Carolina Moura, de 17 anos, é a única mulher brasileira que já participou da Olimpíada Internacional de Informática – esteve nas edições de 2020 e 2021 (e ganhou medalha de bronze em ambas).
Desde 1999, o país organiza processos seletivos internos e, com base no desempenho dos inscritos, envia quatro estudantes para a competição mundial. Com exceção de Carol, todos os convocados até hoje eram homens.
Neste ano, já formada no ensino médio, a estudante teve uma nova conquista: conseguiu uma vaga no disputadíssimo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, universidade considerada a melhor do mundo pelo ranking “Times Higher Education”. Entre professores e alunos que fizeram ou ainda fazem parte da instituição, 98 já ganharam o prêmio Nobel.
“Ouvi muito, até chegar aqui, que sou batalhadora, porque fui contra a minha natureza e quis estudar exatas. É um machismo sutil. Em grupos [com homens], sinto que sempre preciso provar mais meu valor”, afirma.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), idealizadora da primeira edição da Olimpíada Internacional de Informática, admite que “há um número pouco significativo de mulheres nas carreiras de exatas”.
São três aspectos que afastam as estudantes das áreas de ciências e tecnologias, segundo Fábio Eon, coordenador de Ciências Humanas e Sociais e Ciências Naturais da Unesco no Brasil:
- falta de estímulo na infância;
- ausência de uma mentoria adequada (como a de professores incentivando que meninas estudem matemática e física);
- reforço do estereótipo de que cientistas são sempre homens;
- pouca divulgação de trabalhos importantes desenvolvidos por mulheres.
“Como técnico das equipes de programação da Unicamp [organizadora dos processos seletivos nacionais], para mim, está muito claro que as mulheres, em igualdade de condições, são tão competentes quanto os homens na solução de problemas matemáticos e computacionais”, afirma o professor Fábio Usberti.
“A melhor forma de combatermos a falta de diversidade de gênero nas profissões e competições de informática é investir na inserção das meninas em informática e robótica, desde o ensino básico.”
Seguindo o mesmo raciocínio, Carolina tenta combater a ideia de que matemática e computação são “coisas de menino”: ela participa de um projeto social que busca incentivar a participação de outras jovens em olimpíadas.
“Preparo um material para ensinar a base da programação para elas. Já conseguimos resultados muito legais, como o de uma aluna que foi para a Olimpíada Europeia de Informática e ganhou uma medalha de prata”, diz.
Como ela foi parar no MIT?
“Nem sabia que algum brasileiro poderia passar no MIT“, conta Carolina.
Ela só descobriu que havia essa possibilidade quando, saindo de Itu, no interior de São Paulo, para morar na capital paulista, passou a estudar em uma instituição de ensino com preparação específica para olimpíadas (Colégio Etapa).
“Mudei para lá porque não dava mais para aprender tudo sozinha. Ser autodidata vai só até certo ponto”, brinca.
Colecionando medalhas, ela começou a cogitar fazer faculdade fora do Brasil. Prestou o SAT (uma versão americana do Enem, em linhas gerais), fez o teste de proficiência em inglês, apresentou cartas de recomendação de seus professores e escreveu, só na seleção para o MIT, seis redações (sobre temas como “como você trouxe impactos positivos para a sua comunidade?” e “descreva sua cultura”).
No total, foram 30 textos, contando os enviados para as universidades de Princeton, Stanford e Columbia (nas quais ela acabou não sendo aprovada).
Entre todas as opções de Carolina, a prioritária sempre foi o MIT. Agora, ela busca instituições aqui no Brasil que a ajudem a arcar com os custos da instituição americana.
O valor varia de acordo com o perfil do aluno — em geral, a universidade analisa as condições financeiras do candidato e cobra um preço que abarque tanto as aulas quanto os gastos com moradia e saúde.