O Instituto de Engenharia, por meio do Grupo de Trabalho Bioeconomia Nacional, é apoiador do AmiT. Em outubro, o GT fez uma palestra on-line para apresentação do pré- estudo de viabilidade para o Instituto de Tecnologia da Amazônia. Clique aqui e assista.
Formado no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em São José dos Campos, e com doutorado no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, o pesquisador trabalha agora para criar um centro de pesquisa semelhante no coração da Amazônia.
O projeto, conhecido como Instituto de Tecnologia da Amazônia (ou AmIT, na sigla em inglês), tem a pretensão de envolver não apenas o Brasil, mas todos os nove países que possuem porções da floresta, como Peru, Colômbia e Bolívia.
“Será uma instituição pan-amazônica, capaz de produzir ciência de ponta no padrão dos melhores centros do mundo”, antevê.
Nobre afirma que “não há nenhum país tropical que desenvolveu a bioeconomia baseada em recursos naturais, biodiversidade e florestas” e que essa pode ser uma grande oportunidade para o Brasil.
O cientista projeta que o instituto terá recursos públicos e privados e pode virar realidade nos próximos dois ou três anos.
Os eixos fundamentais
O site oficial da iniciativa traz mais detalhes sobre como o AmIT foi estruturado.
A premissa principal do instituto é a de que “o conhecimento da Amazônia deve ser fundamentado na ciência e na tecnologia direcionadas à inovação para garantir a inclusão socioeconômica no desenvolvimento da própria região”.
Em outras palavras, a ideia é fazer pesquisas científicas para desenvolver tecnologias, descobrir potenciais usos dos recursos naturais da floresta de modo sustentável e gerar riquezas para as próprias pessoas que vivem lá.
Usando como exemplo o próprio ITA, o pesquisador lembra que, graças às pesquisas feitas no local, o Brasil desenvolveu a terceira maior companhia de aviação do mundo: a Embraer.
Além de Nobre, fazem parte do projeto do AmIT os cientistas Maritta Koch-Weser, presidente da ONG Earth3000 e Adalberto Val, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).
O meteorologista destaca que o AmIT terá cinco eixos principais.
“Nós desenhamos grandes unidades de pesquisa e desenvolvimento local para guiar a lógica de formação dos alunos”, explica.
“Vamos trabalhar com florestas, paisagens alteradas ou degradadas e como restaurá-las, infraestrutura sustentável de transporte e energia, biodiversidade e manejo da água”, conta.
Segundo o pesquisador, o grande objetivo é aliar “a ciência indígena de milhares de anos com a ciência contemporânea, de forma harmoniosa e operativa”.
Desafios para o Brasil e para o mundo
Nobre, que está participando da Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP27), que acontece em Sharm El-Sheik, no Egito, também acredita que o Brasil pode (e deve) assumir o papel de liderança global nas políticas ambientais.
“Nosso país pode ser a primeira grande economia a zerar suas emissões de carbono”, pontua.
O cientista aponta que isso representa um enorme ganho para a economia — a manutenção da floresta é fundamental para o regime de chuvas que irriga e sustenta as plantações espalhadas pelo resto do país e também na América do Sul, por exemplo.
Ele ainda reforça a necessidade de que o mundo atinja as metas estabelecidas em 2015 no Acordo de Paris, de preferência com o limite de aumento de 1,5°C na temperatura do planeta em comparação com a era pré-industrial.
Por fim, Nobre vê com boas perspectivas a eleição de Lula e o início do novo governo sob o ponto de vista do meio ambiente.
“Há uma experiência no passado em que vimos a queda no desmatamento e na degradação ambiental, a melhora da qualidade de vida da população brasileira e especificamente da Amazônia, a criação de várias unidades de conservação e demarcação de territórios indígenas”, lista.
“As eleições de 2022 foram a última chance de manter a Amazônia e de combater o crime organizado na região, que sempre existiu, mas se sentiu empoderado nos últimos anos”, diz.
“Me parece que a política do novo governo vai toda na direção do desmatamento zero e existe, claro, uma pressão internacional para que se obtenha sucesso.”
“Nós temos quatro anos para acabar com o desmatamento, a degradação e a ilegalidade na Amazônia”, completa.