, é evidente que não existe educação para essas crianças.
Para isso, estamos construindo agora mais 70 novas escolas e 25 novos CEUs. Concluídos, nós teremos até o final da gestão eliminado o terceiro turno na nossa rede pública municipal.
Investimos também no professor. Este ano, os professores em sala de aula receberam o maior aumento de rendimentos da história recente da cidade.
No final de novembro, recentemente, encaminhamos à Câmara dos Vereadores um projeto de lei que prevê uma ampla reforma no ensino municipal.
Vamos reorganizar os quadros dos profissionais de educação. Instituímos conceitos, como a premiação por mérito e o novo plano de carreira.
Vamos ampliar a carga horária dos alunos e ensinar melhor a eles. Desde 2006, o programa “Ler e Escrever” vem reduzindo substancialmente o analfabetismo entre alunos das primeiras séries.
Agora, em setembro, iniciamos o Programa Aprendendo com Saúde, para evitar que o rendimento escolar das crianças caia por causa de problemas de saúde.
Dar prioridade à Educação. É nisso que acreditamos. Essa é a ferramenta que estamos decididos a utilizar para diminuir a desigualdade social.
A desigualdade social é o terrível problema-síntese de todos os problemas que enfrentamos no Brasil. Na cidade de São Paulo, estamos combatendo a desigualdade social com ênfase na educação, na formação profissional, na inclusão digital. Um programa de extrema importância coordenado pelo nosso querido secretário Ricardo Montoro.
A Prefeitura já tem 223 Telecentros espalhados pela cidade, com cerca de 1,5 milhão de usuários cadastrados. Fazem parte do Programa de Inclusão Digital, que democratiza o uso de computadores com acesso a internet.
Além de preparar para a disputa de postos no mercado, a Prefeitura dá suporte aos trabalhadores com o Centro de Apoio ao Trabalhador, o CAT, que facilita o contato entre os profissionais desempregados e as empresas que tenham vagas disponíveis.
Em seus dois primeiros anos, os CATs já conseguiram vagas para 97 mil trabalhadores paulistanos.
Na área da saúde pública, o desafio é resgatar a qualidade, é trabalhar para que a população paulistana receba um bom atendimento. Demos já alguns passos importantes e fundamentais nesse sentido.
Em meados do ano inauguramos o Hospital de Cidade Tiradentes, o primeiro hospital municipal criado em 17 anos. Logo, logo, digo em algumas semanas, vamos abrir um outro, no M´Boi Mirim. Cuidamos também da estrutura já instalada: reformamos mais da metade dos postos de saúde e vários hospitais municipais.
Foi resolvido o problema da distribuição de remédios nos postos e implantamos o programa do remédio em casa, que entrega o medicamento pelo correio a todos os portadores de doenças crônicas em situação estável.
Fizemos parcerias para que hospitais de ponta cuidem de serviços de saúde na periferia. As parcerias são de referência, nos enchem de orgulho, incluem a Universidade de São Paulo, a Unifesp, as Irmãs Marcelinas, o Albert Einstein, a Santa Casa de Misericórdia, o Sírio Libanês, o Samaritano a Unisa, enfim outros, de maneira que a tecnologia de saúde que atende os bairros mais ricos chegue também aos mais pobres.
Agora, na primeira semana de dezembro, concluímos o projeto de 100% da informatização dos serviços de saúde do Município.
O sistema integrado dá mais agilidade às consultas e exames, facilitando o acesso da população aos serviços de saúde da Prefeitura. Com a informatização, fica mais fácil para o cidadão escolher datas e locais onde fará consultas ou exames médicos.
Isso significa, em números, uma rede de computadores unindo 407 Unidades Básicas de Saúde, 22 Ambulatórios de Especialidades e 52 AMAs.
Aliás, as AMAs merecem uma palavra: são unidades de saúde que não existiam.
Criadas em 2005 pelo então nosso governador José Serra, então prefeito, já são 54, atendendo mais de 500 mil pessoas por mês. Em breve, em breve mesmo, em poucos meses serão mais de 100.
