Implantada inicialmente em 20 km nas Avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes, a Faixa Azul apresentou resultados surpreendentes, ao conseguir zerar o número de mortes de motociclistas nos dois trechos em quase 2 anos de funcionamento. Por conta disso, a Prefeitura atua agora para levar essa solução de engenharia de tráfego para outras vias da cidade com níveis de acidentes considerados elevados, expandindo a ação para mais 200 km até 2024.
Para os críticos que costumam falar que a tendência é de que o trânsito na cidade só deve piorar, a Faixa Azul demonstrou que é possível encontrar soluções práticas e eficientes para prevenir acidentes, salvar vidas e, também, melhorar a mobilidade na capital paulista.
A solução, claro, não se encontra apenas em uma iniciativa isolada. O caminho passa por um conjunto de ações que, combinadas, buscam apresentar resultados positivos para o problema do trânsito, considerado complexo e que atinge todas as grandes metrópoles do mundo.
Nessa combinação de forças, inteligência artificial, reformulação do sistema viário, recapeamento das vias, congelamento das tarifas de ônibus e reforço das equipes de resgate e atendimento às vítimas estão entre as medidas adotadas.
Recentemente, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), participou do evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da Experiência em Vias do Município de São Paulo, promovido pelo Instituto de Engenharia, na capital paulista.
Em entrevista após sua participação no evento, Nunes exaltou os resultados conquistados pela Faixa Azul, destacando a importância em conseguir expandir a iniciativa para outras vias. Dessa forma, a Prefeitura pretende ampliar a ação para mais 200 km até o fim de 2024.
Por se tratar de uma questão experimental, porém, o prefeito disse que a liberação depende da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran). “Nós temos lá o projeto de pedido de autorização para fazer a implementação de mais esses 200 km e estamos aguardando.”
Como as vias já foram analisadas e mapeadas, a implementação das novas faixas começará assim que a liberação chegar. “Cada km que você faz de Faixa Azul você está evitando acidentes e óbitos.”
Mobilidade e tecnologia
Além dos resultados positivos conquistados, a Faixa Azul demonstrou a possibilidade de encontrar caminhos para aprimorar a mobilidade. Entre as maiores metrópoles mundiais, São Paulo, porém, é complexa, como qualquer grande município. “Aqui nós temos 9 milhões de veículos por dia. Foi uma cidade que cresceu muito rápido e sem planejamento”, destacou o prefeito.
Dessa forma, melhorar a questão do trânsito exige a adoção de uma série de ações conjuntas. Entre as novidades, a possibilidade de contar com tecnologia de ponta.
“Tem uma ação bastante importante que eu acho que vai acabar dando certo. Nós recebemos a oferta da Ambev de oferecer, de forma gratuita, um aplicativo de inteligência artificial para poder prever acidentes.”
De acordo com Ricardo Nunes, a proposta ainda está em fase de diálogo. Caso o projeto seja viabilizado, a empresa disponibilizará a solução capaz de identificar com maior potencial acidentes de trânsito.
Ações interligadas
Independentemente disso, o prefeito destacou ainda uma série de outras ações em andamento para melhorar a questão do trânsito. O primeiro ponto é o incentivo ao transporte coletivo. “Nós estamos há 3 anos consecutivos sem aumentar a tarifa de ônibus. A Prefeitura resolveu arcar com esse subsídio para poder incentivar.”
Outra medida importante é a expansão das linhas de metrô e trem. “Nós temos 102 km de metrô na cidade. Estão em construção mais 36 km, sendo 34 km de metrô e outros 2 km da CPTM.”
Ainda durante a entrevista, Ricardo Nunes aproveitou para salientar os R$ 4,6 bilhões de investimentos em mobilidade previstos para este ano. A quantia será destinada para obras como os corredores de ônibus que atuam como vias de trânsito rápido, conhecidos como BRT.
“Infelizmente, muitas dessas obras, o Tribunal de Contas do município há meses parou elas. Eu lancei o edital do BRT Radial Leste, Corredor Interlagos, Corredor Imirim, Corredor Amador Bueno, Terminal Itaquera. (São) várias obras importantes de mobilidade e o Tribunal de Contas parou.”
