Os resultados conquistados pela Faixa Azul em São Paulo surpreenderam até mesmo os mais otimistas. Ao zerar o número de mortes e ao reduzir significativamente a quantidade de acidentes graves envolvendo motociclistas em ambos os trechos experimentais, a iniciativa inevitavelmente conquistou destaque, tanto pela eficiência quanto pela aparente simplicidade.
Tanto que, recentemente, a solução foi amplamente debatida e aplaudida durante o evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da Experiência em Vias do Município de São Paulo, realizado pelo Instituto de Engenharia, na capital paulista. Entre os participantes, o desejo de contribuir para melhorá-la cada vez mais.
Com a repercussão positiva, a Faixa Azul agora segue no caminho da ampliação, aguardando a liberação da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran) para expandir de 20 Km para 200 km até o final de 2024. Em paralelo, municípios brasileiros de diversos Estados e, até mesmo, de outros países acompanham atentamente os detalhes em busca de um caminho para ampliar a segurança viária e, consequentemente, salvar vidas.
“É uma iniciativa que está sendo observada no Brasil inteiro. Vários municípios, Estados do Nordeste, inclusive, já me procuraram. Eles querem conhecer. Estão interessados e acompanham os resultados dos estudos junto ao Senatran para poder, assim, expandir para o Brasil inteiro”, afirmou Celso Gonçalves Barbosa, secretário municipal de Mobilidade e Transporte de São Paulo, um dos participantes do evento no Instituto de Engenharia.
De acordo com Barbosa, a solução tem potencial para ser adotada também na América Latina, assim como em outros países que buscam por uma forma de aprimorar o trânsito. “É um projeto com impacto maior, com um impacto mundial.”
Com relação aos resultados conquistados pela Faixa Azul, o secretário destacou a eficiência para a pacificação no trânsito ao delimitar o espaço para o motociclista. Barbosa, porém, lembrou o trabalho realizado pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) para o desenvolvimento da solução. “Parece simples, mas tem muito estudo por trás disso.”
Caminho percorrido
Seguindo esse caminho, o vereador Ricardo Teixeira (DEM) reforçou o valor do conhecimento técnico e especializado dos profissionais da CET, que sempre atuam na vanguarda. Como exemplo, ele recordou do pioneirismo com as faixas exclusivas para ônibus.
Ex-secretário municipal de Mobilidade e Transporte e integrante do projeto Faixa Azul, Teixeira salientou ainda outros dois testes que foram realizados na gestão do então prefeito Gilberto Kassab (PSD). Na ocasião, a CET avaliou a possibilidade de trabalhar com as faixas próximas das extremidades da via. Entretanto, a conversão dos veículos para sair da via exigia o cruzamento do espaço exclusivo para os motociclistas, gerando o risco de acidentes.
Até por conta disso, as críticas surgiram com a nova proposta. Afinal, as pessoas imaginavam um resultado semelhante, ou seja, com acidentes. Com a faixa organizando o tráfego em um espaço já tradicionalmente ocupado pelos motociclistas, a ação permitiu disciplinar o trânsito, aperfeiçoando a proposta. “Acredito que a grande novidade foi a coragem de implantação, de levar para a rua mais um teste.”
Como o próprio vereador disse, o novo teste não pretendia “inventar a roda”. Dessa forma, aproveitou o conhecimento adquirido, observou a situação, promoveu as análises necessárias e, com a sinalização, foi possível disciplinar o trânsito, evitando acidentes e mortes.
Educação no trânsito
Por falar em disciplina, esse é outro ponto muito importante que merece destaque. Afinal, antes os motociclistas já utilizavam aquele espaço instintivamente para trafegar entre os carros.
Mas então o que mudou? A sinalização no solo deixou clara a delimitação do espaço, tanto para os motociclistas quanto para os motoristas.
Para a diretora do departamento de Desenvolvimento Urbano e Regional e coordenadora da Divisão Técnica de Trânsito do Instituto de Engenharia, Maria da Penha Pereira Nobre, a informação apropriada promoveu uma mudança comportamental nos usuários em geral. “Não adianta ter grandes projetos se ninguém respeitar.”
Dessa forma, ela disse que a faixa trouxe uma mudança positiva e importante para a segurança dos motociclistas, com as facilidades desenvolvidas conseguindo atuar também na questão comportamental da população. “Usar as vias para se deslocar é um exercício diário de cidadania.”
Nesse contexto, o chefe do Departamento de Banco de Dados e Acidentes da CET, Luiz Fernando Devico, destacou o trabalho constante da companhia em busca de soluções para as necessidades da cidade.
“A Faixa Azul é um projeto que tem inspiração em ações na Austrália, na Malásia, mas é um projeto brasileiro, construído pelos técnicos de São Paulo, da CET, com uma orientação e uma preocupação voltadas efetivamente para a nossa realidade. E é por isso que está tendo um bom resultado, pois foi feito baseado na nossa realidade, ouvindo quem usa a via. Essa conjunção de ações foi o que possibilitou esse sucesso”, finalizou Devico.
Para assistir à gravação do evento Faixa Azul e Faixa Azul Segregada – Balanço da experiência em vias do Município de São Paulo, acesse o site do Instituto de Engenharia.