O que é o Building Information Modelling (BIM) e qual a sua importância atual e futura para a construção? Este é um setor de atividade que não parou com a pandemia, tendo dado sinais de estar resiliente. Continua a haver, no entanto, desafios, nomeadamente os elevados custos de construção. É neste contexto que importa falar sobre a tecnologia e/ou metodologia BIM. Que vantagens tem? Para que é usada e como? Em que produtos e/ou materiais? Já está a ser implementada em Portugal? Procuramos responder a estas e outras questões com a ajuda de especialistas.
“BIM é um conjunto de processos e metodologias para gerar e gerir dados que ilustram o processo completo de um edifício, ou obra de engenharia civil, ao longo do seu ciclo de vida, desde o planeamento até à demolição, utilizando um modelo digital partilhado entre os diferentes atores que intervêm na cadeia de valor do projeto”, começa por explicar Joaquín Abellán, diretor da divisão de BIM da Saxun, marca da Giménez Ganga, neste artigo preparado para o idealista/news.
Para que é usado o BIM?
Esta tecnologia é utilizada na conceção de novos projetos de edificação e obras, tornando-se uma ferramenta para:
- Criar a modelação 3D do edifício, cálculos técnicos, cálculos energéticos, execução de planos, medições e orçamento na fase de prescrição do projeto;
- Controlo da execução, custos e certificações na fase de construção do edifício;
- Controlo na fase de manutenção.
O processo BIM divide-se em sete fases:
- Planeamento do projeto;
- Conceção;
- Análise do projeto;
- Programação e custos;
- Construção;
- Operação e manutenção;
- Demolição e renovação.
É uma metodologia que fornece toda a informação do projeto em tempo real a todas as entidades envolvidas e em cada fase do processo. Os softwares mais utilizados para trabalhar em BIM são o Revit e Archicad.
Que vantagens tem o BIM?
O sistema BIM presenta inúmeras vantagens, incluindo o facto de, por ser um processo de colaboração em que todos os agentes envolvidos – arquitetos, engenheiros, construtores, entre outros – trabalham no mesmo modelo, permitir um controlo em tempo real de todas as fases do edifício: conceção, execução da obra, logística, custos, prazos, etc. Um processo, portanto, que minimiza os erros que levam à derrapagem dos custos de construção.
A adoção da metodologia BIM está a crescer tão rapidamente porque, para a criação de um projeto, os agentes de prescrição são alimentados por amplas gamas de produtos, componentes da obra ou mobiliário fornecidos pelos respetivos fabricantes, pelo que dispõem de uma vasta biblioteca de modelação BIM 3D onde podem procurar os componentes de que necessitam na sua criação, explica o especialista.
Tecnologia de realidade virtual e menos erros
O projeto é elaborado com sistemas e produtos reais que aportam toda a informação necessária, o que gera um processo de criação rápido, facilita os cálculos essenciais para a elaboração de estruturas e instalações, bem como o cálculo energético do edifício. O nível de detalhe é elevado, sendo possível navegar no interior do projeto com tecnologia de realidade virtual.
O BIM aumenta significativamente a produtividade dos projetos. Com a implementação do sistema, os erros são minimizados, a coordenação entre as diferentes fases do projeto é melhorada e os custos decorrentes de acontecimentos imprevistos são reduzidos.
“Para uma empresa que fabrica produtos de construção e queira começar a utilizar BIM as vantagens são muito significativas. O facto de o fabricante do produto poder oferecer os seus modelos diretamente ao prescritor do projeto é uma ferramenta comercial muito poderosa, porque aumenta a possibilidade de os seus produtos serem instalados no projeto. Por outro lado, o desenvolvimento de produtos em tecnologia BIM implica recursos humanos qualificados, internos ou exteriores à empresa, o que constitui um custo adicional que nem todas as empresas poderão acompanhar”, comenta.
Joaquín Abellán adianta, ainda, que a implementação BIM no processo de produção de uma empresa tem de ser mais um ponto no dossier de conceção de cada produto. A modelização correta do BIM com toda a informação necessária para a prescrição é um grande fator de diferenciação do produto face à concorrência, o que se torna uma grande vantagem para o desenvolvimento da modelização, a partir desta fase, clarifica.
Onde é mais usada a tecnologia BIM?
Os setores e empresas que mais frequentemente utilizam BIM são os fabricantes de mobiliário, janelas, pavimentos, instalações elétricas, instalações de abastecimento e escoamento, isolamento térmico e climatização. São principalmente os fabricantes de instalações, isolamentos e sistemas de proteção térmica e solar que estão mais interessados na tecnologia BIM, pois a sua contribuição para esta tecnologia facilita os cálculos energéticos do edifício.
Para a implementação definitiva do sistema BIM, o desenvolvimento de catálogos adequados pelos fabricantes é de importância crucial. Geralmente, os fabricantes não estão conscientes deste aspeto. São sobretudo as grandes marcas que estão mais avançadas neste processo, tal como a Saxun, que está a investir intensamente no desenvolvimento de produtos já em sistema BIM.
As normas europeias sobre contratação de obras públicas, que já incentivam o recurso a meios tecnológicos para projetos construtivos, irão estimular a adoção do sistema BIM por parte dos prescritores de grandes projetos e, com o tempo, a sua utilização tornar-se-á mais generalizada também por parte dos pequenos promotores, tendo em conta os benefícios que o programa proporciona nos cálculos energéticos necessários para a obtenção de edifícios NZEB (Nearly Zero energy Buildings), o que já é exigido pelos regulamentos.
O BIM em Portugal: ponto da situação
Em Portugal e Espanha, a implementação deste sistema nos gabinetes de arquitetura é lenta, apesar das vantagens disponibilizadas pela tecnologia BIM. Fatores como o impulso das novas gerações de técnicos que estão a chegar ao mercado de trabalho, a implementação de bibliotecas de produtos dos fabricantes, as exigências dos clientes particulares na conceção dos seus projetos, bem como a exigência da sua utilização em concursos públicos, irão acelerar o processo de modernização das empresas de arquitetura em direção à tecnologia BIM.
“Para alcançar um patamar elevado de implementação do BIM, e para se chegar ao nível já verificado nos EUA ou na maior parte da UE, precisamos de ser mais sustentáveis. Um dos principais fatores que a tecnologia BIM nos fornece é o cálculo do consumo energético do edifício, e nem Portugal nem Espanha estão suficientemente avançados nesta área (…)”
Joaquín Abellán
“Para alcançar um patamar elevado de implementação do BIM, e para se chegar ao nível já verificado nos EUA ou na maior parte da UE, precisamos de ser mais sustentáveis. Um dos principais fatores que a tecnologia BIM nos fornece é o cálculo do consumo energético do edifício, e nem Portugal nem Espanha estão suficientemente avançados nesta área, em parte, porque temos um clima ameno. Nos países do norte da Europa, onde o conforto das casas envolve um gasto significativo em sistemas de aquecimento, a poupança de energia na habitação assume um papel determinante desde a fase de conceção do edifício, e o estudo energético é de importância vital. Com a metodologia BIM, a obtenção destes dados é básica”, explica o responsável.
“O conselho mais prático e valioso que gostaria de ter recebido, e que por isso dou sempre a alguém que não está familiarizado com o sistema BIM, é que a modelação BIM tem de ser totalmente fiel à realidade do produto e fornecer todas as informações necessárias para poder identificá-lo. Uma modelação imprecisa diminui o valor do produto e torna-se ineficiente”, conclui Joaquín Abellán.