Boa noite a todos, senhoras e senhores.
É uma grande honra tê-los presente nessa solenidade, quando tomo posse como o quadragésimo quarto presidente desta Casa centenária.
Ao ser convidado para participar da eleição para presidente do Instituto de Engenharia, fiquei muito sensibilizado pela lembrança do meu nome, mas ao mesmo tempo preocupado em exercer um cargo de tamanha responsabilidade.
Confesso que inicialmente, hesitei em aceitar, mas acabei assumindo o desafio; e agradeço, na pessoa do engenheiro Paulo Ferreira, meu antecessor, todos aqueles que me prestigiaram e me incentivaram.
Me formei pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1961, mesmo ano em que me associei ao Instituto de Engenharia.
Antes mesmo da formatura, como estagiário, já tive a oportunidade de atuar na Engenharia, em obras e projetos, em particular no cálculo de concreto armado e protendido.
Comecei minha carreira profissional na empresa Azevedo & Travassos, a convite do saudoso engenheiro Bernardino Pimentel Mendes (que já presidiu o IE) como engenheiro de campo, executando obras de terraplenagem, pavimentação, fundações e construções civis. Por 38 anos participei da empresa, da qual me tornei acionista e vice-presidente.
Em minha jornada, sempre procurei me aperfeiçoar buscando novas tecnologias no Brasil e no exterior. Tive a oportunidade de atuar na indústria de Petróleo e Gás, executando obras de construção de dutos e perfuração de poços de petróleo, entre outras atividades. Tive também, o privilégio de participar da criação da primeira empresa de petróleo privada brasileira – a Azevedo e Travassos Petróleo, da qual fui diretor-superintendente.
Participei da criação da INTECH ENGENHARIA Ltda, uma das pioneiras na perfuração direcional dirigida e na execução de “shore approach” para dutos submarinos. Por muitos anos dirigi a empresa.
Hoje, sou acionista e presidente do Conselho de Administração da empresa CLUSTER DE BIOENERGIA, que atua em projetos de usinas de biocombustíveis.
Levo meu conhecimento na área de energia para os debates e eventos do Instituto de Engenharia, como responsável pela Divisão Técnica de Óleo, Gás, Biocombustíveis, Mineração e Dutos.
Afinal, com a experiência de mais de 55 anos no exercício da Engenharia, me sinto na obrigação de contribuir com a Engenharia do meu país. E esse é o principal papel desta Casa.
O Instituto de Engenharia está presente, atualizado e olhando para o futuro. Do passado, trazemos a vasta experiência de uma entidade que participou de grande parte da história da Engenharia Nacional. E os registros dessa trajetória estão publicados na nossa Revista Engenharia, que está completando 80 anos de existência ininterrupta.
E por essa experiência, afirmo que o Brasil tem todas as condições para ser um dos países de maior relevância no cenário internacional: temos sol, vento, água, tecnologia, abundantes recursos naturais, como petróleo, gás, minérios e agricultura. E levar o Brasil a protagonista, não é um desafio e um esforço concentrado de uma entidade, mas de toda sociedade e, cada uma das associações e entidades de classe, imprescindíveis e parceiras de longa data desta Casa, têm essa missão. O Instituto de Engenharia, se propõe a ser um agregador nesse esforço.
Assim, nossos associados já trabalham, por meio dos seis Departamentos, 34 Divisões Técnicas, 14 diretorias regionais (no Brasil e exterior) e diversos grupos de trabalho, em propostas sobre temas, como Transição Energética, Inteligência Artificial, Eletromobilidade, Bioeconomia, Ferrovias, Hidrovias e Mobilidade Urbana, entre tantos outros assuntos em suas palestras e cursos.
Gostaria de pontuar alguns desses temas, que serão desenvolvidos na nossa gestão:
Embora a Inteligência Artificial já seja tema de estudo há cerca de 70 anos, os seus avanços foram exponenciais nos últimos 10 anos. Alguns passaram invisíveis como o aspirador inteligente, Alexa ou Siri, outros nos assustam como ChatGPT.
Em outras palavras a Inteligência Artificial já está permeada no nosso cotidiano. Repentinamente debatemos o papel da Inteligência Humana “contra” (entre aspas) a Inteligência Artificial, mas será que esse conflito existe ou essa dualidade é benéfica? Esse debate vem sendo feito no Instituto de Engenharia, procurando entender a essência das duas inteligências e os seus papéis na sociedade. O objetivo desse entendimento é construir um mundo melhor para toda sociedade, em que a Inteligência Artificial seja um instrumento útil para a humanidade.
Acreditamos que o STEAM – Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática – tem a Arte, ou seja, Humanidades, como um dos faróis para nos dirigir nesse novo século.
E a humanidade precisa ser preservada. Ela precisa de energia e alimento. E o Brasil tem a capacidade, não apenas de ser autossuficiente, mas de suprir o mundo.
