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Por Ivan Metran Whately – Meio Século da Primeira Linha de Metrô do Brasil

Há 50 anos, no dia 14 de setembro de 1974, celebrou-se a primeira viagem de Metrô em São Paulo. Na ocasião, entrou em operação um trecho de 7 km de extensão da então denominada Linha Norte-Sul, atual Linha 01-Azul da Companhia do Metropolitano de São Paulo – Metrô SP. Este trecho foi um pequeno passo para a população da cidade, ao percorrer apenas sete estações entre Jabaquara e Vila Mariana, mas significou um grande salto para o país, parafraseando o que foi dito cinco anos pelo primeiro homem a pisar na lua, o astronauta americano Neil Armstrong.

A nova linha de metrô, realmente, foi um salto na introdução de novas tecnologias de transporte no Brasil. Ocorreu algo de novo e grandioso na cidade de São Paulo que alterou o patamar da aglomeração urbana e a imagem externa do país. Esta linha precursora de metrô foi implementada em toda a sua extensão nos anos seguintes e, ainda, uma rede sobre trilhos teve continuidade com outras linhas, bem mais abrangente. Assim, foram implementadas as Linhas 03-Vermelha, 02-Verde, 04-Amarela, 05-Lilás, 15-Prata e, continuam em execução: a extensão da Linha 02-Verde, Linha 17-Ouro e Linha 06-Laranja. A rede de metrô expandiu numa velocidade em torno de 1,8 km/ano e a extensão atual, em operação na cidade de São Paulo, é de 104,4 km, com 91 estações, sendo que passam por estas seis linhas mais de 5 milhões de passageiros por dia. Quantidade semelhante à transportada por metrô em cidades como: Nova York, Paris e Londres.

Desde os primórdios da operação da Linha 01-Azul, foram observados os enormes benefícios socioeconômicos e a transformação introduzida pela inovação no meio urbano. Assim, é importante destacar que a expansão da rede metroviária mudou os hábitos das pessoas, introduziu um novo modo de transporte e elevou a cidade em nível comparável ao das principais metrópoles do mundo. Além dos benefícios diretos sobre o conforto, rapidez e segurança dos deslocamentos da população, a inovação introduzida pelo novo modo de transporte contribuiu para a melhoria do trânsito, teve impacto direto na emissão de gases de efeito estufa e na poluição do ar, como também na redução de acidentes de trânsito, no custo operacional da mobilidade e na qualidade de vida da população.

Paralelamente a todos estes benefícios mencionados, e até iniciado bem antes deles, o desenvolvimento tecnológico começou a partir de um importante documento técnico, ou seja: “Estudos Socioeconômicos de Tráfego e de Viabilidade Econômica-Financeira” elaborado em 1968 pelo consórcio das empresas de consultoria Hoechtief, Montreal e Deconsult – HMD. Os dois volumes do relatório, também chamado de “Livro Azul”, atuaram como uma Bíblia inspirada na tecnologia alemã que era a mais adiantada na época. Além do “Livro Azul”, os trabalhos técnicos iniciais se consubstanciaram em pesquisas de Origem e Destino, iniciadas na década de 1960 e realizadas até hoje com atualização a cada 10 anos. O planejamento de uma nova linha ou a consolidação da rede de transporte multimodal está, totalmente, dependente destes estudos para determinação das demandas de passageiros e do traçado.

Com a inovação das linhas de metrô no subsolo da cidade, a Engenharia ampliou sua atuação em todos os estudos preliminares e geológicos, como também nos estudos de traçado da linha que tiveram continuidade na evolução tecnológica das especialidades de mecânica dos solos, túneis, galerias, estruturas e demais ramos da engenharia civil, complementadas por todas as especialidades de sistemas.

O desenvolvimento tecnológico não se limitou à implementação das vias e suas estações, bem como à operação/manutenção do material rodante. Os sistemas evoluíram por meio de tecnologias de automação que atingiram maior eficiência, rapidez e capacidade, mediante novos processos de controle como o CBTC e procedimentos de “driveless”. Alguma inovação ocorreu na implantação do bilhete único e estão por ocorrer avanços na instrumentalização da administração de um “Clearing” metroplitano e na evolução das normas de integração intermodal. As pesquisas de opinião apontam para o atendimento dos passageiros com qualidade, há oferta de wifi gratuito e os níveis de segurança pessoal são satisfatórios. Enfim, os estudos preliminares, projeto, planejamento, execução, operação e manutenção envolveram e possibilitaram o desenvolvimento da engenharia em nossa cidade como nunca, com disseminação dos conhecimentos técnicos em todo o país.

Muitas empresas construtoras brasileiras tiveram oportunidade de trabalhar e acumular experiência com as novas tecnologias e a Companhia do Metropolitano de São Paulo que coordenou, durante todos estes anos este desenvolvimento tecnológico, acumula um acervo técnico muito importante para a engenharia e para o desenvolvimento do setor no Brasil. Nessa retrospectiva, não podemos esquecer a importância histórica do Engenheiro Plínio Osvaldo Assmann, como Presidente da Companhia do Metropolitano de São Paulo. Este engenheiro, que também foi presidente do Instituto de Engenharia, teve atuação determinante para sucesso deste empreendimento, como também para traçar os princípios de segurança, qualidade e produtividade definidos há mais de 50 anos e que norteiam até nossos dias a qualidade incontestável das linhas metroviárias de São Paulo em comparação com seus similares pelo mundo.

A Companhia do Metropolitano de São Paulo teve papel determinante nos estudos, planejamento, projeto, execução, operação e manutenção da importante rede metroviária que foi implementada em São Paulo, tanto pela implicação socioeconômica do empreendimento quanto pela amplitude do desenvolvimento tecnológico envolvido pelo setor desde a sua fundação em 1968. O acervo técnico desta entidade continuará a ser uma peça-chave na organização da rede multimodal de transporte da Região Metropolitana de São Paulo que engloba outros modos de transporte e poderá ser aproveitado na regulação e instrumentalização da interoperabilidade da rede metropolitana integrada, informatização do planejamento operacional, do sistema tarifário e de comunicação que, ainda, estão por ser disseminados na região.

As linhas metroviárias implementadas em São Paulo colaboraram para a construção de uma São Paulo mais conectada e acessível, demonstrando que, mais do que um modo de transporte, é um verdadeiro indutor de transformação social e desenvolvimento do país. Para orgulho de todos nós, o desenvolvimento tecnológico dos últimos 50 anos no metrô de São Paulo reflete um processo bem-sucedido de modernização contínua, com foco em eficiência, segurança e sustentabilidade, resultando em um acervo técnico que precisa ser preservado.

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Ivan M. Whately

Engenheiro Civil e arquiteto, com especialização em Planejamento de Transporte. Atualmente, é vice-presidente de Atividades Técnicas do Instituto de Engenharia.

*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo

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