Complexo industrial e portuário, Zona de Processamento de Exportação (ZPE), grande quantidade, além de potencial gigantesco de fontes de geração de energia renovável -baseadas nos sistemas eólico e solar, em toda a Região Nordeste -, são pilares estratégicos de atração que posicionam o Complexo Industrial e Portuário do Pecém, localizado entre os municípios cearenses de São Gonçalo do Amarante e Caucaia, como um dos mais expressivos hubs de produção de hidrogênio verde do mundo.
Nesta entrevista com o Instituto de Engenharia, Jurandir Picanço, consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (FIEC), e uma das 100 mais influentes personalidades do setor de energia nacional, destaca aspectos estratégicos, status de iniciativas, perspectivas e projeções relativas ao nascente mercado de hidrogênio verde no Brasil, para onde esse mercado pode consolidar ações e o que seria necessário – ou ainda falta, em termos governamentais para a consolidação do mercado nacional de H2V.
De 32 memorandos de entendimento já estabelecidos entre o Complexo do Pecém e empresas de todo o mundo, quatro estão mais adiantados. Mesmo assim, Jurandir Picanço destaca que: se apenas um projeto em curso entrar no operacional demandará 2 GW de energia renovável para a produção de H2V.
“Para se ter uma ideia, todo o potencial de geração de renováveis do Estado do Ceará hoje é de 3 GW. Isso mostra o tamanho e a magnitude do hub de hidrogênio verde que estamos construindo no Pecém”, diz ele, que também relata sobre o aporte de US$ 90 milhões recebidos do Banco Mundial para aplicação em obras de infraestrutura do Complexo, além da celebração do corredor verde de hidrogênio estabelecido com o Porto de Roterdã, a principal entrada do H2V na Europa.
Esses e outros destaques podem ser conferidos abaixo:
QUAIS AS VANTAGENS COMPETITIVAS DO COMPLEXO DO PECÉM NA GERAÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL E COMO ISSO VIABILIZA O DESENVOLVIMENTO DE UM MERCADO DE HIDROGÊNIO VERDE OU HUB LOCAL.
JURANDIR PICANÇO: O Complexo do Pecém não tem área para geração de energia renovável. Essa energia virá pela rede elétrica, pelo Sistema Interligado Nacional, o SIN, e a expectativa é de que essa energia possa ser gerada em qualquer área do Nordeste, uma região que tem um potencial gigantesco de energia eólica e solar. Isso é uma característica local e esse é o principal atrativo para a produção de hidrogênio verde no Pecém.
O COMPLEXO VEM ATRAINDO INVESTIMENTOS DE EMPRESAS COM VOCAÇÃO EXPORTADORA DE H2V
JURANDIR PICANÇO: O Complexo está atraindo esses investimentos porque tem uma condição muito adequada para a exportação do hidrogênio verde e seus derivados. Ele é constituído por uma Zona de Processamento de Exportação (ZPE), de um arco industrial e do porto, propriamente dito. Dentro desse complexo destaca-se a Zona de Processamento de Exportação que oferece vantagens tributárias e fiscais similares e equivalentes aos de uma zona franca qualquer.
Diante disso, as empresas podem trazer equipamentos sem pagar tributos, podem exportar sem pagar impostos, portanto, a ZPE é um atrativo, mas, além disso, existe o porto que já está equipado – e passando por pequenos ajustes – para a exportação de hidrogênio e derivados.
No caso dos derivados, estamos falando da amônia. É difícil exportar o hidrogênio em navios, as tecnologias atuais ainda não permitem que isso seja feito e que seja economicamente viável. O mercado nacional e internacional como um todo se concentra na amônia, um insumo cujo transporte já se faz comum, sem grandes dificuldades tecnológicas e com preços acessíveis.
Esses quesitos fazem com que o Complexo do Pecém passe a ser atrativo e se transforme como um polo importante ao hidrogênio verde voltado à exportação. Vale lembrar que a energia elétrica é abundante em todo o Nordeste, destacando o Ceará – em grande quantidade e potencial gigantesco – assim como no Rio Grande do Norte, Bahia e Piauí.
Quando um investidor conhece isso, vê isso e todo o potencial dessa planta de hidrogênio verde, o que ele deseja? Comprar a energia mais barata que ele puder conseguir e estamos caminhando nesse sentido.
