Pesquisadores de uma universidade britânica desenvolveram um material alternativo ao concreto que se mostrou uma possível solução para o problema de emissões de gases de efeito estufa na construção civil: o concreto feito a partir da cana-de-açúcar. A ideia surgiu quando especialistas buscavam saídas para reconstrução de um distrito no leste de Londres.
Chamado de Sugarcrete, o material é feito a partir do bagaço da cana e tem o objetivo de explorar soluções sustentáveis na construção por meio da reciclagem de resíduos biológicos. Além de diminuir o impacto do setor para a mudança climática, o novo tipo de concreto dá um novo destino a materiais que seriam jogados fora.
1,08 bilhão de toneladas de CO2 seria economizado com o uso do concreto de cana-de-açúcar na construção civil global, segundo os pesquisadores; valor equivale a 3% da produção anual de gás carbônico
A invenção é de cientistas da Universidade de East London em parceria com arquitetos da empresa Grimshaw e a fabricante de açúcar Tate & Lyle Sugar. Segundo os pesquisadores, o Sugarcrete tem de 15 a 20% da pegada de carbono do concreto comum. Trinta por cento da produção global de bagaço seriam suficientes para que o material substituísse a indústria tradicional de tijolos.
A produção do material é semelhante à do tijolo tradicional. Além do bagaço, utilizam-se ligantes minerais. Os pesquisadores escolheram usar a cana para o projeto por sua taxa de crescimento rápida, além de ela ser isolante, resistente ao fogo e fácil de usar com mão de obra não qualificada.
“A principal inovação do Sugarcrete é desafiar o equívoco estabelecido de que biomateriais têm baixo desempenho estrutural”, disse o professor Armor Gutierrez Rivas ao site ArchDaily. Segundo ele, o concreto que resultou do projeto é tão resistente quanto o tradicional, embora seja mais leve.
A pesquisa, que começou como um mestrado na Universidade de East London, foi publicada sem patente. O objetivo dos pesquisadores é incentivar produtores de outros lugares a adotarem o concreto a partir da cana-de-açúcar. O grupo diz ter a intenção de testar o protótipo em países do Sul Global, onde há indústrias açucareiras estabelecidas.
Testes para aprimorar o projeto têm sido conduzidos ao menos desde 2021 na universidade. Em 2023, por seu potencial, o projeto foi indicado para o prêmio global de meio ambiente Earthshot, criado em 2020 pelo príncipe William, da família real britânica. O prêmio homenageia iniciativas que propõem soluções para a atual crise ambiental.