Brasil: centro global soluções climáticas

O recente artigo de Renata Piazzon e Jorge Hargrave traz uma análise muito oportuna sobre o potencial do Brasil em liderar a agenda global de soluções climáticas, destacando as enormes oportunidades que o país pode aproveitar se fortalecer sua imagem no exterior. Estudos, como o do Boston Consulting Group, apontam que o Brasil pode atrair até US$ 3 trilhões (R$ 16,5 trilhões) em investimentos climáticos até 2050, mas isso dependerá de uma série de ações coordenadas para vencer os desafios internos e consolidar o país como um hub de inovação em bioeconomia e tecnologias de baixo carbono.

O Brasil já tem uma base sólida para competir nesse cenário. Somos o país do G-20 com o maior percentual de geração de energia renovável e uma forte presença de biocombustíveis. Setores estratégicos como a agricultura regenerativa, a restauração florestal e o desenvolvimento do hidrogênio verde colocam o Brasil em uma posição privilegiada para a transição global para uma economia mais limpa. No entanto, mesmo com essas condições favoráveis, o país ainda recebe uma parcela muito pequena dos investimentos climáticos privados globais. Essa discrepância está muito relacionada à nossa imagem e à falta de uma presença mais ativa nos principais fóruns internacionais.

O artigo faz um paralelo interessante com o setor de turismo brasileiro, que, apesar de sua rica biodiversidade e atrativos naturais, ocupa apenas a 33ª posição no ranking de destinos turísticos internacionais. Isso se deve, em grande parte, à falta de uma promoção eficaz do país no exterior. O mesmo erro não pode ser repetido quando falamos da economia de baixo carbono. A participação brasileira em fóruns privados, onde os parâmetros e regulações do futuro estão sendo moldados, ainda é tímida. A ausência de brasileiros em conselhos de instituições-chave, como a certificadora Verra ou o International Sustainability Standards Board (ISSB), é um exemplo de como estamos ficando para trás nas decisões que afetam diretamente o nosso futuro.

Para que o Brasil possa aproveitar o momento e se posicionar como líder global em soluções climáticas, será necessário desenvolver uma estratégia de advocacy internacional robusta, com uma atuação integrada entre governo, setor privado e sociedade civil. Essa estratégia deve focar em promover as vantagens que o país já tem e consolidar sua narrativa como protagonista na economia de baixo carbono.

Com a liderança do Brasil no G20 e a realização da COP30 em Belém, temos uma janela de oportunidade única para amplificar nossa mensagem e atrair os investimentos necessários para um desenvolvimento sustentável. Eventos como o Brazil Climate Summit, que acontece em Nova York, mostram que o Brasil começa a se movimentar nessa direção, mas ainda há muito trabalho pela frente.

Fortalecer a imagem do Brasil no exterior como um polo de inovação sustentável não é apenas uma questão de atrair investimentos, mas de garantir que o país se posicione como um ator relevante nas discussões globais sobre o futuro do planeta. Se o Brasil conseguir alinhar suas políticas internas com uma estratégia eficaz de promoção internacional, poderá consolidar sua liderança em um dos setores mais promissores das próximas décadas.

Por que o Brasil precisa fortalecer sua imagem global para liderar em soluções climáticas

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