QUAL A REPRESENTATIVIDADE DOS ACORDOS DO CORREDOR DE HIDROGÊNIO VERDE ENTRE O PORTO DO PECÉM E O PORTO DE ROTERDÃ E DA PARCERIA DE PORTOS VERDES ENTRE O CEARÁ E OS PAÍSES BAIXOS?
JURANDIR PICANÇO: O Complexo do Pecém tem um outro atrativo. Ele é administrado em parceria do Governo do Estado de Ceará com o Porto de Roterdã. O Porto de Roterdã tem participação de 30% do negócio, ocupa posições na diretoria executiva, conselho fiscal e administração e participa da gestão do Complexo como um todo.
Estrategicamente, o Porto de Roterdã quer se transformar no principal porto importador de hidrogênio verde da Europa e tudo isso representa um grande atrativo ao Complexo. Nesse sentido, foi criado um corredor de ponta a ponta da cadeia de suprimentos para hidrogênio verde, incluindo produção no Pecém e recebimento e distribuição no Porto de Roterdã, para atender à demanda nos Países Baixos e em outros países da Europa.
No começo de 2021, quando o Ceará anunciou a intenção de criar esse hub de hidrogênio, foi destacado que o governo do Estado, a Federação das Indústrias do Estado do Ceará, a Universidade Federal do Ceará e o Complexo do Pecém dariam todo e qualquer apoio a qualquer investidor que se interessasse em desenvolver o seu projeto aqui. E, diante dessa posição, empresas e corporações, nacionais e internacionais passaram a vir aqui e ver o potencial abundante de energia renovável, barata e que o Porto do Pecém reúne todas as condições de desenvolver seus projetos aqui.
NO CONTEXTO DO CORREDOR VERDE COM O PORTO DE ROTERDÃ HÁ O ESTABELECIMENTO DE ALGUMA META DE ARMAZENAMENTO, DISTRIBUIÇÃO E PRODUÇÃO?
JURANDIR PICANÇO: Em maio deste ano o primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, veio ao Ceará assinar um protocolo com o Governo do Estado e com o Complexo do Pecém, criando o corredor de hidrogênio verde Pecém-Roterdã. Números efetivos não se tem, mas o que mais avançado está hoje é uma concorrência promovida pelo governo da Alemanha para importar derivados de hidrogênio. Esse edital é mundial e os países e empresas que tenham essa condição podem se eleger.
O que acontece neste momento é que as empresas só vão se instalar no Brasil quando houver segurança em relação (a demanda) ao mercado. A empresa que ganha essa concorrência – não será uma empresa só – mas digamos que seja uma empresa do Pecém, o que vai acontecer? Essa empresa vai tomar a decisão definitiva de investimento, vai contratar energia e iniciar a construção, mas sem o mercado, a demanda, ficamos apenas na fase dos estudos e desenvolvimentos, com os projetos aguardando essa maturidade do consumo.
Os projetos estão todos prontos e aguardando esse momento. Isso também ocorre ou é semelhante ao setor de energia. As empresas desenvolvem projetos eólicos e solares, cadastram na Aneel e ficam esperando o mercado. Quando surge o leilão, se ganhar, desenvolvem (o projeto), ou então contratam o mercado livre – e desenvolvem o projeto. Algo semelhante pode ocorrer com o hidrogênio verde. As empresas não vão iniciar uma iniciativa senão tiverem certeza da demanda e do mercado.
COMO ESTÁ O DESENVOLVIMENTO DA CADEIA DE PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO, ARMAZENAGEM E TRANSPORTE DE HIDROGÊNIO VERDE NO COMPLEXO?
JURANDIR PICANÇO: Cada empresa vai produzir o seu hidrogênio, armazenar e transformar essa produção em amônia. Esse insumo será armazenado em um pool, com o objetivo de minimizar custos adicionais. Mas cada empresa é que vai decidir o processamento completo. Ela pode decidir sozinha, mas está sendo desenvolvido o pool – coletivo para reduzir custos.
Todos os investimentos mencionados são privados. Cabe ao Estado e ao Complexo do Pecém prover a infraestrutura necessária, tais como os gasodutos, a área para a produção (da amônia) e seu armazenamento.
