Na mesma semana em que o Governo Federal anunciou a retomada das obras da Usina Nuclear Angra 3, o Instituto de Engenharia realizou um Simpósio para discutir opiniões e atualizar informações a respeito da ampliação da utilização da energia nuclear. As apresentações feitas por vários especialistas possibilitaram um melhor conhecimento das questões relacionadas ao uso da energia nuclear no Brasil, incluindo uma visão absolutamente técnica de todo o ciclo de produção do material radioativo a ser usado como combustível.
A Usina Angra 1 encontra-se em operação desde 1983 e fornece ao sistema elétrico brasileiro uma potência de 657 MW. Angra 2, após longos períodos de paralisação nas obras, iniciou sua geração em meados de 2000 e entrega ao sistema mais 1300 MW. A participação da energia nuclear na matriz energética brasileira não supera 1,3% do total da energia produzida.
Mas, as coisas não correram muito bem para a indústria nuclear nos últimos 28 anos. Primeiro, foi o acidente na usina de Three Mile Island, nos Estados Unidos, em 1979 e, depois, o desastre de Chernobyl, na Ucrânia, em 1986. Durante esse período, os ambientalistas mais conservadores tiraram proveito dos acidentes e dos incidentes para reunir argumentos e criar todo tipo de dificuldade para a utilização da energia nuclear.
Apesar de todas as reações contrárias, na França, quase 80% da energia elétrica produzida provêm de usinas nucleares, na Bélgica e na Suécia são mais de 50% e nos Estados Unidos são 20%. No mundo, existem mais de 440 usinas nucleares em operação, mais de 30 plantas em fase de construção e cerca de 200 usinas em processo de estudos ou projetos.
No Brasil, por um longo tempo, acreditou-se que não valia a pena correr os riscos inerentes à construção e operação de usinas nucleares e que a energia proveniente de usinas hidrelétricas – existentes e futuras – seria suficiente para abastecer toda a demanda. Entretanto, a construção de novas usinas entrou em ritmo lento e os projetos começaram a sofrer solução de continuidade, principalmente, pela falta de recursos financeiros e pelos impactos ambientais causados, seja durante a fase de construção ou pela formação dos lagos necessários à acumulação da água.
Hoje, mesmo para baixos níveis de crescimento da produção nacional, já se fala em falta de energia para os anos vindouros e começam a haver manifestações de importantes setores da economia, no sentido de reduzir o ritmo do desenvolvimento ou mesmo redirecionar os investimentos para outros países.
E, é bom levar em conta que projetos de construção de usinas para geração de energia exigem longo prazo de maturação e demandam altos investimentos. Estudos realizados pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, demonstram, para os próximos 25 anos, a necessidade de mais de R$ 600 bilhões, só para atender à demanda futura por energia elétrica.
Assim, não se trata de substituir uma fonte de energia por outra ou mesmo investir em fontes energéticas que não sejam seguras e confiáveis. É preciso aumentar o ritmo de construção das novas usinas hidrelétricas, desenvolver novas fontes baseadas na utilização da biomassa, incrementar o uso de energia proveniente de fontes eólicas e retomar o programa de construção de usinas nucleares, agora com muito mais tecnologia e muito menos riscos para a sociedade. Tudo isso, ao mesmo tempo…
Francisco Christovam: ex-presidente da CMTC/SPTrans, atual Diretor de Relações Externas do Instituto de Engenharia e da FChristovam Engenheiros Associados
Autor: Francisco Christovam