SEESP e IE desmontam argumentos da Uber sobre o Mototáxi

Nestes últimos dias, a empresa Uber vem investindo maciçamente na mídia, incluindo jornais de grande circulação, apresentando uma série de argumentos a favor da regulamentação do mototáxi na cidade de São Paulo. O Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP) e o Instituto de Engenharia (IE) se contrapõem aos argumentos veiculados pela Uber e propõem medidas urgentes para que a batalha vá além do campo jurídico e se efetive através de medidas concretas e urgentes, para que a população não fique à mercê de um modo de transporte inadequado.

Confira as ponderações técnicas e propostas das entidades

Argumento da Uber: O mototáxi é uma opção econômica para deslocamentos diários.

Contraponto: Embora o mototáxi possa parecer uma opção barata, os custos ocultos relacionados à segurança e saúde pública são significativos. Acidentes de moto são mais frequentes e graves, gerando imensuráveis perdas aos familiares das vítimas, altos custos ao sistema de saúde pública ao lado de grandes impactos à economia do país com a perda de jovens trabalhadores.

Ação recomendada: Gestores públicos devem investir prioritariamente em transporte coletivo de qualidade que oferecem segurança e eficiência, evitando os riscos associados ao mototáxi. Campanhas de conscientização sobre os riscos do mototáxi e a promoção de alternativas seguras devem ser intensificadas.

Argumento da Uber: O mototáxi reduz significativamente o tempo de trajeto.

Contraponto: À medida que os urgentes investimentos forem feitos, o ganho de tempo na viagem feita com o mototáxi tende a se reduzir. Esta deve ser a meta, urgente, ainda que medidas operacionais no trânsito tenham que ser feitas com o apoio da CET e do policiamento de trânsito. O menor ganho de tempo tende a não compensar o risco e o desconforto associados a andar na garupa de uma moto.

Ação recomendada: Investir na melhoria e expansão das redes de transporte público abrindo corredores exclusivos para ônibus e expandindo a rede de linhas capilares, especialmente nas periferias, para que os moradores tenham acesso rápido e seguro aos principais eixos de transporte, seus terminais e estações. Além disso, regulamentar a integração tarifária multimodal e a implementação do bilhete único mensal.

Argumento da Uber: O mototáxi segue padrões de segurança com várias ferramentas de proteção.

Contraponto: Apesar das medidas de segurança, a natureza do transporte em motocicletas é, inerentemente, desconfortável e mais perigosa. A probabilidade de acidentes é maior, e as consequências são muito mais graves. A Uber não diz nada sobre os dias de intempéries e os eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.

O transporte coletivo é anos-luz mais seguro. Comparem as estatísticas: mortos e feridos em acidentes de moto versus todo o sistema de trens, metrôs e ônibus! E estes transportam milhões de passageiros por dia.

Argumento da Uber: O mototáxi oferece oportunidades de renda para motociclistas.

Contraponto: A precarização do trabalho é uma preocupação, com muitos motociclistas expostos a riscos sem garantias trabalhistas e previdenciárias adequadas ou totalmente inexistentes. O combate à indústria do fumo que também gerava milhares de empregos, melhorou, e muito, a qualidade de vida do brasileiro.

Ação recomendada: Promover políticas de emprego que ofereçam segurança e estabilidade, incentivando o emprego formal e o treinamento em setores de transporte público. Organizações como o SEESP e Instituto de Engenharia apoiam iniciativas de capacitação profissional.

Argumento da Uber: O mototáxi é utilizado por classes econômicas de baixa renda, promovendo inclusão.

Contraponto: A verdadeira inclusão vem do acesso equitativo a um transporte público de qualidade, que não discrimine pela capacidade de pagar. O uso do mototáxi, quando ocorre, não é em busca de tarifa mais baixa. O morador da periferia busca reduzir seu tempo de viagem até terminal de ônibus ou estação de trem ou metrô.

Ação recomendada: Aumentar o investimento em transporte público conectado e eficiente, com integração tarifária.

Conclusão

O mototáxi, apesar de suas aparentes vantagens, não é uma solução adequada para os desafios de mobilidade de São Paulo. Gestores públicos, operadores de transporte e a sociedade civil devem trabalhar juntos para promover alternativas mais seguras, eficientes e sustentáveis, garantindo uma mobilidade urbana que beneficie a todos. O embate jurídico é necessário, mas não suficiente. O embate deve se dar nas ruas e trilhos por onde milhões de paulistanos se deslocam diariamente. Ou aprimoramos os meios de pagamento e o atendimento nas periferias ou nenhum esforço de caráter jurídico será suficiente para impedir este retrocesso lamentável.

* Elaborado pelo Conselho Assessor de Transporte e Mobilidade Urbana do SEESP e complementado pelo Instituto de Engenharia