Os acidentes de trânsito não são meros produtos da fatalidade que nos cumpre aceitar. Bem ao contrário, trata-se de um problema concreto sobre o qual podemos atuar mediante um planejamento correto e o uso de recursos técnicos que estão à nossa disposição. As dimensões do problema são enormes, configurando, em termos de saúde pública, uma verdadeira epidemia, As mortes no trânsito, no Brasil, passam de 30 mil por ano. Embora a perda de vidas humanas, as mutilações e os sofrimentos causados pelos acidentes de trânsito não sejam mensuráveis em termos econômicos, podem ser calculados os custos deles decorrentes. Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada concluído no ano passado aponta custos de R$ 22 bilhões por ano como conseqüência dos acidentes nas rodovias brasileiras. Acrescente-se a isso mais R$ 6 bilhões por ano relativos às principais regiões metropolitanas, segundo estudo anterior desse mesmo Instituto.
È clássica a divisão da responsabilidade nos acidentes pelos três fatores intervenientes – homem, veículo e via – atribuindo-se 70% ou mais ao fator humano. Assim, campanhas de trânsito são preconizadas visando diminuir os acidentes mediante a melhoria do comportamento do homem ao dirigir, já que ele responde pela maior fatia causal do problema.
Com vistas a reduzir as proporções dos acidentes, considero essa colocação se não incorreta, pelo menos seriamente incompleta. Sem desconsiderar o papel da educação no trânsito, cabe lembrar que seus efeitos só aparecem a médio e longo prazo, mesmo porque o comportamento humano é algo muito complexo e não é fácil agir sobre ele. As condições de segurança dos veículos vêm tendo uma gradativa evolução, principalmente nos modelos mais recentes, mas o efeito sobre a frota global brasileira só será sensível ao longo prazo com a saída de circulação dos veículos mais antigos. Já a atuação sobre o fator via pode oferecer resultados imediatos. Assim, muito mais importante do que a distribuição da responsabilidade pelos acidentes é analisar a sensibilidade que o problema acidentário apresenta para os diversos tipos de atuação sobre cada um dos fatores intervenientes.
Na realidade, esses três fatores sempre coexistem, formando um trinômio cujos elementos interagem entre si, de tal forma que, se um deles for a causa primária de um acidente (fator desencadeante), os outros dois atuarão como fatores condicionantes, minorando ou agravando as conseqüências do acidente. Assim, se devido a uma manobra incorreta um veículo sair da faixa de rolamento da estrada e precipitar-se num despenhadeiro, ocasionando a morte de seus ocupantes, dir-se-á que uma falha humana foi a causadora do acidente. Entretanto, se nesse local da estrada existir uma defensa adequada, impedindo que o veículo saia da plataforma da estrada, muito provavelmente, tal tipo de acidente se resumiria em apenas alguns danos materiais. As condições da via, nesse caso, exercem uma ação condicionante sobre o acidente, reduzindo-lhe substancialmente as conseqüências.
Como exemplo dramático do que foi afirmado, cite-se o caso, ocorrido em 21 de fevereiro de 2004, na BR-116, na localidade de Barro, estado do Ceará, com o ônibus da Viação Itapemirim que invadiu a contramão e foi cair no açude Cipó, matando todos os seus 42 ocupantes.
Em conclusão: uma efetiva redução do número de vítimas de trânsito, pode ser obtida com uma forte atuação na melhoria dos requisitos de sinalização e segurança das vias.
Claudio Jacoponi, engenheiro civil, especialista em transporte e associado titular do Instituto de Engenharia.
Autor: Claudio Jacoponi