Com a cessão comercial de toda a área do teto e do entorno da Usina São Paulo ( antiga Usina de Traição), com o objetivo de estabelecer no local uma espécie de “Porto Madero” paulistano, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A. (EMAE) pode ter inviabilizado a construção do canal de derivação e a instalação de novas bombas naquela Usina, o que causará transtornos para a Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) e as 17 cidades que integram a Bacia do Médio Tietê que terão agravados os episódios de inundação devido às enchentes, recorrentes no período de cheias, que começa no final da primavera, se intensifica no verão e termina no começo do outono.
O controle das cheias é cumprido por meio da operação do canal Pinheiros, que inclui, além de outras estruturas hidráulicas, duas usinas de bombeamento: São Paulo, e Pedreira que encaminham as águas em sentido inverso ao curso do rio em direção à represa Billings. Estas regras operacionais são acionadas sempre que o nível d’agua do rio Pinheiros ultrapassar valores de referência que possam oferecer riscos de transbordamento. Este sistema, em operação desde a década de 1940, tem desempenhado papel fundamental na mitigação de transbordamentos dos rios urbanos.
Todavia, tendo em vista haver um expressivo aumento na área impermeabilizada da cidade nas últimas décadas, o que implica em um aumento muito grande da velocidade de chegada das aguas de chuvas nos rios e córregos, reduz-se a capacidade destes cursos de água de absorverem esses volumes afluentes em espaços de tempo muito reduzidos.
Se a capacidade de bombeamento do rio Pinheiros está superada, como aliás foi demonstrado na enchente de fevereiro de 2019, resulta evidente que novas bombas deveriam ser instaladas, como já planejado anos atrás. A última bomba instalada na Usina São Paulo foi na década de 1970 há exatos 45 anos atrás. Na Usina Pedreira a última unidade de bombeamento foi instalada na década de 1980, há 36 anos atrás.
Contudo, o projeto Porto Madero está comprometendo o uso da área da Usina São Paulo, inviabilizando a instalação de novas bombas para aliviar as cheias, uma vez que no local onde originariamente seriam instaladas mais duas bombas, aumentando em mais de 50% a capacidade de bombeamento, está prevista uma bicicletaria para servir à ciclovia que margeia o rio.
É importante ressaltar que a estrutura de bombeamento instalada no rio Pinheiros também objetiva controlar diretamente as cheias do rio Tiete e indiretamente dos córregos afluentes a esse rio. Portanto, a instalação de novas bombas no rio Pinheiros é uma medida essencial para a segurança da população da RMSP e do médio Tietê com relação ao controle de cheias, o que evidentemente não pode ser menosprezado.
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*José Eduardo W. de A. Cavalcanti
É engenheiro consultor, diretor do Departamento de Engenharia da Ambiental do Brasil, diretor da Divisão de Saneamento do Deinfra – Departamento de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), conselheiro do Instituto de Engenharia, e membro da Comissão Editorial da Revista Engenharia
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