As AMAs dão atendimento para casos urgentes que não requerem atendimento hospitalar ou de pronto socorro.
São portanto 500 mil pessoas que se não fossem atendidas ali, iriam formar filas em prontos-socorros. Uma solução simples, que melhorou a qualidade de vida do paciente e reduziu filas.
Dessa maneira, a Secretaria Municipal de Saúde tem melhorado a qualidade, o controle e a eficiência da rede pública de assistência médica e ambulatorial. Ainda não chegamos ao ponto ideal. Mas estamos avançando.
Estamos avançando, igualmente, na urbanização de favelas e na eliminação das áreas de risco geológico de desmoronamento e desbarrancamento de encostas de morro e margens de córrego.
Desde 2005, a Prefeitura executou mais de 200 obras em quase 600 locais mapeados como áreas de risco em 20 Subprefeituras.
Seja eliminando as áreas de risco, seja promovendo o maior programa de urbanização de favelas de nossa história, o objetivo é o mesmo: garantir que mais e mais pessoas vivam dignamente e em segurança em São Paulo. Queria registrar com carinho a presença do nosso secretário de Habitação, Orlando Almeida, aqui presente.
Foi isso que o que aprendi em casa, numa família de engenheiros. Foi isso o que me ensinaram as aulas da faculdade e o convívio com o Instituto de Engenharia. É isso que acredito, é esse o meu credo.
Creio que a obra mais cara é a obra inacabada. Por isso, a atual administração se dedica à conclusão de apenas duas grandes obras, a Ponte Estaiada sobre o Rio Pinheiros e o antigo Fura-Fila, que requalificamos e denominamos Expresso Tiradentes. No restante, o que executamos são pequenas obras, de custo adequado ao orçamento municipal e de efetivo benefício para a comunidade. São as novas escolas, as novas unidades de saúde, é a urbanização das favelas, é a eliminação das áreas de risco, é a preparação da cidade para o período das chuvas.
Creio que a preocupação central e essencial do administrador público, no Brasil de hoje, deve ser a desigualdade social. Temos que diminuir o escandaloso fosso cavado entre os muito ricos e os miseráveis. Temos que dar oportunidade, pela via da educação, para que as populações mais carentes se desenvolvam e possam disputar os melhores postos no mercado de trabalho.
Creio que faltam projetos de futuro, no Brasil de um modo geral e particularmente em São Paulo. Os últimos que o município paulista conheceu foram os iniciados ou esboçados lá atrás por prefeitos como Jânio Quadros, Figueiredo Ferraz, mais de vinte anos atrás, Faria Lima. Os ensinamentos da engenharia alertam para a urgência de se corrigir essa falha. É o que estamos fazendo, com a criação de um grupo de trabalho encarregado de elaborar projetos para a cidade de São Paulo. De um modo geral, são projetos que esta administração não vai tocar. São projetos no futuro da cidade, a serem executados por administrações futuras.
Creio no futuro da nossa cidade. Nesta administração, estamos dando passos que vão garantir melhor qualidade de vida para a gente paulistana. Estamos apontando o caminho ideal a ser seguido. É sincera e firme a nossa intenção de continuar a contribuir pessoalmente, diretamente, para semear, cultivar e ao cabo participar dos festejos da colheita.
Por tudo isso, quero encerrar com a renovação de minha profissão de fé na engenharia.
Na convivência com políticos de diferentes formações, tenho aprendido o valor inestimável do sonho, da busca do ideal.
É nesses momentos que mais claramente percebo a importância da minha formação de engenheiro. Damos objetividade aos sonhos. Conhecemos os cálculos capazes de concretizar os ideais.
Dispomos dos meios de trazer, para o plano da realidade, o que brota no plano dos anseios e desejos.
O meu muito obrigado a todos. O meu muito obrigado ao Instituto de Engenharia. A todos vocês, o meu boa-noite.
Autor: Gilberto Kassab