Falar sobre o trânsito é abordar um tema que faz parte de nossa vida, pois basta sairmos de casa e passamos a ser usuários das vias, como pedestres usando as calçadas, ou como motoristas e passageiros usando as pistas de rolamento.
As Prefeituras não conseguem oferecer transporte público de massa que acompanhe a demanda e que possibilite alternativas ao uso do carro particular e o sistema viário novo, ao ser aberto à circulação, já não é suficiente para o volume de veículos atraído.
A circulação segura deve ser a maior prioridade no trânsito, apesar de sermos muito afetados pela fluidez que piora diante do aquecimento da economia refletida no aumento expressivo da venda de veículos.
As estatísticas no trânsito indicam cerca de 34.000 mortes e 300.000 feridos no Brasil, que segundo o IPEA, totalizam gastos da ordem de 22 bilhões de reais anuais nos acidentes rodoviários e cerca de 5,3 bilhões nas áreas urbanas, assunto que foi motivo de palestra no IE recentemente.
No caso específico do excesso de velocidade, que é uma das maiores causas de acidentes, estudos no Brasil e no exterior têm demonstrado que 85% dos motoristas transitam em velocidades abaixo da considerada de segurança para eles. Por que ocorrem tantos acidentes com mortes por causa da velocidade?
Será que os órgãos de trânsito urbanos e rodoviários, e as concessionárias de rodovias estão oferecendo de fato condições de segurança na infra-estrutura da via e rodovia e regulamentando a velocidade de acordo com estas condições?
Em um caso real, uma rodovia recuperada e reformada com pavimentação de alta qualidade, manteve curvas com superelevação invertida, sinalização horizontal de dupla amarela em trechos adequados para a ultrapassagem, e velocidades de 80km/h regulamentadas nos trechos seguros (poderia ser tranquilamente 90km/h pelas condições da via), trechos enormes a 60km/h (a maioria está circulando a 80km/h) e trechos com regulamentação de 40km/h, no meio da rodovia, inesperadamente.
O controle da velocidade por equipamentos conhecidos como “radares”, são fundamentais para coibir o abuso e reduzir os acidentes, mas problemas técnicos como estes citados induzem às infrações e aos acidentes, devendo se avaliar, então, o que está descrito no Código de Trânsito Brasileiro, em praticamente todos os artigos de seu capítulo II referente às competências dos órgãos de trânsito: CUMPRIR E FAZER CUMPRIR A LEGISLAÇÃO E AS NORMAS DE TRÂNSITO.
CUMPRIR………PARA FAZER CUMPRIR…….
Para FAZER CUMPRIR, TEMOS QUE CUMPRIR, corrigindo os problemas existentes e aprimorando a relação com os clientes cidadãos, que são de fato os verdadeiros usuários das vias.
Quando isto ocorrer, o número de infrações será muito menor, pois as pessoas confiarão e reconhecerão o que será oferecido em termos de segurança e os “radares” pegarão aqueles que são os infratores contumazes, aqueles 15% que põem em risco sua vida e as dos outros também.
Por isso a importância do trabalho integrado, poder público e sociedade, buscando a capacitação dos técnicos do setor, mudança no comportamento dos usuários das vias, utilização de moderna tecnologia, fiscalização presente e julgamento justo de recursos de multas, realizados planejada e permanentemente, possibilitando o respeito mútuo, uma maior credibilidade nas ações públicas e a redução do número de mortes no trânsito do Brasil.
Arq. e Urb. Maria da Penha P. Nobre, arquiteta e urbanista, coordenadora da Divisão de Trânsito do Instituto de Engenharia e diretora da Plano Consultoria e Tecnologia
Autor: Maria da Penha P. Nobre