Tecnologia e a transformação da aprendizagem
Ao longo da história, inovações tecnológicas têm influenciado nossa vivência e por consequência a maneira como aprendemos e adquirimos conhecimentos. A calculadora, por exemplo, revolucionou o modo como realizamos cálculos matemáticos, facilitando a solução de problemas e permitindo que nos concentremos em conceitos mais avançados. No entanto, essa facilidade também resultou na diminuição da frequência com que precisamos exercitar e desenvolver a habilidade realizar cálculos mentais. Se assumirmos essa hipótese, isso pode ter consequências no aprendizado desde a incapacidade de compreender conceitos matemáticos mais complexos até a diminuição da autoconfiança do estudante.
Da mesma forma, os algoritmos de busca e a internet em geral transformaram o modo como acessamos informações, tornando-as mais acessíveis e rápidas. Porém, isso também levou a uma menor necessidade de memorização, e na diminuição a atenção já que as informações podem ser facilmente encontradas on-line. Isso pode ter diversas consequências no aprendizado como a redução na retenção de informações, dificuldade na consolidação do conhecimento, na capacidade de análise e síntese, no limite, podendo comprometer até mesmo a criatividade de alguns indivíduos.
Assim como a calculadora e os algoritmos de busca, o ChatGPT tem o potencial de transformar a forma como os estudantes adquirem conhecimentos, desenvolvem habilidades e formam atitudes. Embora a tecnologia possa trazer benefícios significativos para a educação, é importante considerar os possíveis impactos negativos e identificar as áreas que podem ser comprometidas. A seguir, discutiremos possíveis efeitos do ChatGPT nas experiências de aprendizagem e como ele pode afetar o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes.
- Memorização e aquisição de conhecimentos
O uso do ChatGPT pode facilitar o acesso à informação e auxiliar na aquisição de conhecimentos. No entanto, assim como os algoritmos de busca, essa facilidade também pode comprometer a capacidade dos estudantes de memorizar informações. A dependência da inteligência artificial (IA) pode levar a uma diminuição da prática de memorização e da consolidação do conhecimento, já que os alunos podem recorrer ao ChatGPT sempre que precisarem de informações.
- Desenvolvimento do pensamento crítico
O ChatGPT pode fornecer respostas rápidas e precisas a perguntas e problemas, mas essa eficiência também pode comprometer o desenvolvimento do pensamento crítico dos estudantes. A facilidade de obter respostas prontas pode desestimular os alunos a questionarem, analisarem e refletirem sobre as informações. Como consequência, isso pode levar a um indivíduo que seja incapaz de tomar boas decisões, especialmente quando se deparam com problemas complexos ou situações novas.
- Habilidades de escrita e expressão
O ChatGPT tem a capacidade de gerar textos bem escritos e coerentes, o que pode ser útil para os estudantes que precisam de ajuda na redação de trabalhos e relatórios. No entanto, a utilização dessa ferramenta pode comprometer o desenvolvimento das habilidades de escrita, expressão e de pensar dos alunos, se eles puderem sempre recorrer ao ChatGPT para produzir textos em vez de praticarem e aprimorarem suas próprias habilidades.
- Interdependência e trabalho em equipe
A IA, como o ChatGPT, pode facilitar a colaboração entre estudantes por meio de plataformas online e ferramentas de comunicação. No entanto, o uso dessas tecnologias pode levar à diminuição da interdependência e do trabalho em equipe, já que os alunos podem se acostumar a depender da IA para resolver problemas em vez de colaborar e compartilhar conhecimentos uns com os outros.
- Desenvolvimento de atitudes e valores
A utilização do ChatGPT pode afetar o desenvolvimento de atitudes e valores dos estudantes, principalmente no que se refere à ética e responsabilidade. A facilidade de acesso às informações e a capacidade de gerar conteúdo automaticamente podem levar à tentação de praticar plágio ou de não atribuir crédito apropriado às fontes. É importante promover uma educação ética e responsável, especialmente no contexto de crescente dependência da tecnologia.
- Autonomia e autorregulação da aprendizagem
O ChatGPT pode ser uma ferramenta útil para apoiar a aprendizagem autônoma e autorregulada, fornecendo recursos e orientações personalizadas aos estudantes. No entanto, essa tecnologia também pode comprometer a capacidade dos alunos de desenvolverem habilidades de autorregulação e gerenciamento de tempo, já que podem confiar excessivamente na IA para organizar e guiar seu processo de aprendizagem.
- Empatia e habilidades socioemocionais
A comunicação e a interação com o ChatGPT podem afetar o desenvolvimento de habilidades socioemocionais dos estudantes, como empatia e inteligência emocional. A interação com uma IA pode não proporcionar a mesma riqueza de experiências e nuances emocionais que a interação humana, o que pode levar a uma diminuição da capacidade de compreender e se conectar emocionalmente com os outros.
Enfrentando os desafios
O impacto do ChatGPT na aprendizagem de conhecimentos, habilidades e atitudes é complexo e multifacetado. É crucial que educadores, instituições de ensino e demais atores do sistema educacional estejam atentos aos possíveis efeitos negativos e trabalhem juntos para minimizar os riscos e potencializar os benefícios dessa tecnologia.
Algumas estratégias para enfrentar os desafios incluem: incentivar o pensamento crítico e a reflexão, promover a prática e o desenvolvimento de habilidades de escrita e expressão, estimular a colaboração e a interdependência entre estudantes, enfatizar a importância da ética e da responsabilidade no uso da tecnologia, e adaptar os métodos de avaliação do aprendizado. Está sobre nossa mesa a necessidade de redesenharmos os processos educacionais para garantirmos o desenvolvimento integral dos estudantes na civilização que vai emergir desde salto tecnológico.
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(*) George Paulus Dias é engenheiro de produção pela Poli-USP, mestre e doutor em Logística e Aprendizagem com jogos. Tem experiência como empreendedor na área de TI e acumula 20 anos de docência em instituições de ensino e treinamentos corporativos. Já atuou como diretor de Comunicação do Instituto de Engenharia. Atualmente, é conselheiro e coordena o GT Amazônia e Bioeconomia, e leciona disciplinas relacionadas à produção, serviços, logística e sustentabilidade.
*Os artigos publicados com assinatura, não traduzem necessariamente a opinião do Instituto de Engenharia. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