Todo o escopo dessa infraestrutura já temos e um fato recente foi o recebimento de um aporte de US$ 90 milhões, por parte do Banco Mundial, a ser aplicado nas obras de infraestrutura do Complexo Industrial e Portuário do Pecém e essenciais para o hub de hidrogênio verde.
QUAIS OBRAS SERÃO FEITAS
JURANDIR PICANÇO: Entre as obras previstas estão a instalação de uma infraestrutura básica para corredores de utilidades e acesso ao setor produtivo de H2V no Complexo do Pecém; expansão do Terminal de Múltiplas Utilidades (TMUT) do Porto, que recebe um novo berço de atração e a expansão do Píer 2 do terminal portuário para H2V e seus derivados. Tudo isso corrobora na mitigação de riscos aos desenvolvedores e financiadores privados e favorece a transição de projetos-piloto para a escala industrial, com as empresas interessadas realizando investimentos nas capacidades e infraestruturas para facilitar a efetivação da implantação da cadeia de gerenciamento verde no Complexo e no Estado do Ceará.
QUAL O STATUS DE MEMORANDOS DE ENTENDIMENTO E PRÉ-CONTRATOS JÁ ASSINADOS COM AS EMPRESAS INTERESSADAS?
JURANDIR PICANÇO: Já temos 32 empresas que assinaram memorandos, mas com compromisso de investimento nenhum. Todas e todos estão estudando a viabilidade de projetos e negócios e o Governo do Estado, a FIEC e a Universidade apoiam esses estudos. Depois disso o que acontece? As empresas estão concretizando os seus planos e projetos, evidentemente, até se ter a definição final do investimento incorre um tempo, por ser uma decisão interna das empresas. A questão é que três delas já alugaram áreas na Zona de Processamento de Exportação, já estão pagando aluguel por suas áreas, o que representa um indicativo forte de que estão avançando em suas iniciativas.
QUAIS SÃO ESSAS EMPRESAS?
JURANDIR PICANÇO: A Casa dos Ventos, que é a maior geradora de energia renovável do país e que já tem projeto para o hidrogênio verde no Pecém – com capacidade de até 2,4 GW de eletrólise, produção superior a 1.000 toneladas de hidrogênio/dia, e entrega de 2,2 milhões de toneladas de amônia verde por ano.
Tem a Fortescue, da Austrália, que ambiciona construir sua primeira usina de produção verde no mundo. O projeto tem três fases, sendo: fases 1 e 2, de 1.200 MW e fase 3, de 900 MW – e potencial para produzir 837 toneladas de hidrogênio verde por dia, a partir do consumo de 2.100 MW de energia renovável. Essa empresa, que atua no setor de mineração, está entrando fortemente no setor de hidrogênio com vários projetos ao redor do mundo.
Tem a AES, empresa norte-americana do setor de energia e cujos estudos de viabilidade apontam para a produção de até 2 GW de H2V e 800 mil toneladas de amônia por ano. Essas três empresas já estão alocadas no Complexo, já tem suas áreas e estão desenvolvendo seus projetos.
Há uma quarta empresa e essa torna a questão mais evidente ainda, porque o Pecém tinha uma companhia siderúrgica chamada Companhia Siderúrgica do Pecém, que era da Vale – em parceria com duas empresas sul-coreanas (Posco Holding e Dongkuk Stell Mill), e que foi comprada pela ArcellorMittal, com propósito de produzir o aço verde. Esse aço utiliza o hidrogênio verde em seu processamento, sem contar que o acesso à energia limpa e fontes de baixo carbono colaboram com o esforço da empresa em suas metas de descarbonização.
Outro aspecto importante é que o hidrogênio verde pode ser usado para substituir parte do carvão (coque) usado como combustível nos altos fornos de produção de aço, uma coisa que a ArcellorMital já aplica em algumas de suas usinas ao redor do mundo.
Pelos menos esses quatros projetos representam indicações muito fortes em direção à maturidade do Hub de Hidrogênio Verde do Pecém, sendo que as demais empresas ainda estão na etapa de estudos e avaliações até a decisão final.
