Carlos Nobre, pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP), foi eleito na terça-feira, 10, como membro estrangeiro da Royal Society, instituição britânica – fundada em 1660 – considerada das mais antigas e prestigiadas sociedades científicas do mundo. Antes dele, o único brasileiro a figurar na lista era o imperador Dom Pedro II, eleito em 1871 não como cientista, mas como membro da realeza. Nobre também é diretor científico do Instituto de Estudos Climáticos da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e diretor da Amazon Third Way Initiative/Projeto Amazônia 4.0.
Na lista da academia consta a seleção de mais de 60 cientistas excepcionais de todo o mundo por suas excelentes contribuições à ciência. Nobre foi reconhecido pelo trabalho nas interações biosfera-atmosfera e os impactos climáticos do desmatamento da Amazônia e sua liderança em programas que moldaram a ciência brasileira. Para o cientista, a escolha da Royal Society tem a ver com sua longa trajetória de dedicação ao estudo do clima e da Floresta Amazônica. “Como um alerta aos riscos que a Amazônia vem correndo e aos riscos das mudanças climáticas para o Brasil”, disse.
Ao todo, 51 bolsistas e dez membros estrangeiros, juntamente com um bolsista honorário, foram eleitos ‘fellows’ e membros estrangeiros da sociedade. Além da excelência em pesquisa, muitos dos participantes escolhidos pela Royal Society este ano fizeram contribuições notáveis na indústria, na política e no ensino superior.
Também entre os eleitos em 2022 está o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Ghebreyesus, nomeado honorário em reconhecimento a uma carreira notável que beneficiou a saúde em todo o mundo, segundo informações da academia.
“Ao longo de suas carreiras até agora, esses pesquisadores ajudaram a aprofundar nossa compreensão das doenças humanas, da perda de biodiversidade e das origens do universo. Também estou satisfeito em ver tantos novos bolsistas trabalhando em áreas que provavelmente terão impacto transformador em nossa sociedade ao longo deste século, desde novos materiais e tecnologias de energia até biologia sintética e inteligência artificial. Estou ansioso para ver as grandes coisas que alcançarão nos próximos anos”, afirmou Sir Adrian Smith, presidente da Royal Society, em comunicado divulgado pela sociedade.
Nobre acredita que sua eleição como membro da Royal Society também sinaliza um reconhecimento da importância que a ciência tem de reconduzir o Brasil para caminhos de sustentabilidade. “Não que estejamos vencendo esta guerra; está muito difícil. Mas é o papel da ciência, de expor todos os riscos que corremos com o desaparecimento das florestas, dos biomas brasileiros, com o aumento dos extremos climáticos e das queimadas. Tudo isso temos alertado, por décadas”, afirmou.
Pesquisador da área ambiental há mais de 40 anos, Nobre formulou a hipótese de “savanização” da Amazônia, por causa do avanço rápido do desmatamento. No IEA, o pesquisador desenvolve o projeto Amazônia 4.0, que busca a construção de fábricas portáteis e altamente tecnológicas para aprimorar as cadeias produtivas na região de forma sustentável, tanto para a floresta, quanto para as comunidades locais. Confira aqui a lista completa./ COM INFORMAÇÕES DO JORNAL DA USP