Temos a maior bioeconomia do mundo, parte significativa dela está na Amazônia.
A Bioeconomia é tema de estudo e discussão no Instituto de Engenharia. O País precisa investir em educação, ciência e tecnologia, para oferecer um ambiente de negócios estável e internacionalmente competitivo, preservando o meio ambiente. Este projeto nasceu a partir do desafio lançado pelo nosso Eminente Engenheiro do Ano, Carlos Nobre, quando ele propôs unirmos forças e conhecimento para transformar o Brasil na primeira potência da Bioeconomia Sustentável.
Inspirados por sua visão e compromisso, nós nos empenhamos em criar um espaço colaborativo, quando profissionais de diversas áreas trabalham juntos, propondo políticas, integrando academia, governos e iniciativa privada.
Ainda na linha do desenvolvimento com preservação ambiental, o Brasil tem diversas possibilidades de transição energética. Vale alertar primeiro que o pensamento geral é que a transição energética significa passar do combustível fóssil, o petróleo, para a energia elétrica. Esse é um imaginário popular, isso é reducionismo. Porque a energia se dá em formas diferentes. Temos ela em todas as formas, mas quais delas podemos usar? Esse é o ponto.
Qual o papel do hidrogênio? Qual o papel do etanol, que nós produzimos em grande quantidade? Qual o papel da alta tecnologia, como a nuclear, que nós também dominamos? E qual é o papel do Nordeste, em termos de energia eólica? Nós imaginamos que a transição é para atender o Brasil ou exportar?
E isso que discutimos. A transição é um capacitor, que significa que existe um delay de uma forma de produção de energia para outra. Se não fizermos essa transição, não poderemos comercializar, nem exportar, nem usar internamente.
E essa transição é latente nos nossos meios de transporte, outro assunto em questão no Instituto de Engenharia. O Brasil necessita instituir, urgentemente, um “Marco Regulatório da Mobilidade”, que discipline a Operação dos Transportes em todos os níveis de Governo – Federal, Estadual, Metropolitano e Municipal e que, simultaneamente, contemple planos de inserção da Eletromobilidade em todos os tipos de transporte, com vistas à racionalização, planejamento e economia da atividade, numa estratégia de desenvolvimento do País.
Precisamos incluir no planejamento um conjunto de metas com vistas a assegurar a inevitável transição dos combustíveis fósseis para os renováveis, já iniciada com a vasta utilização do etanol na frota nacional e que poderá ter continuidade na produção do hidrogênio como energia demandada pelo mundo inteiro, como parte da nova matriz energética.
Uma política abrangente requer que os órgãos regulatórios dos sistemas de energia elétrica acompanhem esta evolução e criem as condições para que as empresas do setor aumentem sua capacidade de geração e distribuição, sem descuidar de uma regulamentação clara para a geração da energia solar e eólica, bem como incentivar a utilização de técnicas de armazenamento de energia pelas empresas/produtores independentes.
Neste momento, em que outros países se preparam para a grande transição energética, o Brasil precisa agir e adequar, neste caso, às entidades operadoras dos transportes e o seu parque industrial à introdução de veículos eletrificados, tanto para suprir o mercado interno quanto para não se isolar em relação aos demais países, o que limitaria a capacidade exportadora brasileira, inclusive para mercados próximos.
Esses são alguns dos pontos que a nova gestão quer priorizar. Entretanto, estaremos sempre abertos a receber sugestões de temas, procurando soluções objetivas e práticas, para não ficarmos apenas no discurso, mas em suas soluções.
Prometo que me esforçarei para, não só dar continuidade ao excelente trabalho que já vem sendo feito pelas gestões passadas mas, também, agregar todos os valores que são expressivos, todas as competências dos meus colegas, toda a energia daqueles que operam na Engenharia, somando essa experiência coletiva dos mais vividos com a disposição e energia dos mais jovens.
Vale lembrá-los que este Instituto não é só Engenharia. Todas as nossas atividades são vinculadas a ações sociais, por meio do IE Solidário e Sextas Culturais, quando cada pessoa que participa de uma palestra ou evento traz um quilo de alimento não perecível, que é doado a entidades assistenciais.
É com esse espírito e essa disposição, que assumo a presidência do Instituto de Engenharia, tendo a certeza de que juntos à nossa diretoria, conselhos, associados e colaboradores, prestaremos uma excelente contribuição à Engenharia brasileira e, consequentemente, ao nosso País.
Ao encerrar meu pronunciamento, agradeço novamente aos companheiros da diretoria eleita e conselhos, nos quais deposito toda a minha confiança nesta jornada que temos pela frente.
Quero fazer um agradecimento muito especial à minha família, que sempre me apoiou e me estimulou durante toda a minha carreira profissional, e que é a principal razão da minha existência.
Viva à Engenharia!