E A EDP, DE PORTUGAL
JURANDIR PICANÇO: Sim, tem a EDP, de Portugal, que aqui tem uma usina à carvão que opera dentro do Complexo do Pecém e implantou uma usina piloto de hidrogênio verde. A planta é composta por uma usina solar com capacidade de 3 MW, para garantia de origem renovável e um módulo eletrolisador de última geração para produção do combustível com capacidade para produzir 250 Nm3/h de H2V. A própria EDP considera essa usina como um “laboratório vivo” para o desenvolvimento da economia de hidrogênio verde no Brasil. Como se percebe, esses exemplos são indicativos maduros de que tudo está avançando muito bem para o desenvolvimento do Hidrogênio Verde no Complexo do Pecém.
É POSSÍVEL DIMENSIONAR A CAPACIDADE INSTALADA OU O POTENCIAL DE NOVAS INSTALAÇÕES DE FONTES RENOVÁVEIS EÓLICAS-SOLARES QUE FAVOREÇAM O COMPLEXO DO PECÉM?
JURANDIR PICANÇO: Na realidade as instalações de geração só irão acontecer casadas com o projeto de produção de hidrogênio porque são projetos de grande porte. As empresas que já anunciaram suas iniciativas (e as que ainda avaliam as suas) já representam mais de 2 GW de eletrolisadores no Pecém. E veja você: hoje, todas as usinas eólicas do Ceará não dão 3 GW. Isso dá uma dimensão do tamanho do hub de hidrogênio verde que temos.
Quero com isso dizer que essa geração eólica/solar só vai ser instalada quando tiver certo, quando os contratos estiverem firmados (no Pecém), entre os investidores do hidrogênio e os responsáveis pelas instalações de geração e produção no hub.
Portanto, temos certa urgência em tratar e trabalhar os contratos já celebrados e com entendimentos firmes, mas o produtor de energia não vai instalar a sua usina senão tiver uma expectativa forte do mercado. Para esses projetos grandes, as instalações de geração surgirão casadas com o projeto de produção de H2V, quando os eletrolisadores estiverem avançando ou prontos.
DE UMA CERTA FORMA O MERCADO DE H2V AINDA ESTÁ EM PROCESSO DE MATURAÇÃO.
JURANDIR PICANÇO: Ainda não temos aquilo que podemos chamar de mercado verde de hidrogênio, porque o H2V é o hidrogênio mais caro que os demais tipos de hidrogênio existentes hoje e em comercialização no mercado. Hoje, a indústria que precisa de hidrogênio, uma Petrobras, por exemplo, ela usa o que chamamos de hidrogênio cinza, produzido a partir do gás natural. E ninguém vai mudar do hidrogênio cinza para o verde por um motivo simples: o H2V é mais caro.
As estimativas e projeções, bem como o amadurecimento do mercado, nos permite dizer que o H2V, no futuro, será mais barato que o hidrogênio cinza. Esse mercado está sendo criado e de forma mais acelerada em função da necessidade de descarbonização em países da Europa, EUA e China. Aqui, não temos ainda nenhuma política incentivando o mercado interno como existem nesses mercados.
Por isso, todas as iniciativas de H2V no Brasil hoje têm sido focadas para o mercado externo. O que seria importante ao Brasil seria ter políticas definidas. Somos um país reconhecidamente – através de diversos estudos internacionais – que tem a possibilidade de produzir hidrogênio verde de menor custo, isso confirmado internacionalmente. Isso tudo em decorrência dessa combinação de energia eólica e solar, em especial, aqui do Nordeste.
Essa oportunidade que está surgindo ao Brasil, ainda com foco na exportação, é incentivadora e é muito maior quando nosso olhar recair sobre a possibilidade de desenvolver uma indústria (interna) de produtos verdes.
Veja você que muitos países na Europa já disseram que vão proibir a importação de produtos com elevada pegada de carbono. Quem exportar produtos assim vai ter que pagar uma taxa de entrada nesses grandes mercados consumidores.
Ao mesmo tempo vemos que aqui no Brasil temos oportunidades de produzir os produtos verdes, o aço verde, o fertilizante verde. Hoje importamos, creio, 90% de todo o fertilizante necessário à agricultura, e, pior, compramos fertilizantes cinzas em contraposição à possibilidade de produzirmos, nós mesmos, fertilizantes verdes.
Evidente que hoje esse fertilizante verde seria mais caro que o fertilizante cinza, importado. Para que o setor da agroindústria brasileira venha a utilizar o fertilizante verde (nacional) é preciso que se tenha uma política estabelecida. Essa determinação política, esse viés político é que está demorando a acontecer.