Nunes destacou a importância do órgão em atuar “fortemente” na fiscalização. Mesmo assim, lembrou a relevância das ações para a população. “O que eu tenho, como prefeito, que registrar é só que o tempo da demora é muito prejudicial às pessoas, porque já poderiam estar se beneficiando desses investimentos ou antecipando a utilização desses benefícios.”
Segurança viária
Já durante sua fala no evento promovido pelo Instituto de Engenharia, o prefeito destacou o comprometimento de São Paulo com a promoção da segurança viária, preservando a vida de todos, sejam motoristas, motociclistas, pedestres, ciclistas. “É preciso criar uma verdadeira cultura de cuidado e proteção no trânsito da capital.”
Na sequência, apresentou outras ações adotadas pela gestão municipal. Entre elas, o novo programa de recapeamento da cidade. Até o momento, a iniciativa completou 5,8 milhões de metros quadrados de asfalto novo no Município. “É o equivalente a sair daqui (São Paulo) e ir até o Uruguai, até Montevideu.”
Até o fim de 2024, o projeto pretende concluir 20 milhões de metros quadrados de asfalto novo em São Paulo. “O que ainda é pouco, pois nós temos 192 milhões de metros quadrados”, afirmou o prefeito.
Nunes lembrou a ausência de grandes projetos relacionados com o recapeamento durante muitos anos. Por conta disso, há a necessidade da realização desse trabalho. “O ideal seria fazer 70 milhões de metros quadrados que já passaram do tempo de se trocar. Asfalto é igual a uma lâmpada, um celular. Tem um tempo de vida.”
Lembrando a relação dessas ações com a promoção da segurança do sistema viário, o prefeito destacou outra iniciativa relevante. Atualmente São Paulo conta com 99,3% da iluminação municipal com lâmpadas de led.
Aproveitando o gancho, Nunes abordou em sua apresentação os semáforos do Município. “Ficamos muitos anos sem conseguir fazer a licitação para poder modernizar o sistema semafórico. Ficou a licitação parada anos e anos no Tribunal de Contas do município quando, no ano passado, a gente conseguiu, através de uma análise da nossa equipe, fazer com que houvesse uma possibilidade jurídica.”
Dessa forma, o prefeito explicou que os especialistas identificaram a possibilidade de pegar a PPP (Parceria Público Privada) ativa da iluminação e fazer um aditivo para cuidar também da questão do sistema semafórico. “É fazer a manutenção e, mais do que isso, fazer a atualização de software, equipamentos”.
Nunes destacou que atualmente já é possível identificar melhorias. “Quando concluirmos todo esse trabalho teremos então um sistema muito melhor com relação à questão dos semáforos na cidade.”
Por fim, o prefeito salientou em seu discurso a ampliação dos equipamentos de saúde no Município, importantes também para a preservação das vidas quando ocorrem possíveis acidentes de trânsito. “Até 2016 só tínhamos 3 Unidades de Pronto Atendimento (UPA). Hoje nós temos 23. Foram 20 UPAs de 2017 para cá.” A previsão é que mais 18 unidades sejam entregues até o fim do próximo ano.
Importância do debate e das ações
Ao encontro das considerações do prefeito da cidade, representantes do Instituto de Engenharia ressaltaram durante o evento a importância do debate constante para encontrar soluções para melhorar o sistema viário da cidade, assim como para contribuir com outros importantes setores da sociedade. Com empenho, é possível colocar a engenharia para atuar em benefício da qualidade de vida.
Ao destacar os esforços da CET pela segurança no trânsito e os resultados conquistados pela Faixa Azul, o presidente do Instituto de Engenharia, José Eduardo Frascá Poyares Jardim, lembrou o objetivo do projeto, que é o de preservar vidas.
“Esperamos que o benefício proporcionado pela Prefeitura do Município de São Paulo ao trânsito da nossa cidade e, em especial, aos motociclistas seja reconhecido pelos usuários e pelas prefeituras de outras cidades do Brasil para que multipliquem essa ação, colaborando para a campanha de educação no trânsito.”
Por sua vez, o vice-presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia, Ivan Metran Whately, lembrou o trabalho realizado há anos pela instituição, ressaltando a necessidade de todos continuarem a trabalhar para avançar ainda mais nas ações. “Esperamos que venham mais medidas de engenharia para ajudar a cidade de São Paulo.”
Para assistir à gravação do evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da experiência em vias do Município de São Paulo, acesse o site do Instituto de Engenharia.