De uma certa forma pagamos o preço de termos uma matriz energética baseada em energia renovável, essa realidade (positiva ao Brasil) ao mesmo tempo traz um certo comodismo (em relação ao H2V). Estamos um pouco acomodados, mas temos a grande oportunidade de produzir um produto verde que é o que terá muito valor no mercado global.
NO MOMENTO DESTA ENTREVISTA, O GOVERNO FEDERAL ANUNCIA O PROJETO ‘COMBUSTÍVEIS DO FUTURO’, E, NELE, AS MENÇÕES AO HIDROGÊNIO, OU SÃO POUCAS E QUANDO HÁ, NEGATIVAS.
JURANDIR PICANÇO: É tudo muito novo. Já tenho 79 anos e nunca vimos um processo desse porque sempre o que definiu a evolução de soluções foi o mercado. O H2V surge como uma determinação ambiental, mundial. Temos que fazer isso. Então é preciso ter estímulos, como na Europa e Estados Unidos, com subsídios diretos aos produtores, com tecnologia própria e pagando US$ 3 por quilograma de hidrogênio. Isso cria condições e produtos mais competitivos.
Nos primeiros projetos de eólica, os preços eram altíssimos, de solar, idem. Hoje, são as duas formas de energia mais competitivas que temos. Isso é desenvolvimento tecnológico, maturidade de mercado, que faz com que isso aconteça e com o H2V também vai acontecer. Mas tem que ter estímulos e subsídios e isso está faltando, e isso explica porque os grandes projetos existentes visam apenas a exportação.
O QUE SERIA IDEAL AO MERCADO DE HIDROGÊNIO VERDE HOJE
JURANDIR PICANÇO: Primeiro, estabelecer políticas públicas, definir prazos para que as indústrias que hoje utilizam hidrogênio cinza alterem suas matrizes para o hidrogênio verde. Só nisso você já estará criando um mercado potencial.
Segundo: você tem empresas de gás canalizado. Há estudos que mostram que se pode acrescentar até 5% de H2V nas redes de gás canalizado sem fazer grandes alterações nas instalações dos consumidores. Se for determinado que todo gás natural tenha uma composição de 5% de H2V, como existe na composição álcool-gasolina, o que vai acontecer é o surgimento de novos eletrolisadores (de H2V) para suprir e atender as empresas de distribuição de gás e isso vai moldando e criando o mercado.
Terceiro: a Petrobras poderia alterar sua matriz de hidrogênio cinza para o verde em seus processos. São políticas desse tipo que seriam necessárias, nesse momento, para estimular o mercado de hidrogênio verde. Todos os países do G-20 e América Latina já tem seus planos de baixo carbono e nós não temos, embora o Governo Federal prometa regulamentar isso. Um projeto de lei regulamentando o mercado de H2V representará um grande começo.
E O PAPEL DO BNDES E BNB NO FOMENTO?
JURANDIR PICANÇO: Estão muito engajados, mas a questão é: quem vai tomar recursos para fazer um projeto senão não tem mercado? É preciso ter mercado.
QUEM É JURANDIR PICANÇO
Engenheiro Mecânico e Eletricista, Consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará – FIEC e membro da Academia Cearense de Engenharia – ACE. Foi Presidente da Companhia Energética do Ceará – COELCE, Secretário da Ciência e Tecnologia do Ceará, Conselheiro de Administração da CHESF, Presidente da Agência Reguladora do Ceará – ARCE, Professor do Curso de Engenharia Elétrica da UFC e Presidente da Câmara Setorial de Energias Renováveis do Ceará – CSRenováveis/CE. O Troféu do Sindienergia/CE que homenageia personalidades do setor de energia no Ceará, foi nomeado de “Jurandir Picanço”. Com 57 anos de atuação no setor de energia, em diversas atividades exercidas esteve ligado às energias renováveis, sendo um dos responsáveis pelas primeiras iniciativas de desenvolvimento das energias eólica e solar, e agora, do hidrogênio verde no Ceará. Em pesquisa do Grupo Mídia, foi contemplado com o troféu “100 Mais Influentes da Energia 2022”
Por Fernando Bortolin